'Estamos identificando quem falhou', diz diretor de ONG que mantém livraria em navio

Ministério Público notificou organização sobre mensagem de intolerância religiosa a respeito de Salvador

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  • Fernanda Meneses

Publicado em 25 de outubro de 2019 às 15:48

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Depois de passar por Santos, Rio de Janeiro e Vitória, a maior livraria flutuante do mundo, a Logos Hope, atracou em Salvador trazendo consigo uma grande polêmica. Uma postagem de cunho discriminatório, feita no Facebook da livraria, pedia para os seguidores orarem por “proteção, força e sabedoria para os tripulantes durante a permanência do navio em Salvador - cidade conhecida pela crença das pessoas em espíritos e demônios”. 

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A publicação gerou desconforto e críticas à organização da Logos, que na abertura da livraria aqui em Salvador, nesta sexta (25), ainda não sabia quem havia feito a postagem. “Ainda estamos identificando quem foi a pessoa que falhou com esse tipo de informação”, explicou o Márcio Lugão, diretor da ONG Operação Mobilização (OM), que está por trás da Logos Hopes e tem como objetivo levar conhecimento ao mundo através de estudos bíblicos, da arte, do trabalho e desenvolvimento. Post que gerou polêmica (Foto: Reprodução) Ainda segundo Márcio, a postagem foi feita de “maneira errônea” e uma nota pública será divulgada para imprensa. O diretor da OM afirma que esse tipo de postagem foge dos princípios da organização. “A gente leva respeito, companheirismo, ajuda humanitária, social, então é possível que tenha havido falhas como em qualquer lugar e profissão, mas a boa notícia para a imprensa e população de Salvador é que esse problema já foi solucionado’, afirmou.

Em vídeo, a promotora de Justiça Lívia Sant’Ana, afirmou que o Ministério Público do Estado da Bahia tomou conhecimento, através da Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa, "de mensagem de cunho discriminatório emitido pela Logos Hope Livraria Flutuante". "Já foi instaurado o devido procedimento e a organização do navio será notificada com recomendação para retirada da mensagem de todas as redes sociais, bem como para prestar esclarecimentos no prazo de três dias", afirmou a promotora.

Além disso, foi enviada uma cópia do procedimento para "adoção das medidas cabíveis no que se refere ao direito do consumidor, uma vez que, pelo que foi verificado no local, trata-se de acervo de livros evangélicos, informação que não foi divulgada no material publicitário", acrescenta a promotora.

Segundo ela, todas essas medidas são importantes porque "a liberdade de crença e de expressão não resultam numa autorização para a prática de crimes de ódio, racismo e intolerância religiosa". "O discurso de ódio é o exercício abusivo desses direitos fundamentais, cabendo responsabilização, até mesmo criminal, dos responsáveis por esse tipo de manifestação", afirma.

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OAB A Comissão Especial de Combate à Intolerância Religiosa da OAB-BA repudiou em nota a postagem. Declarar que a tripulação estaria submetida a algum risco ao chegar em uma cidade "conhecida pela crença do povo em espíritos e demônios" ultrapassa os limites da liberdade de expressão e liberdade religiosa, diz a presidente Maíra Vida. 

"Nos é exigido um esforço transdisciplinar de superação das violências. O desafio é garantir que o enfrentamento jurídico seja célere, adequado e, ainda assim, transformador", afirma.

Ela destaca que a liberdade religiosa abrange a liberdade de crença e consciência, a liberdade de cultos e a organização religiosa. "Logo, o proselitismo, é admitido como legal e legítimo, contudo, esta prática em nada se confunde com o discurso de ódio, menosprezo e ataque a outras confissões religiosas ou mesmo expressões de religiosidade", finaliza a nota.

*Com orientação da editora Ana Cristina Pereira