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Eu me sentia desamparada quando ficava sem homem


 

  • Flavia Azevedo

Publicado em 02/06/2018 às 13:18:23
Atualizado em 18/04/2023 às 11:51:05
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Eu podia guardar pra mim e fazer de conta que já nasci "desconstruída", toda cheia de segurança e firme como uma rocha. Mas é mentira, tudo é processo. E como eu não tô aqui pra enganar ninguém, vou contar um negócio pra você: eu me sentia desamparada quando ficava sem homem. E dizer isso usando o verbo no passado me traz uma alegria tão grande que, dificilmente, vou conseguir expressar. 

Sim, era assim que eu me sentia. Mesmo quando terminava histórias que não me faziam bem, mesmo rodeada de amigos, mesmo numa boa fase profissional, mesmo tendo o grande amor do meu filho. Nada disso era suficiente pra aplacar o desamparo no qual estar sem um homem "do lado" me fazia mergulhar.

É claro que já tive histórias lindas, mas hoje quero falar das vezes em que, pra fugir desse sentimento, vivi "romances" sem amor nenhum. Só pra ter um cara. Relações cheias de tédio que, muitas vezes, terminaram com meu sumiço repentino. Eu toda errada por, simplesmente, não mais suportar. Em seguida, tudo de novo: o "desamparo" motivando um próximo envolvimento. Um ciclo que, felizmente, não foi eterno e do qual só eu mesma pude me salvar.

Seria menos grave se a minha questão fosse com a "opinião pública". Jamais foi. Nunca dei muita importância para o que a galera, o pessoal de fora, quem olha de longe pode pensar sobre mim. Acho até um certo prazer em desagradar já que a norma, a regra, o senso comum, essas coisas sempre me causam bocejos existenciais. É muito pior que isso. É pensar, de noite e sozinha no quarto, "cadê o cara que devia estar aqui?". 

Não é igual a querer um amor, achar massa ter alguém. Nisso, não vejo problema algum. Mas era não me sentir inteira se não tivesse um "namorado". Era achar tudo opaco, sem graça. Era ficar, internamente, em pausa esperando a próxima relação. Era olhar um homem no qual eu nem via graça e topar namorar, se ele ficasse a fim. Era emendar uma relação na outra, sem intervalo, até o ano passado. Um sentimento ruim, estranho e - tô percebendo agora - difícil de explicar.

Nada disso era racional, obviamente. Em cada história, eu achei que estava ali porque escolhi com liberdade. Só o desamparo era claro, em todos os finais. E foi nele que eu precisei pensar para, como diz meu filho, "desbloquear a próxima fase" dentro de mim. 

Se veio especificamente da Disney, da conversa de minha mãe ou de alguma música que ouvi, eu não sei e nem quero saber. É tudo, trabalhando junto, que nos convence de que, sem um homem, a vida é  cilada. Só que, para boa parte das mulheres, a real é exatamente o contrário. Justamente porque, nessa situação, "precisando" tanto assim, a gente não pode nem escolher direito. Percebe a sacanagem?

(E porque tem mulher que aguenta mais do que qualquer uma de nós devia suportar? Sim, também é por isso que precisamos nos reprogramar.)

Eu não preciso de um homem. Não pra me sentir "amparada". Nem nenhum deles precisa de mim. Eu preciso da minha família, dos(as) meus(as) incríveis amigos(as) e sobretudo de mim mesma.  Eu preciso do meu colo, da minha força de trabalho e de todo o tempo que eu já dei, de graça, em relações que não eram nada. Entender e sentir isso me levou a outro lugar e aqui é bem mais confortável.

Sexo e beijo na boca nunca faltaram e nem vão me faltar. Mas eu não preciso mais de uma relação continuada, apresentar alguém ao meu filho nem fazer planos incluindo um homem imaginário. Você pode pensar "duvido". Ok, é um direito seu. Mas se você pudesse sentir o que eu sinto terminando esse texto pra ir ali abrir um vinho, se você pudesse ver a tranquilidade com que cancelei um encontro no domingo passado e o quanto estou feliz por construir uma casa que comporta a mim e ao meu filho, mas não tem paredes suficientes para abrigar um casal... ah, baby, você acreditaria: é possível, e até bem fácil, entender que há muita vida gostosa sem um homem pra chamar de seu.

(E se me encontrar casada por aí, não ache que é contradição. Eu já sei que não preciso, mas posso desejar. Espero que, de agora em diante, apenas pelo motivo certo: ficar com alguém porque amo e não porque "sozinha não dá").

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