'Eu tinha ideias suicidas': veja relatos de quem conviveu com transtornos mentais

Conheça os 10 tipos de doenças psíquicas, segundo a Organização Mundial de Saúde

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  • Yasmin Garrido

Publicado em 24 de fevereiro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fábio Pozzebom/Arquivo Agência Brasil

A Organização Mundial de Saúde afirma que existem dez tipos de transtornos mentais. São eles: depressão, psicose, transtorno bipolar, epilepsia/convulsões, transtornos do desenvolvimento, transtornos comportamentais, demência, transtorno por uso de álcool, transtorno por uso de drogas e autoagressão/suicídio. Só na Bahia, no ano passado, 5.568 pessoas buscaram ajuda com um deste problemas.

De acordo com a organização, “em episódios depressivos típicos, a pessoa sente, durante no mínimo duas semanas, o humor deprimido e uma redução da energia que leva a uma diminuição da atividade, perda do interesse e do prazer". 

Esse foi o caso da advogada Juliana Carvalho, 32 anos, que teve a depressão e a ansiedade desencadeadas após o término de um relacionamento.“Eu não conseguia levantar da cama, minha cortina vivia fechada e eu passava o dia de pijama, apenas com vontade de chorar”, lembra. Ela, que teve tratamento com psicólogos e psiquiatras, relatou ao CORREIO a importância da família e dos amigos durante o processo. “Eu tinha ideias suicidas, apesar de nunca ter coragem de colocá-las em prática. Mas, só de pensar, já ficava assustada”, admite.

A Coordenadora de Atenção Especializada à Saúde da Secretaria Municipal da Saúde, Anne Larissa, explicou que “a família fortalece a vinculação dos usuários com o tratamento, contribuindo com o acompanhamento em casa e auxiliando nas estratégias de cuidado”. 

Um dos transtornos que faz com que o paciente pense em tirar a própria vida, além da depressão, é o chamado autoagressão, que pode evoluir para o suicídio e envolve o envenenamento ou a lesão intencional do corpo. A OMS alerta que “perguntar sobre autoagressão não provoca atos de autoagressão e, em geral, reduz a ansiedade associada aos pensamentos ou atos e ajuda a pessoa a se sentir compreendida”. 

O transtorno é grave e quase causou uma tragédia na família de Carlos Roberto Alves, 62, que viu a próprioa filha tentar se matar. Advogada, de 32 anos, ela ficou muito abalada após o término do seu noivado, que durou nove anos e perdeu a vontade de viver.

Segundo o pai, em busca de superação, a filha se envolveu com o que ele chama de “más influências”. O que era para ser a cura da tristeza acabou se transformando em pesadelo. “Ela começou a não dar mais atenção ao trabalho. A depressão, a gente já sabia que existia, mas ela passou a beber e usar drogas. Tudo começou a ficar insuportável, até que decidimos interná-la à força. No início, ela nem nos deixava fazer as visitas na clínica, mas, depois, aceitou o tratamento. Hoje, ela está bem, graças a Deus”, desabafou. O tratamento da filha de Carlos Roberto foi todo feito em uma clínica particular de Salvador, com cobertura pelo plano de saúde, já que as diárias custam cerca de R$ 1,5 mil.

A psiquiatra Sandra Peu, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, explicou que se tratar em clínicas particulares, na maioria das vezes, é o melhor caminho, já que “na rede privada, a rapidez para conseguir consultas psiquiátricas e com outros profissionais de saúde mental é muito maior que na rede pública”. 

Ainda segundo a médica, “quem pode pagar por uma internação psiquiátrica terá menos exposição aos riscos inerentes de um surto psiquiátrico não tratado rapidamente, inclusive de suicídio, uma vez que, na rede privada, é possível manter um dependente clínico em internação pelo tempo necessário”. 

Transtorno bipolar Segundo a OMS, o transtorno bipolar, que muitas vezes é motivo de piada na sociedade, é mais sério do que se imagina e pode ser diagnosticado ainda na infância. A doença é "caracterizada por episódios nos quais o humor e os níveis de atividade de uma pessoa ficam gravemente alterados”. 

A arquiteta Lucélia Dias é mãe de Luiza, de 12 anos, e viveu essa experiência em casa. Ela contou que a menina, desde muito cedo, tinha rompantes de humor, vivia extremamente irritada e, em alguns momentos, ficava quieta demais.“Era estranho, porque ela começou a ficar excluída na escola. Ela tinha dificuldades de manter os vínculos com os colegas, não queria fazer as atividades de casa, gritava muito”, disse a mãe. Aconselhada por uma amiga, Lucélia buscou ajuda em uma clínica psiquiátrica particular, no bairro de Ondina. “Eu tentei marcar uma consulta, mas eles só tinham vaga para três meses depois. Então, a própria atendente me alertou para levar Luiza na emergência da clínica. Depois de duas consultas e alguns exames, foi diagnosticada a bipolaridade”, relatou. 

