Especial destaca 22 nomes importantes da negritude

Falas Negras traz textos reais e será exibido nesta sexta (20) na TV Globo

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  • Da Redação

Publicado em 19 de novembro de 2020 às 20:42

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Divulgação/TV Globo

Idealizado por Manuela Dias (autora da novela Amor de Mãe) e dirigido por Lázaro Ramos, o especial Falas Negras será exibido nesta sexta (20), às 23h, na Globo, para marcar o Dia da Consciência Negra. O projeto reúne 22 depoimentos reais de pessoas que lutaram contra o racismo e pela liberdade e justiça. As falas históricas são interpretadas por atores, todas em primeira pessoa.

Os textos  trazem desde os relatos coloniais de Nzinga Mbandi, que datam de 1626, aos ensinamentos pacifistas de Martin Luther King Jr., passando pela veemência de Malcolm X e Angela Davis, até a força de Marielle Franco, ou as dores de Mirtes Souza, mãe do menino Miguel, e Neilton Matos Pinto, pai de jovem João Pedro. Interprete de Mariele. 

Taís Araújo diz que ficou muito emocionada com o convite. "É uma personagem importante para a história recente no Brasil. Eu senti vontade de ter conhecido mais a Marielle. Me deu esse desejo de falar 'meu Deus, por que eu não sabia tão mais dela antes da execução?'” Eu acho que todos os brasileiros mereciam conhecê-la mais. Ela tinha tanto a dizer e tanto a fazer", afirma.    Manuela Dias explica que o projeto nasceu durante a pandemia, em três semanas de episódios tão simbólicos. "Teve o assassinato do João Pedro, na semana seguinte o assassinato do George Floyd, e depois teve a morte do Miguel, um assassinato indireto que evidencia de forma quase caricatural a nossa chaga histórica. Isso tudo me mobilizou e propus para a TV Globo que a gente fizesse o especial. Sugeri abrir espaço para essas aspas para mostrar a inconformidade com o que a gente vem vivendo há mais de 500 anos”, conta. A pesquisa é de Thaís Fragozo. 

Lázaro Ramos, junto da assistente de direção Mayara Pacífico, conduziu por dez dias ensaios feitos de forma remota. “Procuramos atores que fossem bons contadores de história, porque o projeto, na verdade, é isso. Ele não tem grandes movimentos de câmera e mudanças de cenários, aposta na capacidade de os atores contarem bem essa história, que é o que vai fazer com que o espectador se envolva com ela”, explica Lázaro.

O elenco conta com as presenças dos baianos Fabrício Boliveira (Olaudah Equiano), Angelo Flávio (James Baldwin) e Valdineia Soriano (Valdineia Soriano).  A seguir, leia entrevistas com Angelo e Valdineia falando de seus personagens.

Angelo Flavio

Como foi interpretar James Baldwin?

Pra mim foi um desafio e uma responsabilidade muito grande interpretar o ativista negro, homossexual e escritor gigante. Um homem que esteve a frente do seu tempo e lutou contra o racismo e pelos direitos civis ao lado de grandes líderes negros  como Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King. A dinâmica do seu raciocínio é de uma estrutura muito difícil de se interpretar, pois há diversos pensamentos simultâneos para o desenvolvimento de uma lógica propositiva. Me emocionei muito, pensava nele a todo instante. Estamos falando do intelectual negro e gay que problematizou a invenção do negro e do branco nas Américas e no mundo.

Qual a importância desse especial?

Penso que a importância desses especiais é a democratização da difusão das memórias de um povo, de uma nação. A televisão tem uma grande responsabilidade, no que diz respeito a construção de imaginários. Difundir o legado das memórias negras e ameríndias no lastro cultural deste país é fortalecer a auto estima de um povo que sempre se viu ou quis se ver apenas branco, e somos um amálgama rico de contribuições étnicas  e culturais.

Valdineia

Como foi interpretar Luiza Bairros? se emocionou com o texto?

Interpretar a grandiosa Luiza Bairros foi muita responsabilidade. Eu a conheci, vivi momentos lindos em sua companhia, aprendi muito com a sua fala, com sua responsabilidade e afinco em lutar por equidade racial sendo mulher negra, num espaço não pensado para o corpo negro. e, sempre com muita elegância e inteligência. Se eu disser que não me emocionei, estarei mentindo. Interpretar Luiza também foi te-la mais pertinho. Foi sentir a sua força, seu legado.

Qual o seu sentimento em relação ao dia 20 de novembro?

Uma conquista do movimento negro brasileiro que precisa ser valorizada no Brasil. Dia 20 de novembro não é apenas uma data, é um movimento histórico, uma valorização e exaltação de grande parte da população que historicamente foi sendo jogada para o limbo da história desse país, e que reconhece nesta data, o que nos fizeram perder com esse tempo de apagão, que foi o nosso orgulho de ser negro.  

E como espera que o especial seja recebido pelo público?

Eu gostaria que o público gostasse tanto quanto eu gostei de fazer. É um especial que traz à cena personalidades que a história quis apagar, e que merecem ser conhecidas e bem lembradas. Eu espero que as famílias pretas e não pretas, mas as pretas principalmente, possam entender ainda mais que os nossos passos vêm de longe, que tentaram apagar, mas que nossas vozes negras, nossos corpos negros estão aqui para contar, narrar, interpretar, mergulhar em nossas próprias histórias. O que a literatura, a música, as artes plásticas, o cinema, a tv e até a história tentou apagar, o 20 de novembro obriga visibilizar. E que fique evidenciado que somos negras e negros o tempo todo, 365 dias do ano. Contudo, que o especial possa entrar nas casas, e acariciar a população negra com as histórias que serão contadas.