'Era o primeiro dia de trabalho', diz mulher de ciclista morto atropelado

João Evangelista Alves dos Santos, 67 anos, morreu na hora na Avenida Luis Eduardo Magalhães

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  • Nilson Marinho

Publicado em 24 de julho de 2018 às 13:19

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

O pedreiro João Evangelista Alves dos Santos, 67 anos, já não fazia mais nada a pé ou de ônibus, preferia estar ao lado da sua bicicleta. Nesta terça-feira (24), quando morreu atropelado na Avenida Luis Eduardo Magalhães, por volta das 7h, nas imediações do viatudo de acesso à Avenida Paralela, voltava com sua caixa de ferramentas para começar um novo serviço. Até maio deste ano, foram registrados pela Transalvador 43 acidentes com ciclistas - dois morreram.

Embora fosse aposentado, Evangelista, de acordo com familiares, estava sempre ocupado fazendo bicos como pedreiro. Nesta terça, ele saiu de casa, na Travessa São João, em Pernambués, por volta das 6h, para buscar uma caixa de ferramentas no bairro do Alto do Cabrito. Ele já estava acostumado a percorrer longas distâncias, já que fazia parte de um grupo de ciclistas - neste caso, 26 quilômetros para ir e voltar. 

Trajeto Antes de sair, o pedreiro prometeu voltar para casa para tomar café com a esposa. Também prometeu chegar a tempo para uma caminhada, como costumava fazer ao lado da companheira, mas acabou desistindo da ideia. Ele estava retornando quando o acidente aconteceu.

"Ele escovou os dentes, me olhou e pediu para que eu preparasse o café. É uma dor que eu não consigo explicar. Ele era um ótimo profissional, você precisava ver cada casa linda que ele construía", lembra a dona de casa Laurinda dos Santos, 50.

Já nas proximidades do viatudo de acesso à Avenida Paralela, um veículo branco acabou colidindo com sua bicicleta. Evangelista morreu no local e seu corpo foi retirado da pista por volta das 9h30 por peritos do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR). De acordo com familiares, o condutor do carro não parou para prestar socorro à vítima e fugiu do local. O ciclista estava de capacete e sua bicicleta tinha sinalização.  Bicicleta e capacete utilizados pelo pedreiro João Evangelista (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Um vizinho que fazia uma corrida próximo do local do acidente foi quem reconheceu o corpo do pedreiro. Ele foi o responsável por avisar à família. "Ele corria aqui perto quando passou e reconheceu a biclicleta. Evangelista era um homem bom que gostava muito de biclicleta", conta a estudante Jeane Aguiar, 32, vizinha da vítima.  

Velocidade De acordo com Fabrizzio Muller, superintendente de Trânsito de Salvador, a velocidade permitida em toda a via é de 80 km/h, mas, no local onde aconteceu a batida, os motoristas precisam trafegar a 40 km/h. O último acidente fatal registrado pelo órgão no trecho, envolvendo carro e ciclista, foi em 2013.  A Transalvador registrou, de 2013 até maio deste ano, 654 acidentes envolvendo ciclistas na cidade - 16 morreram. 

Uma câmera de segurança da Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA), afirma Muller, conseguiu gravar o momento do acidente. Pessoas que passavam no momento da batida anotaram o número da placa do carro.  "Como em qualquer via, ali exige tanto do condutor do carro, quanto do ciclista, uma atenção maior. A nossa recomendação é que os carros se mantenham distantes das biclicletas 1,5 m, como diz o Cógido de Trânsito. Já os cliclistas precisam trafegar, na ausência de uma ciclovia, sempre próximo a borda da pista, no acostamento. Lembrando que a prioridade é sempre do menor: os cliclistas precisam respeitar os pedestres e veículos os ciclistas", explica o superintendente. Ainda de acordo com ele, já havia uma estudo para a implantanção de uma ciclovia ao longo da Avenida Luís Eduardo Magalhães, uma vez que o órgão reparou que, durante todo o trecho, há uma presença grande de ciclista. Para a construção da ciclovia seria necessário uma análise de trafégo para diminuir a velocidade permitida. Transalvador avalia implantar ciclofaixa onde pedreiro de 67 anos foi atropelado (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) O motorista envolvido no acidente que vitimou Evangelista, segundo o superintendente, não deve sofrer com sanções de trânsito já que nenhum agente do órgão ou radar de velicidade foram capazes de registrar o momento da batida. Ele deve ser punido apenas pela parte criminal. "Só um laudo da perícia pode dizer que o condutor estava acima da velocidade, mas o que sabemos é que alguns agentes verificaram marcas de freios na pista", afirma.  

Investigação  A Polícia Civil identificou o nome do proprietário do carro que não seria a mesma pessoa que dirigia o veículo na hora do acidente. Ainda segundo a polícia, o condutor se apresentará na manhã desta quarta-feira (25), com o advogado. A identidade não foi revelada.

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier