Estava à toa na vida, meu amor me chamou

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  • Kátia Borges

Publicado em 2 de março de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A banda vinha longe ainda. Tocava um “não me pegue, não”. E eu ali, pouco à vontade no chão da Praça Castro Alves, aprendendo a beijar como se deve. A multidão em volta só no enlace. Corações a mil no Verão de Salvador. Até a Quarta-Feira de Cinzas, cena de posse só por charme. O Sol nas bancas de revista dando lance por nós dois. “Quem lê tanta notícia?”.

Tocava um “não se perca de mim, não se perca de mim, não desapareça”. Dois pra lá dois pra cá selvagem. “A chuva ajuda a gente a se ver”. Da Sé ao Campo Grande. Anota aí meu telefone? E pedaços de papel restavam aos montes nos bolsos no fim de cada noite. Coloridos, encharcados, ressecados no calor, diluídos entre o som e o suor, números a perder. Atravessar a cidade à caça de olhares, veja só.

Dançaremos até que venha o asteroide. Para sempre e amanhã, tudo de novo. Marcar o ritmo, tamborilar a bossa antiga, aquele frevo-axé, pé ante pé, cada vez mais entretida, sentimentos que nada têm a ver com a maré. Dois pra lá dois pra cá selvagem. No sentido contrário dos trios, Elvira do Ipiranga – cinema novo na vertigem. E tudo aquilo que se parecia com a felicidade.

Coro de vozes, refrão cantado em uníssono. “Dar a volta no mundo, eu vou”, e nem sei mais quem naquela profusão de nomes. Vem cá, me solta, será que chove? Bipolaridades cotidianas. Toque de afoxé cortando a noite nos camarotes. E abrigos contra a caretice, quase um bunker, onde se confirmava a amizade. Em cada esquina da cidade, como em Adília Lopes, havia um Luna Parque.

(...) quando dei por mim/ já lá estava dentro/ e não me lembrava de ter entrado/ quando disse agora quero-me ir embora/ riram-se/ ah, minha rica deste Luna Parque não se sai/ quem cá vem não volta/ não se volta atrás (...)

É possível que a vida siga o seu curso de existirmos (“a que será que se destina?”) para um sempre que nunca. No mais, performance. Qualquer flor que se abra, repentina, qualquer gato, gata, extraordinariamente simples.

Os meninos de Paris, peles de porcelana, evoluindo na multidão. As meninas que chegavam de Maceió, e pareciam cair do céu, encantadas com a Bahia. Vagas contemplativas que faziam onda, trocando olhares com os Filhos de Gandhy. E a certeza de que houvera em nós um antes. Ali, a nos guardar, tranquila música.