‘Eu amo ser alegre, mesmo estando difícil nesse país’, diz Emanuelle Araújo

Baiana fala sobre papéis na Globo e na Netflix, maternidade, sequência de Ó Paí Ó e novo disco

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  • Naiana Ribeiro

Publicado em 21 de abril de 2019 às 05:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Raquel Cunha / TV Globo / Divulgação
Zuleika (Emanuelle Araújo) vai namorar Almeidinha (Danton Mello), que conhecerá em um app de relacionamento por TV Globo

Após recusar a personagem de Luzia em Segundo Sol, novela das nove da Globo/TV Bahia ambientada em terras baianas, a atriz e cantora baiana Emanuelle Araújo, 42 anos, está dando o que falar como protagonista da série Samantha!, da Netflix, que teve sua segunda temporada lançada  sexta-feira.

Além do contrato com o maior serviço de streaming do mundo, ela também integra o elenco de Órfãos da Terra, trama das 18h da Globo. No folhetim de Thelma Guedes e Duca Rachid, Emanuelle dá vida a  empresária Zuleika Nasser, filha da síria Rania (Eliane Giardini), que é prima de Missade (Ana Cecília Costa). Durona e despachada, ela toca uma casa de artigos de decoração  ao lado do pai, Miguel (Paulo Betti).  Emanuelle dá vida a empresária Zuleika Nasser, uma mulher que acabou de sair de um relacionamento abusivo e ainda está traumatizada (Foto: Paulo Belote / TV Globo) Assim como a baiana - que na vida real é mãe da psicóloga e cantora Bruna Araújo, 25 - Zuleika teve uma filha muito jovem. A forte relação com a personagem não para por aí: ambas sempre falam o que pensam, revela  a atriz.

Nesse início de folhetim, Zuleika saiu de um casamento abusivo e, com a ajuda da filha Cibele (Guilhermina Libanio), conhece melhor o feminismo.“Estou muito feliz de representar um movimento feminino importante. Muitas mulheres foram criadas com métodos convencionais e ainda reproduzem um discurso antigo. Zuleika vai descobrindo esse novo lugar através da filha”, afirma  Emanuelle. A empresária, que está morando com os pais, irá marcar um encontro às escuras nos próximos capítulos da novela. Ao chegar, descobrirá que o pretendente é o delegado Almeidinha (Danton Mello). Apaixonada, mas traumatizada pelo fim do casamento, Zuleika vai fugir da relação.

 A protagonista de Samantha! também passa por crises existenciais e  amorosas. “Ela passa a segunda temporada inteira buscando provar para as pessoas que  amadureceu”, resume a atriz.

Para Emanuelle, as duas personagens passam por amadurecimentos. A baiana, ao contrário das personagens,  acredita já atravessou  muitas dessas transformações e se diz   bem resolvida e realizada. Além da série e da novela, ela deve lançar um disco no segundo semestre. 

Com tantos projetos à vista, ela adianta: não vai estar na sequência do longa Ó Paí Ó, que tem previsão de lançamento ainda para 2019. 

O que poderemos esperar da sua personagem em Órfãos da Terra? Zuleika começou a novela se separando. Ela casou-se muito cedo e tem uma filha grande, a Cibele (Guilhermina Libanio). Ela sofreu muito com o machismo no casamento e não quer cair nesse clichê de novo. Zuleika quer se relacionar de um jeito diferente, mais empoderado. Além disso, ela vai ajudar Jamil (Renato Góes) e Laila (Julia Dalavia) porque acredita no amor deles. Acaba sendo uma grande parceira para a união dos dois.

O feminismo é essencial nesse processo de desconstrução dela, não é? Sim. Eu estou muito feliz de estar representando um movimento feminino importante. Não é só as meninas mais jovens que têm esse discurso. Estamos em uma era onde todo mundo está começando a compreender isso. Mas muitas mulheres de uma geração atrás, que às vezes são jovens também e foram criadas com métodos convencionais, ainda reproduzem um discurso antigo. É muito legal porque a Zuleika está se reinventando, ela não quer mais esse discurso. A filha, que é militante feminista, ajuda muito ela. Zuleika vai descobrindo esse novo lugar através da filha.

