'Eu disse para ele não ir', conta pai de jovem desaparecido após passeio

Bombeiros retomam buscas nessa sexta-feira por Robson de Jesus dos Santos, 19 anos

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  • Fernanda Santana

Publicado em 6 de setembro de 2018 às 22:04

- Atualizado há um ano

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Quando recebeu o convite de Ícaro, Robson saiu de casa, no Jardim Cruzeiro, para a Ribeira. Lá, entrou em um barco com o amigo, outras duas conhecidas e dois estranhos, que disseram ser os donos da embarcação. Era início da noite, e o grupo seguiu num passeio pela Baía de Todos-os-Santos. Poucas horas depois, Robson já estava submerso nas águas da Praia do Bate Estaca. Foi jogado ao mar pelos dois estranhos após tentar defender as colegas de uma tentativa de estupro. O pai, também chamado Robson, chegou a alertar o filho (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Essa versão, dada pelas vítimas à polícia, começou a ser investigada na quarta-feira (5) - dia do passeio - pela 29ª Delegacia (Plataforma). Robson de Jesus dos Santos, 19 anos, que mora com o pai, a madrasta e o irmão mais velho, continua desaparecido. Os bombeiros retomarão as buscas nessa sexta-feira (7). Na areia da Praia do Alvejado, por volta das 23h de quarta, policiais já tentavam entender a situação. As meninas Victoria Maria Branquini, 22, e Victoria Musi Vitti, 33, diziam apenas uma única coisa aos moradores: “Tentaram nos agarrar, jogaram os meninos na água e precisamos pular para nos salvar”. Testemunhas disseram que elas alternavam riso e choro, parecendo estar embriagadas.

Nesta quinta-feira (6), na delegacia, elas reafirmaram a versão, acompanhadas do outro tripulante do barco, Ícaro de Oliveira, 21. Até chegar à embarcação, segundo o titular da delegacia, Luís Henrique Costa Ferreira, o grupo, com exceção de Robson, já estava em ritmo de festa. Desde o início da quarta, rodavam pela Ribeira. Num bar da orla, ocorreu o primeiro encontro com os outros dois homens, que ainda não foram localizados pela polícia. Os rapazes, então, convidaram os três para um passeio. Eles aceitaram e seguiram para o mar. Robson só embarcaria na segunda viagem do quinteto, que retornou à Ribeira justamente para buscá-lo. Ao perceber a ligação de Ícaro chamando Robson para o passeio na Ribeira, o pai, também chamado Robson, chegou a alertar o filho. Presente à delegacia para acompanhar os depoimentos, o pai lembra: “Eu disse para ele não ir. Esse é um apelo de um pai que ama o filho: não defendam essas pessoas [supostos donos do barco]”. O filho, ainda assim, seguiu. Prestes a iniciar um curso para cabeleireiro pago pela avó, Maria Madalena de Jesus, seguiu rumo ao desconhecido.Tensão  Os familiares de Robson apontaram para Victória, 22, sentada na recepção da delegacia, ainda vestida de biquíni. Entre eles, uma das tias de Robson, Cláudia dos Santos. O clima começou a ficar tenso, e Cláudia perguntou o que todos tentavam entender: “Como é que vocês podem ir para um barco com dois desconhecidos?”. A mulher respondeu com uma defesa: “Se não fosse por mim, estaria todo mundo morto. A gente conseguiu pedir socorro”. Na versão dada em depoimento, o passeio acontecia sem Robson e foi Ícaro, o único amigo do rapaz, quem decidiu convidá-lo. Mas a família insiste em saber mais detalhes. Num momento visto pela reportagem, Victória diz ter conhecido Robson na tarde de quarta; pouco antes, no entanto, havia afirmado que estava com o rapaz na noite anterior. O delegado nega contradições no depoimento prestado pelas vítimas: “Os três falaram da tentativa de estupro. Que quando os homens se aproximaram, Ícaro e Robson foram empurrados. Depois, elas se jogaram”, disse o delegado Luís. Um amigo da família, Herbert Cerqueira compartilha uma crença que não foi citada em nenhum depoimento. Diz não duvidar de um ataque homofóbico contra Robson, assumidamente gay. “Acho que pode ter a ver com homofobia, sim. Não que tenha sido só isso. Mas acho que tem preconceito envolvido, sim”, acredita o familiar. Do lado de fora da delegacia, enquanto todos eram ouvidos, a mãe de Robson chorava. “Oh meu filho, onde você está?”, perguntava, sem resposta. O nome dela não foi divulgado. O pai ajoelhava-se de frente para Victória, tentando compreender o porquê de o filho ter embarcado no desconhecido. *Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro