Escravidão - Século XXI: série mostra caso de uma baiana que era tratada como escrava

Ela levava surras de uma professora que a criava, no bairro de Itapuã

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  • Roberto Midlej

Publicado em 4 de maio de 2021 às 11:00

- Atualizado há um ano

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Em junho de 2008, a Bahia se chocou com a história de Gabriela Jesus Silva, que foi encontrada em uma casa no bairro de Itapuã, em Salvador, em condições análogas a escravidão. A jovem, que tinha 25 anos na época, era natural de Cansanção, no interior da Bahia, e morava na casa de um casal formado por uma professora, Maria Helena Silva, e um comerciante, José Carlos Carreira da Silva. 

Gabriela saiu de Cansanção ainda criança, com o consentimento dos pais, e foi viver com Maria Helena, que prometeu pagar escola, universidade e tratá-la como filha. Mas Gabriela era tratada como escrava, era surrada e trancada em casa, de onde só saía para comprar pão para a família.

O caso de Gabriela está no primeiro episódio da série documental Escravidão - Século XXI, que estreia hoje na HBO. A direção é de Bruno Barreto e Marcelo Santiago. “Esse caso nos chamou a atenção pela dramaticidade, porque Gabriela viva em condições precárias, é uma vítima clássica da escravidão contemporânea, que perdeu a dignidade e a identidade”.

Este primeiro episódio se chama Cultura da Escravidão. Os próximos são Escravidão Rural, Dinâmica da Escravidão, Escravidão Globalizada e Sexo e Escravidão. “Tem também o caso do Rio de Janeiro, em que modelos masculinos do Espírito Santo ou do Rio Grande do Sul eram atraídos por um agenciador que lhes prometia que iriam atuar em Malhação. Mas se aproveitavam da ingenuidade deles e os exploravam sexualmente”, diz Bruno Barreto. 

A ideia da série é de Luiz Carlos Barreto, pai de Bruno e essencial produtor de cinema brasileiro. O projeto surgiu quando Bruno leu o livro Pisando Fora da Própria Sombra, do padre Ricardo Rezende. “Ele trata de um caso seminal de combate ao trabalho escravo, de Zé Pereira, um homem que fugiu da fazenda onde era explorado e sofreu um atentado cometido por um capataz. Mas ele se fingiu de morto e denunciou o caso”, lembra Bruno. 

Os diretores ressaltam que a escravidão contemporânea é um mal que atinge todas as regiões do país, por isso a série aborda casos de diversos estados. No episódio de estreia há, além da Bahia, o caso de uma fazenda no Pará, onde, nos anos 1990, trabalhadores foram encontrados em condições análogas à escravidão. Em São Paulo, há o caso de trabalhadores bolivianos explorados numa fábrica de roupa. Do Rio, o episódio citado sobre exploração sexual. “Mas esse trabalho análogo à escravidão é um fenômeno mundial”, alerta Bruno. HBO, às Terças-feiras, 22h. Estreia Hoje. Também disponível no HBO Go.