Assim como Zuleika, você é mãe desde muito jovem. Como você lida com a maternidade? Na verdade, a maternidade nunca teve relação com a idade. Exatamente por ter tido filho muito cedo, aconteceu algo bacana comigo: eu gosto muito de envelhecer, porque a minha vida fica mais coerente com a minha responsabilidade. Com 17 anos, minhas amigas estavam curtindo e eu estava cuidando de neném em casa. Quando eu fiz 30 anos foi uma libertação. Estava todo mundo em crise e eu estava agradecendo a Deus. Aos 40 e poucos, agora, ninguém me segura.

Você tem 42 anos com cara de 30! Quais seus cuidados com a saúde e beleza? Eu me cuido bastante, mas no sentido mais básico, alimentação e sono. Mas, mais do que isso, eu amo viver. Eu amo ser alegre, mesmo estando muito difícil estar alegre nesse país. O país está todo dia desafiando a gente, parece que é um desafio constante para você perder sua alegria, mas eu não vou perder não. Eu vou continuar falando o que eu penso. Porém, buscando ter leveza. Isso faz a gente seguir em frente com mais potência.

Como é a sua relação com a sua filha? Tenho uma relação de muita cumplicidade com a Bruna (Araújo), minha filha. Como ela tem quase a idade da Guilhermina, acabo trazendo isso para a personagem. Também estou perdidamente apaixonada pela Gui. Ela é maravilhosa. A gente aproveita da relação que temos nos bastidores e leva para cena. Cibele e a mãe são grudadas.

Quando vamos ver as cenas do casal Zuleika e Almeidinha? Logo vai começar a história com o personagem do Danton Mello, o Almeidinha. Eles vão viver muitos conflitos engraçados nos próximos capítulos, principalmente em relação as questões envolvendo o ‘feminino’ e o ‘masculino’. Mas ali ela vai ter coragem de dizer o que ela gosta ou não.

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Um pouco mais a frente, ela vai tentar evitar o Almeidinha. Ela ficou traumatizada com relacionamentos? Zuleika está com um pé atrás e quer descobrir uma nova forma de se posicionar. Ela viveu a vida toda o amor nos moldes convencionais, mas agora quer mudar. Está se descobrindo, se questionando e agora está morando na casa dos pais com a filha e está se transformando. Está questionando o casamento, o que é ser mulher dentro e fora de uma relação, assumindo o que ela realmente quer ou não quer.

Você gostou da temática da trama? Eu acho uma novela extremamente pertinente e necessária. A gente está falando sobre refugiados sírios, sobre guerra, preconceito, feminismo... Além disso, tem muito humor. Meu núcleo tem essa responsabilidade de dar uma certa leveza para a trama. A Thelma Guedes e Duca Rachid são autoras muito potentes porque são extremamente coerentes com o ofício e trazem sempre histórias pertinentes.

A série Samantha!, que estreou a segunda temporada sexta, é um sucesso. Isso foi uma surpresa para você? Sim, estou muito feliz. Samantha! é uma série muito importante para mim, é um personagem que eu adoro. Tanto a novela quanto a série são dois trabalhos muito legais. Independente do lugar e da plataforma, a era é dos atores. A gente trabalha e isso é o que importa. Eu fiz dez anos seguidos de novelas na TV Globo, e estou fazendo muito cinema nacional. A série tem um outro sabor para o ator: ter uma história por episódio é diferente de uma obra aberta. O tempo também é diferente. Novela é mais espaçada - são cerca de nove meses – tem um ritmo diferente. Samantha! foram três meses em uma imersão absurda. Trabalhei 12 horas por dia ininterruptamente.

As gravações de Ó Paí, Ó 2 já começaram. Vamos ver Rosa no filme? Não tem como. Não vou conseguir fazer série, novela e Ó Paí Ó.

Tem algum outro projeto previsto para esse ano? Vou lançar o meu segundo disco solo no segundo semestre. É um álbum todo em homenagem a Jards Macalé. Ele é o mestre e nesse momento ‘barra-pesada’ que a gente está vivendo no Brasil ele é o rei da utopia. Gravei em Nova York e estou na pós-produção.

*A repórter viajou a convite da Globo