Entre a vida e a morte, personagem deixa convite para debate

Suicídio é tema de peça e bate-papos gratuitos que celebram os 15 anos do grupo Toca

  • Foto do(a) author(a) Laura Fernades
  • Laura Fernades

Publicado em 9 de março de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Matias Deodato queria tirar a própria vida, então teve a ideia de fazer uma live de despedida daquele que teoricamente seria seu último dia. “Qual é o sentido da vida? O que é morte? O que é felicidade?” questiona o personagem principal da peça Última Live, adaptação da obra O Último Capítulo de Machado de Assis (1839-1908) que celebra os 15 anos do premiado grupo Toca. A temporada virtual acontece às quartas-feiras de março, às 20h, pelo YouTube.

Depois do espetáculo que tem o suicídio como mote, o público acompanha uma série de bate-papos com psicoterapeutas que vão abordar temas como ciberbullying, juventude, luto e perspectivas em tempo de crise. “O Toca está interessado nesse lugar de falar coisas fortes da nossa vida, mas quando joga no palco faz com outra roupagem, de maneira poética”, destaca Danilo Cairo, 33 anos, ator e idealizador do Toca.

O Último Capítulo foi o primeiro conto que Danilo leu no ensino médio, durante uma aula de literatura. “Olha, isso dá um espetáculo!”, pensou à época. Com 15 anos de idade, fez a primeira adaptação do texto e guardou para, anos depois, montar o espetáculo em comemoração aos seus 15 anos de carreira. Agora, no aniversário de 15 anos do grupo Toca, Danilo cria uma versão contemporânea do texto.

Na primeira montagem, feita ainda de forma presencial, o público era o convidado de honra de Matias. Na transposição para o audiovisual, a câmera atua como o olhar atento do espectador enquanto o personagem faz uma live dentro da casa onde foi criado pela família, na tentativa de espetacularizar seu último dia de vida. A Casa Preta é quem recebe o ator Danilo Cairo que, durante a peça, vai percorrendo os cômodos do espaço de cultura.

“Matias vai interpretando os personagens da própria família, vai contado sua própria história e fazendo questionamentos sobre o sentido da vida”, explica o ator. “Acho que nesses últimos anos a gente veio dialogando com questões que têm atravessado todos nós. Sempre com uma perspectiva mais positiva, com beleza, poesia, encantamento. Diante do que estamos vivendo, é como se esses questionamentos trouxessem ainda mais força”, resume.

O suicídio é o tema condutor da história, mas Danilo ressalta que a peça vai além e mostra “uma grande história de vida e de pessoas que o protagonista não consegue enxergar”. “Quero que o público veja esse personagem e diga para ele e para si a história incrível que tem. É a minha maneira de contribuir – com a arte – com esse problema sério e silencioso. Quanto mais conversarmos abertamente, mais teremos retornos positivos”, afirma.

Persistência A atividade de formação é uma das marcas do Toca ao longo desses 15 anos e “esse lado formativo abre uma janela para o campo da memória do teatro”, destaca o dramaturgo e professor Luiz Marfuz, 66, responsável pela direção do espetáculo de formatura do grupo. A peça Atire a Primeira Pedra (2008) recebeu quatro indicações ao Prêmio Braskem de Teatro.

O Toca, que começou em uma turma de 20 alunos da Escola de Teatro da Ufba, também foi premiado por Bululu - Histórias da Invenção do Mundo (2016), peça com texto e direção de Moncho Rodriguez que levou as categorias melhor ator e melhor espetáculo adulto. Por Narcissus (2017), dirigido por Carmen Paternostro, foi indicado ao Prêmio Braskem na categoria melhor ator.

A força do grupo que começou como Toca de Teatro e hoje assina apenas ‘Toca’ está, na opinião de Marfuz, “na persistência e na resistência de continuidade, apesar de todas as adversidades”. “E na escolha de um caminho de pesquisa e experimentação da linguagem cênica, no fato de não se permitir escolhas fáceis, mas ousadas e inventivas”, elogia, sobre o grupo que também “tem uma atenção para o registro, para a memória”.

Danilo conta que a trajetória do Toca é, de fato, marcada pela resistência e conta que sempre lembra de uma fala de Fernanda Montenegro: “Todo artista precisa perseverar”. “Desistir nunca passou por minha mente, porque sempre acreditei na perseverança. Independente da violência que estamos vivendo, a gente vai encontrar uma maneira de responder e permanecer com a obra viva. O sentido da arte é e tem que ser mais forte”, afirma.

Serviço O quê: A Última Live - Espetáculo teatral + bate-papos temáticos sobre saúde mental Quando: 10, 17, 24 e 31 de março, às 20h Onde: YouTube (Canal Toca Criações Artísticas) Gratuito 

Programação

Dia 10 - Ana Lucena de Sá aborda os desafios contemporâneos nas relações pessoais e Alessandro Marimpietri fala sobre Perspectivas em Tempo de Crise

Dia 17 - Avimar Júnior debate o (Cyber)bullying e Maria José Carballal fala sobre tolerância

Dia 24 - Luana Lima conversa sobre juventude e "mal estar na atualidade” e Rocha Júnior sobre as relações inter e intrapessoais

Dia 31 - Tita Matos fala sobre luto e família e Carlos Linhares conversa sobre finitude e eternidade