'Estamos apavorados': moradores estão traumatizados após tiroteio em São Gonçalo

Medo é de como ficará o bairro após saída dos policiais que vigiam o local

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  • Bruno Wendel

Publicado em 20 de agosto de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tiago Caldas/CORREIO

O cheiro forte de combustão e a carcaça de um dos veículos incendiados não foram as únicas evidências da ação de bandidos na noite desta terça-feira (19) no bairro de São Gonçalo. Na manhã desta quarta-feira (20), o medo ainda era latente no olhar e nos depoimentos dos moradores. 

"Como lidar com uma situação dessas? Homens armados mandando fechar tudo, atirando para cima num horário de pico. Eram 18h e o comércio estava aberto. Foi uma noite de terror. Isso tudo aconteceu porque a polícia matou gente deles", disse ao CORREIO um marador que não quis se identificar. 

Na manhã desta quarta-feira (19), policiais militares faziam presença no final de linha de São Gonçalo. Apesar disso, os ônibus não estavam entrando no bairro. 

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Na tarde da última terça, cinco suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas no bairro morreram durante uma operação policial que encontrou, em um esconderijo subterrâneo, fuzis, metralhadoras e drogas.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), equipes do Comando de Policiamento Especializado (CPE) da PM e do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco) faziam acompanhamento de integrantes da quadrilha e, durante uma ação de inteligência, cerca de 15 criminosos foram flagrados na Baixinha de Santo Antônio.

Ataque Se a noite de terça foi marcada pelo terror dos traficantes, na manhã deste quarta policiais militares tentavam reestabelecer a sensação de tranquilidade."Mas está difícil. Tá tudo muito recente. Eles (policiais) não vão ficar aqui direto. Amanhã vão embora e a gente fica como? Estamos apavorados", disse uma moradora, por volta das 9h, pouco depois de passar pelos militares, posicionados em frente ao que restou da picape incendiada. O outro veículo, um caminhão, havia sido retirado por um guincho meia hora antes. Além da carcaça da picape, o cheio de combustível queimado era o outro rastro deixado pelos criminosos. "Em plena pandemia, fazerem isso? Tem gente aqui que não dormiu pelo susto e porque passou mal com a fumaça tóxica", disse outra senhora.

Testemunhas ouvidas pelo CORREIO contaram que por volta das 18h de terça, um grupo armado chegou à Rua Adalgina Silva Lima. "Era um grupo de rapazes, todos com armas pra cima gritando: 'fecha, fecha, é pra fechar tudo'. Dava pra ver que dois ou três carregavam vasilhames", contou o senhor que na hora estava com a família no terraço de casa. "A gente entrou de imediato", completou a fonte.

Os bandidos caminhavam pela rua e obrigaram os ocupantes de uma picape da Embasa e de um caminhão que transportava produtos de higiene pessoal a descerem dos veículos. "Eles jogaram gasolina e depois atearam fogo. Rapidamente as chamas consumiram o carro e o caminhão", disse outro morador. 

O fogo aumentou o pânico das pessoas. "A rua é cercada de residências e de estabelecimentos comerciais. Eu mesmo tenho o meu comércio aqui em baixo e em cima moro com a minha família. Pense no desespero que foi? O medo das chamas chegarem em casa e no estabelecimento", relatou um morador e comerciante do bairro. 

Segundo moradores, com a combustão houve explosões. "Estava dentro de casa quando ouvi os baralhos, um atrás do outro. Disseram que foi do caminhão que transportava alguns produtos infláveis", contou uma dona de casa. 

Ônibus Ainda sobre a noite de terça-feira, moradores disseram que um ônibus que chegava ao final de linha voltou de ré ao ver os bandidos em volta do carro e da picape. "Quando o motorista viu o pessoal armado, voltou de ré e em seguida mandou todo mundo descer e foi embora. Vi daqui de casa", contou um morador. 

Quem normalmente contava com o transporte público para sair do bairro, teve que andar muito. "Já avisei ao chefe que vou chegar atrasada. Os rodoviários não estão errados de parar. A gente entende. Mas agora já tem polícia circulando no bairro. Esperamos que a situação se resolva logo. A população não tem culpa. Aqui mora muita gente de bem", disse uma moradora do final de linha de São Gonçalo, pouco depois de chegar à Rua Silveira Martins, a principal do Cabula.