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Encontro será transmitido no YouTube e Facebook, a partir desta quarta-feira (4)
Laura Fernades
Publicado em 3 de novembro de 2020 às 06:10
- Atualizado há um ano
Já ouviu falar na renda de bilro? Há quem diga que no passado, em Portugal, essa tradição antiga – ainda desconhecida por muitos – surgiu quando os homens iam embora para tentar melhorar de vida antes de casar e as mulheres passavam o tempo bordando lenços à espera do amado. Mito ou verdade, o certo é que a técnica trazida para o Brasil virou tradição de muitas famílias.
E é isso o que mostra o encontro virtual e gratuito Linhas e Tramas sobre o Têxtil Artesanal, que começa nesta quarta-feira (4) e segue até dia 16 com transmissão pelo YouTube e pelo Facebook. Rendeiras de Saubara e Ilha de Maré estão na programação do evento que também vai contar com pesquisadoras dispostas a falar sobre a importância do acervo têxtil para a preservação da cultura tradicional.
“É um prazer ser convidada para participar. A gente vai levar o conhecimento para quem não sabe – e muita gente da cidade não conhece”, comemora a rendeira e marisqueira Diana Félix, 29 anos, de Saubara. Acostumada a ver a mãe costurando em casa, Diana aprendeu a fazer renda de bilro com 10 anos de idade. Hoje, grávida de 3 meses, já garantiu que seu filho ou filha vai seguir os passos da família.
“É uma tradição que espero que nunca se acabe”, deseja a convidada da mesa Linhas do Fazer: A (re) existência da Renda de Bilros na Bahia, que acontece na segunda-feira (9), a partir das 16h. No encontro, além de falar sobre a admiração pela cultura herdada da mãe, Diana vai falar sobre sua atuação na Associação dos Artesãos de Saubara e contar como viu no artesanato uma complemento par a renda da família.
Suas peças custam a partir de R$ 18 (marcador de livros) e já chegaram a R$ 6 mil (detalhes para um vestido de noiva). Mesmo ganhando pouco, Diana diz que esse é um motivo de orgulho. “Sou muito independente, sinto isso na renda. Ali é meu trabalho, meu dinheiro, sem depender de marido e de ninguém. Uso com o que eu quiser”, defende.
Resistência Realizado pelo Teciteca, grupo de pesquisa e extensão da Universidade Federal da Bahia, o evento tem participação da colecionadora Lucy Niemeyer, da designer Márcia Ganem e de Vera Filippi, doutora em Design pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Nosso foco é aproximar e mostrar para os artesãos que a academia não é um bicho papão”, explica a professora Priscila Lolata, coordenadora do Teciteca.
A partir do diálogo entre academia e comunidades tradicionais, o objetivo do evento é dar visibilidade ao trabalho dessas mulheres, reforçar a importância da tradição mantida na Bahia e mostrar como ela se transformou localmente. Por isso, a proposta é fazer com que as próprias rendeiras compartilhem suas histórias com o público e com as pesquisadoras convidadas.
A programação não deixa de refletir sobre os benefícios do trabalho feito à mão. “É um encontro consigo, porque você se concentra, está com você. Você está olhando atento ao que está fazendo”, comenta Lolata. “Estamos tão dispersos com tanta informação no mundo que é importante exercer a concentração”, opina. Lolata reforça, ainda, o poder que a habilidade manual tem na autoestima.
“Quando você vê essa produção e entende que é feita à mão... É impressionante. É uma coisa tão rica! E tem outra questão: esses trabalhos artesanais emanciparam essas mulheres, ajudaram muitas delas. Quero conhecer essas histórias”, justifica. “Mas não dá só para estudar a renda, tem que entender todo o contexto. Entender qual é o papel. Por isso ‘(re) existência’. Como essas rendas resistem hoje?”, provoca.
Acompanhe as lives
Live 1: A importância do acervo têxtil para preservação da cultura tradicional Vera Filippi Lucy Niemeyer Quarta-feira (4), às 16h
Live 2: Linhas do fazer: a (re) existência da renda de bilros na Bahia Com Maria da Conceição (Dona Conci), Maria do Carmo e Diana Felix Segunda-feira (9), às 16h
Live 3: Linhas e rendas: a malha relacional de Saubara. Com Márcia Ganem e Maria do Carmo Segunda-feira (16), às 16h
Transmissão das lives: canal da Teciteca UFBA no YouTube e no Facebook Gratuito