'Era um jovem trabalhador', diz irmã de entregador morto no Pelourinho 

Rapaz de 25 anos foi morto ao sair de ensaio da Banda Olodum

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  • Tailane Muniz

Publicado em 12 de agosto de 2019 às 15:12

- Atualizado há um ano

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Fã do grupo afro Olodum, o entregador Bruno Farias Conceição, 25 anos, saiu de casa, no bairro de São Rafael, em Salvador, neste domingo (11), para o que seria só mais um ensaio da banda de percussão, na Praça Tereza Batista, no Pelourinho. Último da temporada, o show, que começou pontualmente às 17h e terminou uma hora e meia depois, foi o último da vida de Bruno, assassinado a tiros minutos depois de deixar o evento.

Solteiro e sem filhos, Bruno costumava ir às festas, especialmente apresentações do Olodum, acompanhados de uma das três irmãs. Neste domingo, não foi diferente. O jovem, que trabalhava como entregador para um aplicativo de alimentos, caiu ferido sob olhar de desespero de uma delas. Baleado na cabeça, pelo menos duas vezes, ele morreu ali mesmo.

Visivelmente abalada, a irmã mais velha da vítima conversou com a reportagem na manhã desta segunda-feira (12), quando esteve no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR) para liberar o corpo do entregador, a quem se refere como um "um homem bom, trabalhador". 

Sem entender, até o momento, o que motivou a ação dos bandidos, a jovem, que preferiu não se identificar, contou as poucas lembranças que guarda do momento do ataque, e afirmou que vai "até o fim" para tentar desvendar as circunstâncias do assassinato que "destruiu a família".  Os dois se aproximavam da moto do rapaz - usada também para fazer corridas de mototáxi - quando os atiradores chegaram. Entregador caiu morto em um dos principais acessos do Pelourinho (Foto: Tailane Muniz/CORREIO) "Foi muito rápido, não lembro muita coisa, mas eu segurei a mão dele, eu pedi para ele não morrer, porque ele não merecia isso, era moço do bem, trabalhador, que nunca cometeu crime nenhum", se limitou a dizer, aos prantos, amparada por outra irmã. 

'Talvez tenha sido por mulher' Depois de receber uma ligação de uma das delegadas do DHPP, a quem suplicou a resolução do caso, uma das irmãs de Bruno disse que o irmão não era envolvido com o tráfico de drogas, mas que pode ter sido morto "por causa de mulher"."Ele era muito bonito, chamava atenção, se cuidava demais. Então eu não sei, pode ter sido, mas também pode ter sido um engano. O que sabemos é que bandido ele não era, nunca foi. Estamos destruídos, nossos pais estão arrasados, eu não sei o que fazer", disse a jovem, ouvida na DH logo após o crime. Lado a lado, as duas se esforçaram para garantir à reportagem que, depois do enterro - às 16h, no Cemitério Quinta dos Lázaros -, uma única coisa pode confortar aqueles corações: saber quem matou o caçula.

Por ora, sequer a polícia tem pistas da autoria e motivação. Em nota, a Polícia Civil disse apenas que o homicídio é investigado pela Delegacia de Homicídios Bahia de Todos os Santos (DH/BTS).

A pasta informou que as testemunhas deverão ser intimadas a comparecer ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para prestar depoimentos nos próximos dias.  'Até o policial correu' Na manhã desta segunda-feira (12), quando esteve no local, a reportagem já não encontrou vestígios do crime - que, segundo testemunhas, aconteceu num espaço de tempo de dois minutos. Morador da região há 30 anos, o aposentado Raimundo Nonato Farias, 59, relatou o que viu e ouviu.

"O rapaz era conhecido nosso, andava muito aqui. Vi ele passando com os amigos, e os caras chegando, depois disso foi só tiro, muitos tiros”, lembra ele, ao comentar que a vítima morava na Saúde, localidade do bairro de Nazaré. Os atiradores, segundo ele, sequer desceram da moto ou tiraram o capacete. “Pelo mesmo local que chegaram, saíram”.

O aposentado, que costuma “olhar o movimento”, especialmente em dias de festas no Largo, disse que quem estava ali, tentou fugir: “Foi um desespero triste, os amigos dele saíram também. Até o policial que estava sozinho no módulo correu. Quem fica?”, indaga ele, ao informar outros detalhes do momento do homicídio.

Procurada, a Polícia Militar informou que “após constatar a ocorrência, realizou o isolamento da área e solicitou os agentes do Departamento de Polícia Técnica (DPT) para remoção”. A corporação acrescentou que realizou rondas na região, mas não encontrou suspeitos. 

O CORREIO encontrou pelo menos seis PMs nas imediações da cena do crime, nesta segunda, mas eles optaram por não falar. A presença dos militares em número - e fora do módulo -, reiteram os moradores, não é comum. “Estão aí, assim, porque teve o caso ontem. Mas pode chegar aqui em outro momento e vai encontrar eles distraídos”. 

Policiamento Em nota, a PM informou que o policiamento na região do Centro Histórico/ Baixa dos Sapateiros é realizado “diurnamente” pelo 18º Batalhão de Polícia Militar (BPM/Centro Histórico), que emprega “entre outras ações viaturas do policiamento ordinário, motopatrulhamento e guarnições do Pelotão de Emprego Operacional Tático (Peto), realizando abordagens e rondas na região”. 

A corporação acrescentou que a unidade conta, ainda, com o policiamento ostensivo a pé, realizado por policiais militares do Batalhão Especializado de Polícia Turística (Beptur), da Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT) Rondesp BTS e uma Base Móvel de Segurança, localizada no Tabuão, com presença de duplas de PMs - onde Bruno foi morto.

“A Corporação orienta a comunidade, que ao observar suspeitos ou ações delituosas na região, pode ligar para o 190 ou o disque denúncia (3235-0000) e informar situações adversas. Também é importante que registre a queixa na delegacia da área, pois o policiamento é estabelecido de acordo com a mancha criminal”, conclui o documento.