A alteração de comportamento de quem tem transtorno bipolar, em algumas vezes, representa uma exaltação do humor ou o aumento da energia e da atividade (mania), e, em outras, justamente o oposto, com o paciente apático e com quadro depressivo. De acordo com a OMS, quem tem apenas manias - aquelas que chegam a atrapalhar a rotina - também pode ser considerado bipolar. 

Psicose A psicose é caracterizada por distorções do pensamento e da percepção, ou por emoções inadequadas e expressão reduzida. Segundo a OMS, “alucinações (ouvir vozes ou ver coisas que não existem), delírios (crenças falsas irredutíveis e idiossincráticas) ou desconfianças excessivas ou injustificadas também podem ocorrer”. 

A pessoa diagnosticada com psicose pode portar graves anormalidades de comportamento, como desorganização, agitação, excitação, hiperatividade ou inatividade. Além disso, de acordo com a OMS, é possível detectar, em um psicótico, perturbações das emoções, como apatia acentuada ou uma desconexão entre a emoção relatada e o afeto observado. 

Epilepsia/Convulsões A epilepsia, por sua vez, é uma condição crônica, caracterizada por convulsões recorrentes não provocadas. A doença tem várias causas, podendo ser genética ou ocorrer em pessoas com história de trauma de parto, infecções cerebrais ou traumatismo craniano. A OMS alerta que, em alguns casos, é possível que não seja identificada nenhuma causa. 

As duas formas principais de epilepsia são convulsiva e não convulsiva. A epilepsia não convulsiva se caracteriza por alterações da consciência, do comportamento, das emoções ou dos sentidos (paladar, odor, visão e audição), enquanto a convulsiva causa contrações musculares súbitas que fazem com que a pessoa caia em estado de rigidez. 

Transtornos do desenvolvimento e transtorno comportamentais Os transtornos do desenvolvimento podem ser em forma de retardo mental ou incapacidade intelectual, além de transtornos desintegrativos, que podem desencadear um autismo. Segundo a OMS, “esses transtornos, geralmente, têm início durante a infância, mas tendem a persistir até a idade adulta”.

Já os transtornos comportamentais envolvem o THDA (déficit de atenção), além de uma frequente desobediência. Os sintomas comportamentais possuem graus variados e atingem crianças e adolescentes, sendo comum que permaneçam até a fase adulta. 

Demência A demência é mais comum em pacientes idosos, uma vez que se caracteriza pela produção de alterações na capacidade mental, na personalidade e no comportamento de uma pessoa a partir da degeneração do cérebro. Quem tem demência geralmente apresenta queixas de esquecimento e de depressão. 

Transtorno por uso de álcool e transtorno por uso de drogas O consumo excessivo de álcool também pode levar ao surgimento de transtorno mental, relacionado à intoxicação aguda, ingestão nociva, dependência e à síndrome de abstinência. A OMS aponta que, já o uso de drogas, "pode levar à overdose aguda por sedativos, intoxicação ou à overdose por estimulantes e ao estado de abstinência". 

Veja abaixo onde buscar atendimento de emergência em Salvador: 

Rede privada:  Clínica Ápice In: Rua Macapá, 376, Ondina. Telefone: (71) 3018-8350 Holiste Psiquiatria: Rua Marquês de Queluz, 323, Pituba. Telefone: (71) 3082-3611  Rede Pública:  CAPS II bairro Garcia | Telefone: (71) 3329-1004  CAPS II Oswaldo Camargo: bairro Rio Vermelho | Telefone: (71) 3611-3916  CAPS I Prof Luís Meira Lessa (Criança e Adolescente): bairro Rio Vermelho | Telefone: (71) 3335-6827  CAPS II Rosa Garcia: bairro Jardim Armação | Telefone: (71) 3489-9795  CAPS II Aristides Novis: bairro Engenho Velho de Brotas | Telefone: (71) 3611-2952 / 2953  CAPS II Eduardo Saback: bairro Pernambués | Telefone: (71)  CAPS bairro Pernambués (álcool e drogas) | (71) 3116-4696  CAPS II Nise da Silveira: bairro Cajazeiras | Telefone: (71)  CAPS II Águas Claras | Telefone: (71) 3309-9641  CAPS II Dr. Antonio Roberto Pellegrino: bairro Jardim Baiano | Telefone: (71) 3321-3679  CAPS II Franco Basaglia: bairro de Itapuã | Telefone: (71) 3285-0396  CAPS II Prof. Adilson Sampaio: bairro Caminho de Areia | Telefone: (71) 3611-6584/6585  CAPS II bairro Liberdade | Telefone: (71) 9997-9566  CAPSIA (infância e adolescência): bairro Liberdade | Telefone: (71) 3256-0869  CAPS II: bairro Pau da Lima | Telefone: (71) 3611-6584  CAPS II bairro São Caetano| Telefone: (71) (71) 32592556  CAPS II Maria Célia Da Rocha: bairro Alto de Coutos | Telefone: (71) 3397-6743  CAPS ad III Gey Espinheira: bairro Barris : Telefone: (71) 3329-7393  * Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro e da subeditora Fernanda Varela