Euforia com eleições turbina a Bolsa; dólar recua

Bolsa fechou o dia com alta de 4,57%, aos 86.083 pontos

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  • Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2018 às 05:48

- Atualizado há um ano

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A vantagem de 16,5 pontos percentuais que o candidato Jair Bolsonaro (PSL) obteve sobre Fernando Haddad (PT) e a composição mais conservadora do Congresso Nacional levaram o Ibovespa, principal índice da Bolsa de São Paulo, a movimentar R$ 28,9 bilhões  ontem - o  maior volume nominal da história. A interpretação dos investidores é que o novo perfil do Congresso poderá dar governabilidade a Bolsonaro, permitindo que ele encaminhe reformas econômicas, caso seja eleito.

Apesar do feriado nos Estados Unidos - que costuma enfraquecer o movimento nos mercados -, a Bolsa fechou o dia com alta de 4,57%, aos 86.083 pontos - nível mais elevado em quase cinco meses.  O dólar se descolou do exterior e terminou em baixa de 2,40%, aos R$ 3,76 - cotação mais baixa em dois meses. 

“Nenhum analista político havia previsto uma renovação como a que se deu no Congresso nem a vitória de governadores que apoiam Bolsonaro. O mercado comemorou esses resultados”, disse a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif. Ela destacou, porém, que os investidores estão desconsiderando os riscos futuros. “A agenda econômica fica de escanteio no discurso de Bolsonaro. Domingo à noite, ele falou em reduzir a carga tributária e privatizar 50 estatais, o que não é possível”, acrescentou. 

O economista Silvio Campos, da Tendências Consultoria, destacou que, apesar de o conservadorismo ter crescido no Congresso, ainda há dúvidas em relação à capacidade de articulação política do candidato de direita. 

“Prevaleceu o conservadorismo, o que mostra que talvez não seja tão complexo para Bolsonaro, se ele vencer, montar uma base. Mas a gestão dessa base gera preocupação”, analisou. 

Estatais 

As ações das empresas relacionadas ao governo estão entre as que mais avançaram ontem. Os papéis ordinários (com direito a voto) da Eletrobrás subiram 17,3%. O economista Paulo Guedes, responsável pelo programa econômico de Bolsonaro, já indicou a intenção de dar continuidade ao projeto do presidente Michel Temer de privatizar a companhia.

As ações preferenciais da Petrobras (sem direito a voto) foram as mais negociadas, movimentando R$ 947,7 milhões e subindo 11%. O setor bancário, o de maior peso na composição do índice Ibovespa, também registrou fortes ganhos. As preferenciais do Itaú Unibanco e do Bradesco subiram, respectivamente, 6,16% e 6,68%. Os papéis do Banco do Brasil avançaram 9,79%.

Segundo Campos, a alta nesses papéis decorre da análise dos investidores de que as estatais estarão mais blindadas de uma gestão politizada do que estariam em um eventual governo petista. “Não é só a questão da possível privatização”, afirmou. 

Na semana passada, o general Oswaldo de Jesus Ferreira, da equipe de Bolsonaro, disse ao jornal O Estado de S. Paulo que um possível governo do PSL não privatizaria empresas estratégicas, como Furnas, Caixa e Banco do Brasil.

O analista Glauco Legat, da Spinelli Corretora, também citou o relacionamento entre Bolsonaro e Paulo Guedes como uma fonte de preocupação. “Hoje (ontem), o mercado viveu apenas o lado positivo, mas a volatilidade não foi afastada, porque ainda se espera um contra-ataque do PT”, acrescentou, em referência às mudanças que podem ocorrer durante a campanha no segundo turno.

Bernd Berg, gestor de mercados emergentes na Woodman Asset Management em Zurique, na Suíça, acredita que o resultado do primeiro turno das eleições reduz as incertezas, o que favoreceu o desempenho dos mercados ontem.    

Além de dólar e Bolsa, outros ativos também reagiram de forma positiva ao resultado do primeiro turno das eleições presidenciais. Houve uma queda dos juros no mercado futuro. Os contratos com vencimento em janeiro de 2019 recuaram de 6,540% para 6,537% ao ano. Os que vencem em janeiro de 2020 caíram de 8,22% para 7,85% ao ano.  

O risco Brasil medido pelo Credit Default Swap (CDS) - um derivativo de crédito que protege o investidor contra calotes na dívida soberana - também recuou ontem, chegando a cair 9%, para 220 pontos base, o menor nível desde 8 de agosto.