Eu fiz 44. Você tem vergonha da sua idade?

Flavia é produtora e mãe de Leo

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 26 de maio de 2018 às 17:09

- Atualizado há um ano

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Não vou fazer aqui aquele discurso de que "estou melhor a cada ano". Porque é mentira. Amo a pessoa que sou agora, mas também me amava quando era jovem e ainda tenho saudades do tempo em que virava a noite com os amigos e no outro dia conseguia trabalhar normalmente. Ou nem tão "normalmente" assim, mas lembro que uma ressaca não doía três dias. Nas "manhãs seguintes", eu conseguia pensar e essa habilidade me faz falta.

Isso e muitas outras coisas ficaram para trás. E por mais que essa obsessão  coletiva pela juventude tente me enganar dizendo "você pode ser 'xófem' para sempre", eu não sou abestalhada e sei que o tempo passa, a gente "chega pra a idade" e isso não é tão legal.

De forma que eu não estou gostando de envelhecer, mas a alternativa é pior. Pelo menos pra mim, que queria viver eternamente. Então, entre morrer e ganhar umas rugas, vamos encarar a baixa de colágeno com dignidade. Vamos bebendo muita água entre as taças de vinho, fazendo os benditos check ups e comemorando cada aniversário com um misto de alegria (ainda tô aqui!) e "putaquepariu, passa muito rápido". Sobretudo, não vamos cometer o vexame de esconder a idade.

Quem quiser me elogiar, diga qualquer coisa real. Tenho cá meus predicados. Mas não mande aquele "nem parece que você já passou dos 40". Geração "ageless" é meuzôvo. Primeiro porque parece, sim. Sempre parece, em todos(as) nós. E depois porque essa mentirinha com jeito de gentileza só nos diz o seguinte: "se você quiser enconder, ainda dá". E isso é deprimente demais.

A gente só esconde o que é motivo de vergonha. E muitas coisas são tristes no mundo, mas entre elas estão todas as pessoas que ficam constrangidas por causa do tempo que já viveram. Essa coisa tão comum que virou regra de etiqueta: "de mulher não se pergunta a idade". Porque, é claro, pro nosso lado o negócio pega bem mais.

Tenho pena até de Glória (rica e linda) Maria, se você quer saber. Daquele mistério todo do "quantos anos ela tem". E de todas as mulheres que tentam driblar o tempo dizendo uns anos a menos sem conseguir, obviamente, enganar ninguém. Todas, todas introjetaram a ordem "mulher não pode envelhecer". Nenhuma delas entende que, o que parece apenas uma vaidade boba, é o reforço de um discurso que nos humilha ao afirmar tipo um "prazo de validade" social. Que ao esconder a idade, concordam, subliminarmente com a ideia de que "envelhecer me faz perder o valor". E isso é muito babaca.

Cada uma de um jeito, claro. E nenhuma obrigada a nada. Mas é com 44 anos que eu vou fazer topless, se eu quiser. E namorar com um cara de 20 (ou de 70), se for o caso. E fazer exatamente o que eu ficar a fim. A minha idade sempre estará estampada nas redes sociais, dita com todas as letras nas mesas de bar, assumidíssima em todos os processos de sedução.

Vou ficar desavergonhadamente velha, a cada ano que passa. O mundo que se vire pra me engolir. E pra lidar com todas as mulheres que já se alforriaram dessa mentirinha constrangedora, que já saíram dessa viagem. Estamos na pista e pra jogo. O problema não é nosso se essa liberdade, ainda pra muitas pessoas, parece até pornográfica.

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