Érico Brás: 'Fiz 40 anos, e estou onde quero estar nesse momento'

Ator baiano estreia no comando do Se Joga, ao lado de Fernanda Gentil e Fabiana Karla

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  • Da Redação

Publicado em 25 de setembro de 2019 às 05:50

- Atualizado há um ano

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Érico Brás fez teatro de rua, e trabalhou em diversas profissões até se juntar ao Bando de Teatro Olodum, em 1999, e fazer da arte seu sustento. Nascido no Curuzu e criado em Fazenda Coutos, saiu de Salvador com destino ao Rio de Janeiro para pôr em prática seus muitos planos de carreira. De lá para cá, atuou em séries de TV e programas de humor, estrelou filmes no cinema, e agora se prepara para um novo desafio: o de ser apresentador do Se Joga, programa de entretenimento da Globo, que tem a difícil missão de renovar a cara das tardes da emissora. Em meio à preparação para o novo papel e à adaptação da nova rotina, o ator (é assim que faz questão de ser lembrado) ainda escreve uma coluna no CORREIO semanalmente, interage muito nas redes sociais e prepara dois livros, um relatando histórias vividas por ele, e outro de caráter mais historiográfico que vai desmistificar uma série de preconceitos recorrentes no país. Em entrevista, Érico resume a trajetória em uma frase: “Fiz 40 anos, e estou onde quero estar nesse momento”, comemora.  

Quando surgiu o convite para apresentar o programa? E como você reagiu a ele?  Eu sou apaixonado pela Escandinávia - meu nome Érico é de origem norueguesa -, e eu tinha me programado pra ir para Ecandinávia. Só que no meio do caminho eu encontrei um amigo meu, em São Paulo, que ia para a Nigéria, e eu decidi ir junto. Lá, eu recebi uma ligação do pessoal da Globo pedindo que viesse pra cá. Antecipei minha volta, e aí comecei a testar com Fernanda [Gentil]. Quando recebi o convite, juro pra você, chorei muito - estou até escrevendo sobre isso no livro. Foi muito especial e emocionante estar naquele lugar, de onde eu descendo, e receber essa notícia. Isso foi em junho.

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Como tem sido a preparação desde então? Tem aquela preparação psicológica que você faz por conta própria, então você já joga sua mente pro universo e vai preparando aquilo. Isso é básico! Também tem aquele exercício de observar os apresentadores que já fazem isso a tempos, de Hebe a Fátima. Por fim, teve uma preparação aqui, com as meninas, da gente se encontrar, se entender, criar uma intimidade mínima para começar a jogar junto e dentro do programa. E aí eu fui vendo como é que se formava esse apresentador Érico Brás, que é ator também - e isso eu quero deixar bem claro. Sou um ator-apresentador, ou apresentador-ator, agora mais apresentadornesse momento. Mas a preparação passa muito por isso. A nossa equipe auxilia muito também. O tempo é muito curto! Em relação a outros programas, esse foi feito em tempo recorde, mas tudo com muita cautela, com muito cuidado no que está sendo concebido.

A rotina mudou muito, não? Para mim, essa é uma uma rotina estranha ainda. Eu estou entendendo agora o que é essa rotina meio jornalística, que é muito diferente. Claro que o ator estuda, vai lá, lê o texto, mas o jornalista é uma outra coisa, ele está o tempo inteiro conectado. Ele deita para dormir, mas fica pensando se não está acontecendo algo. Hoje eu já entro nas redes sociais, nos sites, no Gshow, com um outro olhar. É bem diferente. Claro que aí eu ainda estou entendendo como é que eu vou achar um tempo para mim, porque é necessário também, para que eu não tenha de voltar para a terapia [risos].

Você fez terapia? Terapia é necessário, ainda mais no momento em que a gente está vivendo, no momento político. É necessário! Recomendo a todo mundo. Quem puder, faça! E eu descobri isso pelo acúmulo de assuntos e coisas que eu estava processando durante o dia: problemas familiares, minhas relações de amizade, a forma de lidar com o trabalho. Se a gente não leva tudo isso para algum lugar, na tentativa de resolver, a genet atropela tudo. A terapia serve para isso. Claro que lá eu também trabalhei essa ansiedade, que é muito natural em mim, de resolver as coisas logo, de querer tudo pra ontem. Esse processo foi me ajudando a entender essa ansiedade eterna, e depois que acessei isso, eu comecei a deixar as coisas fluirem um pouco mais. Automaticamente, as coisas foram chegando pro lugar. Tem mais ou menos um ano e meio que fiz. Cheguei por um problema familiar, e quando vi não era só aquilo! Aquilo era consequência, e estava refletindo no dia a dia, no meu jeito de acordar, no meu jeito de comer, no jeito que me via e me posicionava no trabalho, Vierei um espelho para mim e comecei a me olhar.

Falando nisso, você diz que ser apresentador era um plano de carreira. Em que momento você planejou isso? Esse negócio de plano de carreira é tão importante, que semana passada eu li Nelson Motta escrevendo n'O Globo sobre isso. Ele falava isso, que quando ele era mais novo, ele não estava nem aí, que tudo era fazer como desse. Mas chega um momento em que você precisa planejar sua vida, porque senão você vai num esquema Zeca Pagodinho de Deixa a Vida me Levar, e chega uma hora que você não vai a lugar nenhum.  Eu digo isso porque quando você me pergunta do meu planejamento de sair de Salvador, eu lembro que eu comecei a fazer teatro aos sete anos de idade no Subúrbio Ferroviário Eu nasci no Curuzu, mas morei em Fazenda Coutos a minha vida toda praticamente. Ali, com sete anos de idade, eu fui entendendo o que queria da vida. Quando eu entrei no Bando de Teatro Olodum, em 1999, eu percebi que era ali que eu iria me profissionalizar. E quando eu tiver com 40, eu quero estar batendo na porta do que eu quero. E é impressionante! Eu fiz 40 anos agora, e eu estou onde eu quero. Onde eu quero nesse momento estar. Érico Brás em cena de Ó Paí Ó (Foto: Divulgação) Claro que eu tenho outros planos pro futuro, mas está dentro desse planejamento de carreira. Quando você alcança determinado objetivo, chega onde você quer, o que você faz depois disso? Isso faz parte do planejamento da vida. Eu sempre sento com as pessoas que trabalham comigo, e eu sou instigado a dizer o que eu quero mais, para onde quero ir. Claro que eu pensava em ser apresentador quando era criança. Tem um negócio que eu adorava, que era o Luciano Huck no Programa do H um quadro na praia. Aquilo era genial! Era a época que É O Tchan era sucesso, Gabriel O Pensador também. Tanto que eu já disse que no aniversário de três anos do Se Joga, eu quero circular pelas praias, pelo Pantanal, porque o Se Joga é do Brasil.Então, quando eu entendi que sabia fazer aquilo, que queria fazer, eu acreditei que uma hora ia chegar. 

Quando você fala do Se Joga, você já fala de aniversário do programa. Você deseja que ele, assim como o Video Show, tenha vida longa? Não é só um desejo não, é necessidade nossa também. Quando falo nossa, é uma necessidade da equipe, da emissora. A gente sente que precisa entregar para o telespectador um produto gostoso nesse horário, e isso não pode ser um negócio com previsão de acabar rápido. Não! A gente está com vontade de deixar o telespectador bem. Não dá pra você assistir, porque você está na cozinha, está no salão de beleza? Você ouve! É um programa que você pode ouvir, interagir, jogar. É um programa que a gente tem a intenção que fique um tempo no gosto do povo brasileiro. A equipe é maravilhosa, com experiência em outros programas, e com esse interesse.  

Você mesmo tem passagem por diversos programas da Globo, sobretudo humorísticos. O Se Joga também vai ter essa pegada, mas vocês têm batido na tecla de que o programa vai ser um "respiro", vai tratar de temas leves. Por outro lado, o humor da Globo está cada vez mais político. Como vão dosar isso? Se a gente parar para fazer um retrospecto, a gente tem notado que o humor da Rede Globo, especificamente, tem sido um humor inteligente nos últimos tempos. Quando eu falo em humor inteligente, ele toca na política, indepdendete do tom. Não estou dizendo que a gente criou isso, mas que a gente entendeu que a internet começou a ditar um tipo de humor, e a gente, por ser televisão aberta, pensou que tinha um jeito diferente de fazer. E deu certo! A gente tem o Zorra, a gente tinha o Ta no Ar: a TV na TV. O próprio Tapas e Beijos já era um humor inteligente, que era um pós A Grande Família. Desse período para cá, a gente foi criando um jeito de fazer humor que o telespectador gosta. Não é a toa que o Se Joga também vai ter humor com o Adnet, com o Paulo Vieira, com o Schreder. Vai ter essa pegada aí! Érico Brás ao lado de Andréa Beltrão (que está como Hebe nos cinemas) em cena da série global Tapas e Beijos (Foto: Divulgação/ TV Globo) Você se incomoda com as perguntas sobre representatividade? Pensa nisso ao assumir o comando do Se Joga?  Não me incomodo, e não tem como não pensar! Eu tenho uma história, e é uma história que me garante nesse lugar.O time da gente é um combo de representatividade muito grande. A Globo, com a estreia do Se Joga, está contemplando a diversidade brasileira. Claro que precisa aprimorar e mudar uma série de coisas, mas essa representatividade está sendo colocada em evidência aqui: a gente tem negro, gordinha, mulher, gay, nordestinos... Eu sou um cara que faz parte da política brasileira não-partidária há muito tempo. Eu comecei a fazer teatro aos sete anos. Teatro que se respeita é político, e a política que se respeita, respeita a arte. Mas isso é um outro assunto. Eu estou considerando essa nova fase tanto como um desafio, quanto como uma coroação da minha carreira. Eu faço teatro desde os sete anos, já passei por muita coisa, já trabalhei com outras coisas, mas eu escolhi fazer arte. O teatro me trouxe para cá. Essa experiência toda, vem coroar agora no apresentador. 

Você usa muito as redes sociais, e o programa vai ter esse apelo à tecnologia, à interação. Tem uma galera que está saindo das redes porque tem se sentido mal nelas. Como você lida com essa ferramenta? Para essa galera eu digo: vem ver o Se Joga! Eu adoro! A rede social é um campo social aberto, onde todo mundo pode falar tudo. Eu prefiro educar, informar, divertir. Essa galera que está saindo porque está cansada (porque tem um lado de rede social que está batido, que é chato mesmo), eu recomendo que venha ver o Se Joga. Tem gente que fala mal da televisão, mas a televisão está viva, é transformação palpável! Dá para pelo menos a pessoa se dispor a ver o que essa galera está fazendo depois do Jornal Hoje, que tem Maju inclusive. Acho que vai ser muito bom, recomendo mesmo!