Espaço da Oxum Casa de Arte é vendido; acervo foi direcionado para novo local na Barra

Casarão foi comprado em 1986 como um projeto de Nancy Bernabó, esposa de Carybé

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  • Da Redação

Publicado em 3 de maio de 2022 às 06:00

. Crédito: Foto: Paula Fróes/ CORREIO

A máxima de que ‘para descer, todo o santo ajuda’ é elevada a níveis estratosféricos quando o assunto é a Ladeira da Barra. Além de todos os santos da baía que é o ponto forte de uma caminhada pelo local, uma outra entidade divina se fazia presente e era um ponto de referência em seu quilômetro de extensão: a Oxum Casa de Arte, que desde o último dia 16 de abril não funciona mais ali, deixando um vácuo arquitetônico e uma saudade no local.

A informação foi publicada primeiramente pelo Alô Alô Bahia e confirmada pelo CORREIO. A loja, fundada em 1986 por Nancy Bernabó, esposa de Carybé, foi vendida pela família, que já retirou todo o acervo do local e passou o espaço para o novo comprador. Filha do casal e gestora do Espaço de Artes Carybe, Solange Bernabó faz questão de dizer que a venda passa longe de significar o fim da Oxum Casa de Arte, que agora “segue seu caminho em novas águas”.

“A loja não vai fechar, é somente o espaço. A empresa segue. A gente pretende ser cada vez mais virtual, mas teremos o espaço físico. Temos a loja no Espaço Carybé de Artes, que é bem pequenininha, no Forte de São Diogo”, contou. Foi para lá que todo o acervo foi destinado.

A venda aconteceu pouco mais de quatro anos após o falecimento de Nancy, que partiu em 6 de abril de 2018, aos 94 anos. Sua filha Solange, que geria o espaço, fala que a casa era um sonho de sua mãe - filha de Oxum. Daí o nome que batizava o local. “Meu pai escolheu o nome da loja. Era um sonho de minha mãe ter um trabalho independente, dela, e foi realizado com a abertura dessa loja. Desde o início, ela trabalhou principalmente com antiguidades e o trabalho de meu pai, mas também com arte popular e outros artistas”, disse.

A loja era referência em prataria, arte sacra, pinturas, gravuras e objetos dos séculos XVIII e XIX, como explica o historiador Rafael Dantas. Além disso, também era um reduto importante por onde passavam turistas, políticos e personalidades da alta sociedade da Bahia. 

“A galeria vai surgir na segunda metade do século XX, como essa referência, quando Carybé já era um personagem inserido nos ciclos culturais da Bahia, era amicíssimo de ACM, que era um colecionador de suas obras. Por lá, tinham pinturas, peças valiosíssimas de Carybé. E a galeria Oxum se torna uma referência no comércio de artes plásticas, antiguidades e cultura baiana na década de 1990 em Salvador”, detalha o historiador.   Acervo da Oxum Casa de Arte (Foto: Divulgação) Ainda de acordo com Rafael Dantas, a galeria era uma das paradas obrigatórias também para turistas. “Por estar ali na Barra, um lugar privilegiadíssimo, de frente para a Baía de Todos os Santos, próximo da igreja da Barra, tinham peças só encontradas ali”, explicou.

Aquele espaço resumia bem a dobradinha entre Nancy e Carybé. Argentino radicado em Salvador, o artista foi um dos principais personagens a contribuir para a construção iconográfica de religiões de matriz africana e suas divindades. “Cada cidade do mundo é conhecida por um artista e o artista que mais traduziu Salvador foi Carybé”, diz Dantas.

Nancy, por sua vez, era uma pessoa muito receptiva, elegante e conhecia profundamente sobre arte em suas várias expressões. Até por isso, não era incomum ver pessoas como Jorge Amado e Zélia Gattai, Veiga Gordilho, Regina Casé e toda a geração de Mario Cravo - do pai ao Neto.

“É uma casa que realmente a gente sentiu muito em deixar, mas é isso, temos que partir para novos caminhos e novas áreas”, detalha Solange.

Esses caminhos passam por digitalização e essa aposta em novas maneiras de mostrar a obra de Carybé. Detalhes que serão anunciados em breve, como ela promete.