'Eu só fazia gritar e pedir por socorro', diz mãe de menina baleada na Liberdade

Criança foi uma das 11 pessoas feridas após uma festa no bairro no sábado (14)

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  • Thais Borges

Publicado em 15 de outubro de 2017 às 14:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr./CORREIO

Era uma comemoração pelo Dias das Crianças. A festa onde pelo menos 11 pessoas foram baleadas, na noite deste sábado (14), na Avenida Peixe, na Liberdade, foi organizada para celebrar o dia dos pequenos, após o feriado de quinta-feira (12), de acordo com parentes das vítimas. A programação teria começado às 10h. 

“Teve brincadeiras, pula-pula, cachorro-quente, pipoca, distribuição de brinquedos. À noite, estava tendo banda. Eu estava lá com meu irmão e meu filho de 5 anos”, contou a manicure Suzane Fiais, 28, na manhã deste domingo (15), ao CORREIO. Para participar do evento, as famílias tinham que levar um quilo de alimento, que seria destinado a instituições de caridade.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-BA) deu uma versão diferente: segundo o órgão, o evento que acontecia no bairro era uma ‘festa de paredão’. O palco do paredão estava montado entre a Rua da Mangueira e a Avenida Peixe e, de acordo com a SSP, houve confronto entre integrantes de duas facções rivais.

A família de Suzane estava na festa acompanhada de amigos, mas o pai dela, o pintor Paulo César Soares Fiais, 55, não estava. Uma das vítimas do atentado, Paulo César estava em sua casa, em frente ao local onde acontecia a festa. Segundo a filha, ele dormia quando, por volta das 22h30, foi acordado pelo barulho dos tiros. "Ele ficou preocupado e, quando os tiros pararam, saiu para procurar a gente. Só que depois da primeira leva de tiros, teve a segunda, e ele foi atingido", disse Suzane Fiais, filha de uma das vítimas do atentadoEntre uma série de tiros e outra, houve um intervalo de aproximadamente cinco minutos, segundo as testemunhas. Depois, os tiros pareciam não parar. Moradores da região contaram ter escutado mais de 70 disparos.

Foi um desses que atingiu Paulo César, baleado no peito. Desde a noite de sábado, ele está internado no Hospital Geral Ernesto Simões. Já passou por uma cirurgia para a remoção do projétil, mas segue em observação na unidade. 

Na hora do pânico e da correria, Suzane não viu o pai. Sequer sabia que ele tinha saído de casa. Tinha conseguido, com a família e os amigos, abrigo na casa de um conhecido que estava mais perto do local onde tinham escolhido para ver o show. Não sabe, ao certo, de onde os tiros vieram. 

Só se lembra de tê-los ouvido e, depois, de ver seu pai caído no meio das pessoas. Paulo César é casado, pai de duas filhas e mora na Rua da Mangueira desde criança. “Nunca imaginamos que algo assim podia acontecer. Nunca passei por nada tão assustador em toda a minha vida. Só pensava nas crianças, que eram muitas. Tinha muita mãe de família”, diz 

Menina de 11 anos Uma das crianças era justamente a filha da operadora de caixa Cristina Ferreira, 37. A menina, que tem 11 anos, tinha participado da festa durante todo o dia. À noite, na hora do tiroteio, estava em casa. Mas, assustada, quando escutou os barulhos cessarem pela primeira vez, fez a mesma coisa que Paulo César: saiu em busca da mãe. 

Cristina estava na porta da casa do pai, bebendo com a família e os amigos. Quando o atentado começou, ela correu, tentando proteger o pai. Não viu que a filha passou por ela, pela frente da casa, tentando encontrá-la na rua. Em meio a tanto desespero, a menina também não a avistou. “Eu entrei em desespero. Só fazia gritar e bater nos carros, pedindo a alguém para dar socorro. É horrível ver sua filha desfalecida. Você só grita por socorro",  Cristina Ferreira, mãe da garota de 11 anos baleada na festa“Eu só vi depois, quando ela apareceu sendo carregada, no colo de um amigo”, contou Cristina. 

A ajuda veio dos próprios moradores. Quem tinha carro ajudava a transportar os feridos. Pouco depois, policiais militares da Operação Gêmeos chegaram ao local e também ajudaram no socorro, levando as vítimas, em viaturas, até os hospitais. 

A menina foi encaminhada ao Hospital Geral Ernesto Simões e passou por uma cirurgia. Ela foi atingida em uma das pernas e, até o fim da manhã deste domingo, permanecia no centro cirúrgico. Ela é aluna do 6º ano do Ensino Fundamental, na Escola Estadual Classe II, em Pero Vaz. 

Além da garota e de Paulo César, outras nove pessoas foram feridas no atentado. No Ernesto Simões, estão internados também Alaíde Nunes da Silva, 49, Danilo Marcondes Dener Santos, 30, e um adolescente de 13 anos. Outras seis pessoas foram encaminhadas ao Hospital Geral do Estado (HGE): Jeferson Oliveira Carvalho Santos, 31; Everton Vinicius Filgueiras Rosa, 18; um homem identificado apenas como Silvio, que teria 40 anos e um adolescente de 17 anos. Fábio Borges Santos, 29, foi levado inicialmente para o Hospital Geral Roberto Santos, mas foi transferido para o HGE em seguida.