Estudante perde dentes ao ser agredido e relata insultos: 'Bora matar esse viado'

Caso aconteceu na cidade de São Francisco do Conde, no Recôncavo baiano

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 9 de novembro de 2018 às 18:54

- Atualizado há um ano

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“Bora matar esse viado!”. A frase ainda ecoa na mente de Aislan Casais, 22 anos, vítima de um ataque homofóbico no último sábado (3). O estudante do curso de Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) foi agredido fisicamente e perdeu três dentes.

Ao CORREIO, o jovem conta que estava no aniversário de uma amiga, na cidade de São Francisco do Conde, no Recôncavo baiano, quando foi abordado por dois homens na saída da festa. Um deles, que estava com uma soqueira inglesa, deu quatro socos na boca do jovem. Ele perdeu dois dentes e precisou extrair um terceiro.

Em seu Facebook, Aislan narrou o episódio e afirmou ter sentido medo. "O medo tomou conta de mim, eu estava todo ensanguentado e só imaginava que naquele momento eu seria mais um LGBT morto. Os dentes facilmente soltavam da minha boca e os murros não paravam vindo juntos com gritos de "viado". Eu sobrevivi", conta."Sobrevivi à violência com teor de homofobia em São Francisco do Conde-Ba, consegui fugir dos dois agressores e deixo São Francisco do Conde com a mão no coração, pois essa cidade hoje só me faz refletir sobre a pior experiência da minha vida", completa. 

Em contato por telefone, Aislan conta à reportagem que a agressão aconteceu quando ele caminhava ao lado da aniversariante, que também foi agredida, e prefere não ter o seu nome revelado. Segundo ele, um dos agressores conhecia a garota e a abordou com intenção de que ficassem juntos, mas ela recusou e foi atingida por um soco.“Quando ela mandou que ele deixasse ela em paz, na mesma hora ele partiu para cima e deu um murro nela”, conta Aislan.Após levar um soco, a amiga de Aislan conseguiu correr e fugiu, mas ele não teve a mesma sorte. O outro homem que estava ao lado do agressor partiu para cima do estudante e deu murros na boca do rapaz. A agressão só teve fim porque uma moto passou pelo local e assustou os agressores. Ao tentar fugir, um dos homens tentou roubar sua bolsa, sem sucesso. Aislan perdeu três dentes após ser agredido (Foto: Reprodução) Aislan correu até um bar próximo e recebeu socorro da dona do estabelecimento, que pagou um mototáxi até o hospital mais próximo, onde o estudante conseguiu os primeiros socorros.

Aislan foi atendido no Hospital Célia Almeida Lima, em São Francisco do Conde, onde deu entrada às 2h40 do último domingo (4). Os médicos estancaram o sangramento e fizeram uma limpeza na boca do rapaz antes de liberá-lo. Ao sair do hospital ele foi até a 21ª Delegacia (São Francisco do Conde) para registrar Boletim de Ocorrência (B.O.), mas, segundo conta a vítima, ainda precisou "acordar os plantonistas após muito esforço" e recebeu a notícia de que não conseguiria registrar o B.O. naquele momento.

Retornou no mesmo dia, às 10h da manhã, quando conseguiu registrar a ocorrência. Depois disso foi até a faculdade onde estuda e recebeu um auxílio da diretora da instituição, que deu dinheiro para o rapaz ir até o município de Santo Amaro, também no Recôncavo, para fazer o exame de corpo de delito.

Nascido em Cachoeira, também n o Recôncavo, ele realizou os exames e, com o dinheiro restante, viajou para a casa da mãe, em sua terra natal. 

Recuperação e apoio O jovem recebeu mensagens de apoio dos amigos nas redes sociais, mas o suporte não ficou apenas atrás das telas. Uma vaquinha virtual batizada de “Aislan Sorrindo de Novo” foi criada na quinta-feira (9) e pretende arrecadar R$ 6.000 para ajudar a pagar o tratamento odontológico. Até o momento, já foram doados R$ 895.

Aislan Sorrindo de novo

Tratamento odontológico para recuperação da arcaria dentária do Aislan, que sofreu um atentado motivado por Homofóbia e tentativa de assalto que levou a perda de 3 dentes.

Homofobia De acordo com um levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB), 347 mortes por homofobia foram documentadas no Brasil durante o ano de 2018. O relatório feito no ano passado apontou números nunca registrados na história do país e colocou o Brasil como o país líder de violência contra pessoas LGBT em todo o mundo.

A Bahia tem 29 mortes registradas por crimes homofóbicos este ano. Em 2017, o estado ficou no terceiro lugar do último ranking nacional, com 35, perdendo apenas para Minas Gerais, com 43 mortes foram registradas, e São Paulo, líder do ranking, com 59. No total, 445 LGBTs foram mortos em todo o país.

Esse número, segundo o levantamento, representa que uma pessoa LGBT morre a cada 20 horas por motivações homotransfóbicas, ou seja, mortes causadas em decorrência de homofobia ou transfobia.

* Sob supervisão da subeditora Fernanda Varela