Érico Brás assume papel de Grande Otelo na Escolinha do Professor Raimundo

Em ótimo momento da carreira, ator baiano interpretará Seu Eustáquio e falou sobre racismo e ativismo

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  • Da Redação

Publicado em 25 de novembro de 2018 às 05:29

- Atualizado há um ano

. Crédito: João Cotta/TV Globo

Artista versátil, e também um nome de destaque na luta pela igualdade social, o baiano Érico Brás, 39 anos, foi reconhecido com um prêmio internacional, entregue em setembro em Nova York. Ele integra agora a lista dos 100 Negros Mais Influentes do Mundo pelo Mipad (Most Influential People of African Descent), junto com nomes como Chadwick Boseman (Pantera Negra), Meghan Markle (duquesa), Donald Glover (rapper) e Nbaba Mandela (neto de Nelson Mandela).

Feliz pelo momento que está vivendo, o ator também comemora sua entrada na nova temporada da Escolinha do Professor Raimundo, que estreia hoje e não só por estar nesse time, mas por poder interpretar o Seu Eustáquio, personagem já vivido por Grande Otelo. (Foto: João Cotta/TV Globo) “Quando Cininha de Paula me chamou para fazer esse personagem, fiquei muito emocionado”, conta o ator, ressaltando que essa é mais um reconhecimento do seu trabalho enquanto ator e também no quesito representatividade. “A gente está vivendo um momento diferente em relação aos avanços dos negros. Ao mesmo tempo, ‘Escolinha’ está na infância de muita gente. Quando Chico Anysio a criou, ela virou um fenômeno. Lembro que adorava ver o Grande Otelo fazer ‘aqui’. Além de um desafio, é um momento de coroação da minha carreira”, completa. 

Para fazer o personagem, Érico diz que procurou se manter o mais fiel possível ao que já foi feito. "Fiz com grande prazer e respeito. É um grande prazer fazer parte desse grupo da TV brasileira que está revivendo esses personagems com muito cuidado e responsabilidade. Nasci no final dos anos 70 e tinha pouca gente negra na comédia brasileira. Então, sempre que for preciso vou nessa fonte beber. Grande Otelo foi percussor da comédia negra", explica.

Talento múltiplo Logo cedo, quando ainda morava no bairro do Curuzu, em Salvador, Érico mostrou que tem um lado forte para as artes, para o humor. Foi em 2008 que ele surgiu nas telas dos cinemas ao lado de Lázaro Ramos em Ó Paí, Ó, fazendo o personagem Reginaldo, papel que repetiu na TV em 2009 e que retornará em 2019 em uma sequência do longa que será ambientado no 2 de fevereiro. Reginaldo continuará com Yolanda na sequência do filme Outro papel que marcou sua carreira é o de Jurandir, de Tapas & Beijos (Foto: João Miguel Júnior/TV Globo) Atualmente, o espectador se diverte com a participação do ator no humorístico Zorra. “Esse Zorra é diferente da versão anterior, tem um humor inteligente, renovado, e sabemos muito bem que a comédia ajuda a refletir sobre os mais diversos assuntos, e os atuais não podem passar despercebido na TV. Com o humor, a gente ajuda a refletir sobre essas questões”. Atualmente, Érico Brás participa do humorístico Zorra Érico também está em cartaz, no Rio de Janeiro, com o musical O Frenético Dancin’ Days, ainda sem previsão de vir para Salvador. "Fui convidado por Deborah Colker e Nelson Motta para fazer um personagem especial, o DJ Dom Pepe, que foi amigo de Nelson, com quem fundou a boate Frenetic Dancing Days, que unia empregados e patrões no mesmo local", explica. "O espetáculo proporciona uma viagem no tempo, e a gente se diverte muito no palco, como o público também se diverte na plateia", completa.

Agora, será que falta algo ainda na carreira dele? "Eu tenho um sonho muito grande, o de ser apresentador de programa, pois há poucos negros nessa área, e eu sei que tenho jeito para isso. Se surgir uma oportunidade, agarro com certeza", revela.

Ativismo e preconceito Mesmo com tantas realizações na arte, o baiano mostra que seu lado de ativista fala muito alto: “A gente precisa entender que o Brasil é racismo. Por isso, precisamos educar, lutar e criar políticas públicas para  conseguir de volta esse espaço que nos é de direito”.

Ele está sempre ligado e busca contribuir para resolver os problemas sociais, tanto que foi nomeado conselheiro no Fundo de Populações das Nações Unidas. "Quando chegou essa coroação em NY, junto com minha esposa Kenia Maria, a gente ficou feliz, mas com a sensação de que ainda temos muito trabalhao a fazer. Precisamos dar continuidade a isso e avançar nos discursos, propondo novas saídas", afirma Érico.

Ele considera que a questão racial não é só um problema do negro:"O negro não criou o racismo. Foi o branco. A gente precisa rever história e rever a política do país. Isso é uma das coisas que me dá um gás. A gente precisa entender que o Brasil é racismo. Nosso país nasceu trazendo negros africanos e escravizando-os. As pessoas que são ricas vivem a consequências desse processo. As vantagens que as pessoas têm hoje são fruto dessa exploração", pontua.O baiano acredita que a arte propõe um pensamento e um novo olhar sobre essa questao: "Não é possível fazer arte sem colocar negro. Hoje, com a necessidade da inclusão, é uma vitória colocar esse personagem de novo na 'Escolinha". (Foto: Estevam Avellar/TV Globo) Érico tem ciência que sua atuação nas mídias ajuda a aumentar a abrangência dessas ideias. "Sabemos que a ausência do negro e a falta de representatividade das classes sociais mais baixas são muito grandes. Nossa luta é pedir, exigir que o setor de comunicação insira mais mulheres, negros, jovens", diz. 

Domingos, às 12h, na Globo/TV Bahia