Está liberado fazer gol e enlouquecer tirando a camisa do Vitória

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  • Paulo Leandro

Publicado em 20 de abril de 2022 às 05:09

- Atualizado há um ano

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Como é difícil o convívio! Enquanto para uns poucos, talvez somente eu mesmo, o jogador deveria ter o direito de trocar quantas camisas quisesse para lançar à torcida após marcar um gol, a maioria é contra, quase a ponto de executar o infrator!

Quisera um dos nossos cometer este pecado mortal, hoje, diante do Fortaleza, lá dentro, no duelo dos leões mais ferozes deste lado de cima do Brasil.

O caso do jovem Borel serve para indicar o quanto deixamos de exercitar a mente. Qual o problema de o novel craque da direita enlouquecer depois de marcar aquele golaço contra o Náutico? Ah, infringiu a regra. Prejudicou o time. O Bahia ficou com um a menos.

Na minha régua de valores, o importante naquele momento era comemorar o golaço, difícil de descrever pela habilidade da revelação tricolor em tocar meio de ponta de bota, pelo alto, sem chances.

Mas, não: veio em seguida o patrulhamento desmedido, acusando-se a desobediência como gêmea da irresponsabilidade. Não li nem ouvi ninguém questionar o rigor da regra, pois não se sustenta na ética.

Talvez algo a discernir para quem arrota opinião sem confirmar se há razões para acreditar é a distinção entre a ética (como podemos combinar melhor a vida) e a lei (imposição de aristocratas juristas).

Nem toda lei dialoga com a ética: em vez de punir o jogador só porque tirou a camisa, poderíamos defender uma fiscalização eficiente para quem se locupleta com transações vultosas envolvendo atletas medianos.

Uma boa lei a cumprir seria a da transparência, obrigando os mercadores a publicar toda a documentação relacionada aos bons negócios, como os contratos rapidinhos de três meses e outras pistas.

Vamos acompanhar o crescimento do patrimônio de todos quantos participem destes supostos golaços financeiros, punindo-se com o banimento aqueles comprovadamente hábeis.

O desempenho “baianão”, com pífias participações em todas as séries deveria, este sim, causar indignação e revolta: quem vem marcando seus golaços, jogando a camisa pra cima, há anos, livre de marcação?

Não há nada de feio, desonesto ou imoral em comemorar um gol, com merecido exagero, como faziam os grandes artilheiros, ao balançar alambrados, abraçar torcedores, dar cambalhotas e piruetas criativas.

Quando não era iniciativa do homem-gol, um ou outro torcedor invadia o campo a fim de agarrar o ídolo, qual o mal nesta declaração de amor homossensível (ALBERGARIA, Roberto)?

Provavelmente, hoje, arrumariam uma proibição para Pelé não socar o ar, ao marcar seus gols, pois neste novo ordenamento, todos têm de ficar parecidinhos desde a forma de entrar em campo até a de celebrar.

Outro dado importante deste contexto moralista é a ausência do divergente, pois toda e qualquer doação de sentido é vigiada e punida, se não seguirmos regras draconianamente estabelecidas.

É perceptível a influência de ideologias inflexíveis e seitas baseadas em determinações supostamente divinais na mentalidade média, produzindo preguiça na capacidade de raciocinar, desobedecer e lutar.

As pessoas estão alienadas de si próprias, incapazes de pensar, deixando-se levar por quem forma opinião (influenciador virou profissão!), em processo incessante e circular de plena desumanidade, uma tristeza isso!

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.