Estamos formando o trabalhador do futuro?

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  • Da Redação

Publicado em 7 de maio de 2019 às 15:00

- Atualizado há um ano

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Um tsunami, e não uma onda, aproxima-se rapidamente para mudar de modo radical o emprego e a renda do trabalhador. Refiro-me à quarta revolução industrial, que terá como locomotiva a automação. Um estudo sobre o futuro do trabalho da consultoria global McKinsey & Company revela que seis em cada dez postos podem ter mais de 30% de suas atividades automatizadas.

No Brasil, a estimativa é de que o efeito da automação atinja cerca de 16 milhões de brasileiros, especialmente os jovens que não tiveram acesso a uma Educação de qualidade.

O que está em jogo quando se trata de adotar ou não um processo mais agressivo de automação nas fábricas é uma questão de equilíbrio entre custos e competividade. Esse novo cenário exigirá um aumento de qualidades humanas, como a criatividade e o pensamento crítico. Por isso, a oferta de uma Educação com significado, que seja capaz de desenvolver o potencial pleno das pessoas, torna-se condição imperativa para o acesso aos postos de trabalho do futuro.

Essas novas funções, por sua vez, exigirão do trabalhador do futuro – e o futuro é agora – habilidades matemáticas, analíticas e digitais. Com menos de postos de trabalho e, ao mesmo tempo, a exigência de alta qualificação profissional, a tendência é de forte queda nos salários e aumento da desigualdade.

O motor dessa desigualdade, conforme estudo recente do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), será a tecnologia digital. Embora um em cada três usuários da internet seja uma criança, há ainda no mundo 346 milhões de jovens sem acesso ao mundo digital. A quarta revolução industrial será determinada por uma convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas associadas ao desenvolvimento de habilidades humanas. Por isso o papel de uma Educação plena para a vida será determinante para o futuro promissor de nossa juventude.

Por outro lado, nesse mesmo cenário, no Brasil, a oferta de Educação para nossos jovens é de baixíssima qualidade. A título de exemplo, de cada cem crianças que começam a receber a Educação Básica, apenas 50 chegam ao final do percurso, que equivale à conclusão do Ensino Médio. Mesmo estes chegam ao fim do ciclo com muitos déficits de aprendizagem. De cada cem concluintes, apenas sete aprenderam o que seria esperado em matemática – uma tragédia.

O que me aflige, portanto, é que esses jovens não estão nem sequer preparados para enfrentar uma onda, quanto mais o tsunami que se avizinha no que diz respeito ao futuro do trabalho. O Brasil tem hoje 1 milhão de jovens de 15 a 17 anos que, além de estarem fora da escola, não desenvolvem nenhuma atividade laboral.

O País precisa dar prioridade à Educação. Isso significa, por exemplo, não descontinuar, por uma simples mudança de governo, as políticas públicas educacionais que estão dando certo. Significa não rifar o Ministério da Educação (MEC) e as secretarias de Educação como moeda de troca no campo político. Significa atrair mais jovens talentosos para a carreira de professor, ou seja, valorizar a carreira do magistério. Sem bons professores não haverá Educação de qualidade, e sem ela não haverá futuro promissor nesse novo cenário do mundo do trabalho.

Texto baseado em excertos do livro Sem Educação não Haverá Futuro (Moderna/Fundação Santillana), distribuído gratuitamente e disponível para download no site da editora.

Mozart é professor e pesquisador há mais de 40 anos, foi reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e secretário deEducação de Pernambuco. Também foi presidente-executivo do Todos pela Educação e desde 2014 é diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna.

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