Estudantes da Ufba brigam em sala de aula por política e vão parar na delegacia

Os dois alunos foram ouvidos na 7ª Delegacia (Rio Vermelho) e liberados

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  • Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2018 às 14:01

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Dois alunos da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH) da Universidade Federal da Bahia (Ufba) foram parar na delegacia, na manhã desta quarta-feira (10), após uma discussão por motivação política na sala de aula. A situação aconteceu em uma turma do 4º semestre do curso de História. 

Segundo testemunhas, a aula foi interrompida quando dois alunos pediram para convidar a turma para participar de uma “assembleia de estudantes para discutir como o Brasil chegou à atual situação [política]”. 

A professora, que não quis se identificar, contou ao CORREIO que, após o convite, entrou na sala um aluno chamado Gabriel*, que se identifica com a direita, o que motivou risadas por parte de alguns colegas e causou um clima de desconforto no local.

Ainda segundo a professora, Gabriel se sentiu incomodado e perguntou o motivo das risadas. Foi então que começou uma discussão entre ele e Tiago*, um dos alunos que entrou na sala para fazer o convite para a assembleia.

Os ânimos se acirraram e Gabriel chamou Tiago para “marcar um acerto de contas”. Segundo a professora, a discussão só não virou briga porque outros alunos conseguiram separar os dois.

A professora tentou controlar a situação e pediu para Tiago se retirar e prosseguir dando seu recado em outras salas, mas quem saiu da sala - por vontade própria - foi Gabriel. Não apenas da sala: também se retirou do campus.

Chamando a polícia A diretora da FFCH, Maria Hilda Baqueiro Paraíso, contou à reportagem que, após sair da Ufba, Gabriel parou uma viatura que estava passando na Rua Aristides Novis (conhecida como Estrada de São Lázaro) e falou para os policiais que estava sendo ameaçado de morte e precisava de escolta para voltar até a sala de aula buscar seus pertences.

A diretora ainda afirmou que os policiais falavam a todo momento que não podiam atuar dentro da Ufba, que é uma área da União e de ação exclusiva da Polícia Federal.“Quando eu desci de minha sala, tinha uma roda de alunos em torno dos policiais, que estavam tentando acalmar os ânimos. Em momento algum houve ameaça e eu pedi para que policiais, os dois envolvidos na confusão e outras testemunhas viessem para minha sala conversar”, revela a diretora.Já na sala da direção, o que era uma tentativa de conciliar a briga acabou agravando ainda mais a situação. Os estudantes não entraram em consenso, e, segundo nota da Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA), “os alunos preferiram ir até a 7ª Delegacia Territorial (Rio Vermelho). Na unidade da Polícia Civil eles foram ouvidos, liberados e uma nova data foi marcada para dar prosseguimento ao caso.”

Desafetos A tensão entre os dois alunos não é algo recente. A professora, que estava na sala e presenciou o início de toda a confusão, disse que desde o ano passado o aluno de direita já se envolve em diversas discussões com alunos que são de esquerda - maioria da turma. 

Ela também conta que, durante a reunião que teve com os policiais militares, os envolvidos e testemunhas da confusão, o aluno de esquerda se declarou cansado de supostas agressões que recebia de seu desafeto via WhatsApp.

Professor de Direito Civil na Faculdade de Direito da Ufba, Emanuel Lins foi informado da situação e se dirigiu até a 7ª Delegacia. Ele não estava na hora do ocorrido, mas recebeu solicitação de outros alunos para ajudar no caso.

Segundo Lins, ele se deslocou até o Rio Vermelho para “defender a liberdade de manifestação dentro da universidade, que é um espaço que respeita esse direito independente da posição ideológica de cada pessoa” e porque o Tiago é um aluno “negro, de black power e da periferia que se sentiu intimidado com a presença da polícia dentro do campus”.

O professor contou que Gabriel é ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL) e que Tiago não tem qualquer vínculo partidário, mas se identifica com a esquerda. 

A SSP-BA afirmou que a postura dos PMs foi elogiada pela direção da FFCH na tentativa de resolução e mediação do conflito porque não houve truculência em qualquer momento da situação.

* Os nomes dos estudantes foram modificados. ** Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro.