'Era menino pobre e virou profissional brilhante', diz pai de ex-assessor morto

Michel foi adotado aos 15 anos; no dia que foi morto, saiu de shopping dirigindo

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  • Tailane Muniz

Publicado em 21 de agosto de 2018 às 04:00

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Ex-vereador, Arnando Lessa adotou Michel quando o rapaz tinha 15 anos (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Torturado e morto na quinta-feira (16), após negociar um carro na internet, o ex-assessor parlamentar Michel Batista Santana de Sá, 35 anos, tinha uma vida financeira equilibrada. Conforme o pai adotivo da vítima, o suplente de vereador Arnando Lessa, no entanto, o filho já foi um menino pobre que morou no bairro da Santa Mônica, periferia de Salvador, até os 15 anos."Era um menino muito pobre, mas esforçado, que virou um profissional brilhante. Morou na periferia boa parte da vida, eu adotei ele. Teve boas oportunidades e aproveitou todas elas. Infelizmente, foi brutalmente assassinado", contou ao CORREIO.A revelação foi feita na tarde desta segunda-feira (20), enquanto Lessa aguardava o assassino confesso do filho se apresentar na sede da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV), mas isso não aconteceu. 

Segundo a polícia, Gabriel Bispo dos Santos, 22, é o principal suspeito de torturar e matar Michel, além de roubar o carro e realizar compras com os cartões de crédito da vítima, na quinta, após negociação no Salvador Shopping, de onde saiu dirigindo por volta de 20h. Foi morto cerca de uma hora depois (saiba mais abaixo).

O corpo foi encontrado na manhã de sexta-feira (17), nos fundos do Shopping Paralela, e o carro foi achado no estacionamento do Shopping Bela Vista.

O Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) ordenou, no sábado, a prisão tanto de Gabriel, quanto de um comparsa. Trata-se de  Luciano Pinho da Silva, 36, que também estaria envolvido no assassinato. Michel foi morto com seis tiros.

Conforme o próprio advogado de Gabriel, Udson Dantas, o cliente roubou e matou. "Ele agrediu e matou Michel. Acredito que, ao notar que sofreu um golpe de uma terceira pessoa, no calor da emoção, ele acabou matando", afirmou à reportagem, sem explicar detalhes do crime ou a origem da arma.

Adoção e ascensão  Arnando Lessa contou que Michel foi adotado ainda adolescente, mas que sempre conviveu bem com essa questão. "Ele era um rapaz muito esforçado e tranquilo. Construiu uma carreira linda, tudo graça aos próprios esforços", comentou.

Segundo o pai, Michel começou no meio político como seu assessor-chefe de gabinete, mas atuou um tempo como diretor da TV Câmara, emissora que cobre os eventos da Câmara Municipal de Salvador.

O ex-assessor parlamentar também trabalhou na TV Assembleia, responsável pela cobertura da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), e atualmente trabalhava como assessor na diretoria da Companhia de Processamento de Dados da Bahia (Prodeb).  Michel foi torturado e morto (Foto: Reprodução) "Ele formou em Adminstração, fez pós-graduação, doutorado e foi estudar fora do Brasil. Morou na Europa, uma pessoa que batalhou muito e se tornou bem sucedido. Ele trilhou um caminho lindo de ascenção dentro e fora da política. Porque não era jornalista, mas também nesse meio fez história e chegou a ser homenageado", conta o pai, sem disfarçar o orgulho.

Atualmente, Michel morava no bairro Jardim Armação com a esposa e o filho de dez meses."Ele amava tanto a família. A coisa que mais gostava de fazer era chegar de noite, do trabalho, e brincar com o neném dele. É muito, muito triste", lamentou.Roubo, tortura e morte Emocionado, Arnando Lessa disse que só queria entender o porquê do filho ter sido morto sem motivo aparente. Para o pai, Michel confiou em Gabriel a ponto de transferir o carro com antecedência. "Quando ele me contou da transferência, falei para ele que não tinha problema, já que o carro estava com ele. Era só fazer uma segunda via do documento", mencionou.

"Eles não só roubaram, eles estragaram o rosto do menino. Ele morreu amarrado, deve ter sofrido muito. Estava deformado. Tinha ferimentos no pescoço, pernas e tinha muitos hematomas nos testículos", lembrou o pai da vítima, acrescentando que Gabriel comprou dois iPhones e fez compras em um supermercado.

"Os celulares foram comprados na mesma noite da negociação do carro, no próprio shopping. As compras foram feitas em um mercado da Paralela, na manhã seguinte. Ele matou meu filho e eu quero olhar na cara de Gabriel", desabafou o suplente de vereador.  Michel, o deputado Marcelo Nilo e Arnando Lessa (Foto: Reprodução) Para Lessa, o filho foi torturado dentro do estacionamento do shopping por outras pessoas, enquanto Gabriel realizava compras em cartão que, conforme o pai da vítima, continua desbloqueado. "Nós não bloqueamos nenhum deles. Um dos cartões é sem limites, um cartão internacional, mas recebemos todas as compras por e-mail, como aconteceu na noite do desaparecimento, quando compraram os celulares", explicou ele, que viu as últimas imagens do filho.

Saiu de shopping dirigindo Segundo o ex-vereador, as imagens do circuito interno de câmeras do centro de compras mostram o momento em que Michel sai do local, por volta de 20h, dirigindo o próprio carro. O pai da vítima acrescentou que não dá para ver se tem uma terceira pessoa, além de Gabriel, acompanhando o ex-assessor.

O corpo de Michel foi sepultado na manhã de sábado (18), no cemitério Jardim da Saudade, no bairro de Brotas. A Capela D ficou lotada de amigos, familiares e parlamentares – entre eles, os deputados Marcelo Nilo (PSB) e Nestor Duarte (PSB).