Escritor baiano Luís Antonio Cajazeiras Ramos lança coletânea para celebrar 60 anos de idade

Depois de renegar sua obra de estreia, Cajazeiras passou muito tempo sem publicar, embora às vezes escrevesse

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  • Roberto Midlej

Publicado em 9 de agosto de 2016 às 14:46

- Atualizado há um ano

Em 1983, o baiano Luís Antonio Cajazeira Ramos, hoje com 60 anos, lançou seu primeiro livro de poemas, Tudo Muito Pouco, em edição patrocinada por um contraparente. “Era um livro experimental, com influência do concretismo e muito jogo de palavras. Mas, anos mais tarde, debaixo de uma mangueira, queimei mais de 900 exemplares da tiragem inicial, que era de mil”, lembra-se o poeta. “Hoje, acho aquelas coisas que escrevi meio ridículas, não têm nada a ver comigo”, reconhece.Luis Antonio Cajazeira Ramos publicou os primeiros poemas no livro Tudo Muito Pouco, mas decidiu queimar os exemplares (Foto: Ricardo Prado/ Divulgação)Agora, 33 anos depois, Cajazeiras continua crítico ao seu trabalho, mas o vê de forma mais positiva. É a segurança adquirida por alguém que já publicou cinco livros e está pronto para lançar mais um, nessa sexta, a partir das 17h, na Reitoria da Ufba.RevisãoA coletânea  Poesia Reunida (Edições Papel em Branco/R$ 70/498 págs.) tem, na íntegra, o conteúdo dos livros anteriores do poeta. Daquele primeiro, no entanto, há pouca coisa e, quando há, passou por alguns ajustes que o autor considerou necessários.Há também  poemas inéditos, além de alguns haicais (poemas muito curtos de origem japonesa) e textos em prosa. Uma fortuna crítica reúne opiniões de intelectuais sobre sua obra. Escritores importantes como Hélio Pólvora (1929-2015), Aleilton Fonseca e Antônio Houaiss (1915-1999) assinam esses textos.Mesmo após receber elogios de admiradores tão qualificados, Cajazeiras continua crítico às suas próprias criações. Mas agora olha de forma mais positiva para sua obra, até com orgulho: “Os poemas que passei a fazer depois daquele primeiro livro são bem diferentes. Apesar da forma tradicional, em sonetos, eles não remetem ao século XVIII ou XIX. Têm uma linguagem contemporânea, atualíssima. Até já fui chamado de pós-moderno por uma pessoa que fez um trabalho acadêmico sobre minha poesia”.TemasOs 18 poemas inéditos de Poesia Reunida são sonetos que versam sobre os mais diversos temas. “Quando se faz poesia, qualquer tema é tema. O único elemento essencial é que ela seja lírica. Mas quando falo ‘lírica’ não se restringe ao romântico. É trazer para fora suas inquietações, suas angústias. E pode ser sobre a vida, o amor, as angústias perante as desigualdes...”.Depois de renegar sua obra de estreia, Cajazeiras  passou muito tempo sem publicar, embora às vezes escrevesse. “Entre 1983 e 1994, escrevia às vezes num guardanapo de papel e guardava na gaveta”, lembra-se.Em 1995, quando comprou um microcomputador, ele foi à caça dos poemas que havia escrito. É de um deles que foi retirado o verso “Não leia agora. Aguarde a solidão tomar conta de você”, que ilustra a contracapa de Poesia Reunida.Quando começou a ler o que já havia escrito, o poeta se emocionou e, entusiasmado, começou a escrever mais e mais poemas. A segunda metade da década de 90, então, tornou-se um período altamente prolífico de sua carreira. Em 11  anos, ele  publicou Fiat Breu (1996), Como Se (1999), Temporal Temporal (2002) e Mais que Sempre (2007). Foi em 1995, já aos 39 anos, que finalmente Cajazeiras começou a circular no meio intelectual, graças ao estímulo de poetas já consagrados como Ruy Espinheira Filho. Geraldo Maia, que integrava o grupo Poetas na Praça, também intermediou o contato com outros escritores. Por indicação de Geraldo Maia, conheceu outra poeta, Maria da Conceição Paranhos. “Ela me convidou para o lançamento de um livro. Fui lá e só a partir daquele dia comecei a conhecer escritores pessoalmente”, lembra-se.Cajazeiras foi tão bem recebido pela comunidade intelectual que, em 2012, foi eleito para a Academia de Letras da Bahia. “Desde aquela época, fui muito bem recebido pelos poetas, inclusive no Rio e em São Paulo. E certamente não foi graças a meus lindos olhos, mas graças a minha poesia”, diz, brincando.Nesses 21 anos desde a retomada da carreira, o poeta colecionou fãs e amigos. Alguns, tão interessados em suas criações que decidiram se juntar para bancar a edição do mais recente livro. “Eu estava me aproximando dos meus 60 anos e queria fazer esse livro. Tive uma proposta aprovada pela Assembleia Legislativa, mas queria algo independente. E felizmente meus amigos se reuniram e bancaram a edição”.