Evento na Ufba discute direitos sexuais e reprodutivos das mulheres

Ato fecha o Março Lilás, mês de comemoração do Dia Internacional da Mulher

  • D
  • Da Redação

Publicado em 28 de março de 2019 às 21:12

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho / CORREIO

Até onde vai o direito ao seu próprio corpo? Núcleos de estudos, grupos de pesquisa e movimentos sociais se reuniram nesta quinta-feira (18), na Praça das Artes da Universidade Federal da Bahia (Ufba), para discutir temas como aborto, direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. O evento fecha o calendário dos grupos do Março Lilás, mês de comemoração do Dia Internacional da Mulher.

Chamada de ato pela vida das mulheres, a atividade contou com um ato cultural com músicas, protestos e espaço para manifestações. Um debate ocorreu, posteriormente, com a professora e pesquisadora Greice Maria de Souza Menezes e com a pesquisadora Emanuelle Góes, ambas do Programa Integrado em Gênero e Saúde (Musa/Ufba).

Mesmo com a lei que proibe o aborto, estima-se que mais de 500 mil mulheres realizam o ato de forma clandestina, anualmente, no Brasil. O número é grande e os problemas gerados são ainda maiores. Quem não tem estrutura para interromper a gravidez pagando a uma clínica clandestina para fazer isso de forma segura, acaba encontrando condições precárias e, muitas vezes, morrendo.

A professora Emanuelle Góes, autora da tese Racismo e Aborto (2018), defende que o aborto clandestino atinge todas as mulheres, mas não de forma igual.“Quando inseguro, com complicações como infecções e hemorragias graves, o aborto se apresenta de forma mais cruel para as mulheres negras e da periferia, pois o risco de morte materna por aborto no Brasil é quase três vezes maior para as mulheres negras que para as mulheres brancas”, destacou. Pesquisadoras Maíra Kubik, Ana Paula dos Reis e Greice Menezes fizeram parte de ato político-cultural (Foto: Arisson Marinho / CORREIO) Greice Menezes defendeu que o conhecimento produzido dentro da universidade não deve ficar restrito, e sim, ser discutido com a sociedade.

“É importante que a gente traga esse conhecimento produzido através das investigações sobre mortes de mulheres por aborto, as experiências dessas mulheres e as políticas de saúde sociais que impactam os direitos reprodutivos das mulheres", explicou.

"É importante pensar a partir disso como conhecimento que qualifica a discussão, principalmente sobre esses temas que, sobretudo no contexto atual, têm sido discutidos de uma perspectiva extremamente moral, pautada em valores religiosos - que ainda que possam ser considerados, não dão conta da complexidade desses eventos na vida das mulheres”, completou Greice.

Do ponto de vista dela, a sociedade, em geral, apenas tem acesso a uma discussão simplista e equivocada sobre o assunto, sob uma ótica “de um credo religioso, de uma determinada posição moral”.

Ela utilizou as campanhas eleitorais para exemplificar a falta de profundidade dos discursos. “Eles usam ‘é crime, é pecado e portanto as mulheres têm que ser presas ou têm que ser proibidas de fazer isso’”, disse.“A criminalização das mulheres, não só no Brasil, mas em todo o mundo, é uma política absolutamente desastrosa, porque empurra as mulheres para a morte, para complicações e para reforço das desigualdades sociais importantes”, acrescentou Greice Menezes.A coordenadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim) da Ufba, Maíra Kubik, defendeu que o assunto deve ser discutido nos espaços públicos por conta da forma com que ele é tratado na atualidade. “O Brasil vive uma situação muito limítrofe nesta pauta. A nossa percepção é que, em função da restrição dos direitos reprodutivos, muitas mulheres estão morrendo e sendo criminalizadas no Brasil”, disse.  Evento contou com ato político-cultural na Praça das Artes da Ufba (Foto: Arisson Marinho / CORREIO) O evento foi organizado pelos grupos Neim, Musa, Grupo de Estudos sobre Saúde da Mulher (GEM-Ufba), Luta de Classes e Movimentos Sociais (LeMarx-Ufba), Associação dos Docentes da Universidade do Estado da Bahia (Aduneb) e Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres e Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB).“É importante destacar que é uma parceria da universidade com outros movimentos sociais. Nessa articulação, temos temas relevantes para a sociedade Eventos como esse são importantes. São espaços privilegiados para a gente divulgar o que é produzido aqui”, disse Ana Paula dos Reis, coordenadora do Musa.A ativista feminista Maria José Araújo, que é médica especialista em saúde mental feminina, esteve presente no evento e discursou defendendo a criação de políticas públicas inclusivas. Ela destacou que, além da questão do próprio aborto, as mulheres são as grandes consumidoras de medicamentos psiquiátricos do mundo.

“Elas são 74% de todos os consumidores. Isso pela violência sexual, falta de políticas públicas, problemas na divisão de trabalho doméstico, discriminação, racismo. Chega de condenar as mulheres, de culpá-las de tudo. A situação não é simples. Não é só ser contra ou a favor. Não podemos julgar. O Brasil, por constituição, é laico. As políticas públicas deveriam ser laicas”, defendeu Maria José.

A estudante de Bacharelado Interdisciplinar de Artes Maiara Maia, 27, aproveitou o espaço para divulgar seu novo single. Cantora, ela lançará uma música sobre o assédio virtual que as mulheres sofrem. “O espaço tem que ser aberto para todos. Principalmente quando é a mulher. O espaço tem que estar aberto, principalmente quando é na faculdade”, disse.