Ex-funcionário e advogada acusam sócio da Amávia Cosméticos de agressão

'Me deu um murro e espancou Rafael', diz advogada, que relata também ameaças

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  • Carol Neves

Publicado em 14 de fevereiro de 2022 às 11:47

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

Um ex-funcionário da Amávia Cosméticos e a advogada dele acusam o sócio da empresa, Carlos Nunes, de agressão. A violência aconteceu em uma reunião que buscava um acordo trabalhista extrajudicial entre as partes, na sede da empresa, no bairro de Portão, em Lauro de Freitas, no último dia 10. As vítimas prestaram queixa na 34ª Delegacia (Portão) e fizeram exame de corpo de delito. Nunes nega.

Rafael Batista, que trabalhou por cerca de um ano na empresa, postou um vídeo nas redes sociais denunciando a situação. "Eu temo pela minha vida, ele me ameaçou de morte, é uma pessoa que tem meu endereço", diz ele na gravação.

O ex-funcionário diz que a relação de trabalho na Amávia era "tóxica e abusiva" e que vários direitos não eram cumpridos. "Não recebia hora extra, era deslocado de maneira aleatória, às vezes tinha toda uma programação que era refeita. Eu não tinha direitos trabalhistas recolhidos, que deveriam. Passei por um processo de pejotização", acrescenta, dizendo também que não tinha a "estrutura mínima" para o trabalho. O funcionário começou a trabalhar no local como cabeleireiro e depois se tornou supervisor técnico."Quando fui buscar meus direitos, fui agredido com muitos murros, minha orelha ainda tá inchada. Murros no braço, não consigo nem fechar a mão direito. Fui agredido por um homem enorme, foram necessários diversos funcionários para tirar ele", acrescenta. "Ele já entrou de forma extremamente agressiva, perguntando se a gente estava gravando, meteu a mão no meu celular, no celular da minha advogada", diz. Logo depois, começaram as agressões.

"Vocês não vão sair daqui de Portão" A advogada Yasmin Oliveira conta que já havia feito uma proposta de acordo extrajudicial e esperava um contato dos advogados da empresa para fazer a homologação, mas uma representante do setor de Recursos Humanos da Amávia ligou para Rafael pedindo a reunião. Ao chegar lá, eles foram informados que a empresa não faria nenhum acordo com o funcionário e que Nunes queria falar com eles. "A primeira coisa que ele perguntou foi se a gente estava gravando", diz a advogada. Ao ouvir a negativa, diz, o empresário já avançou e tirou os celulares das mãos dos dois "e jogou longe". 

"Ele já foi direto pra Rafael e disse 'Vou mostrar para vocês como é que eu resolvo as minhas coisas", relembra. Nessa hora, Yasmin pensou em recuperar o celular para chamar a polícia. "No que eu peguei o telefone, foi nesse momento que ele me dá um murro". Outros funcionários chegaram e seguraram Nunes, que foi retirado da sala. Yasmin então trancou a porta, ficando só com Rafael."Ele começa a gritar do lado de fora: 'Vocês não vão sair daqui de Portão, vocês não sabem quem eu sou", conta.Yasmin diz que foi pressionada para abrir a porta, mas ela já havia feito duas ligações para a polícia e que aguardaria a chegada da viatura. "Eu não tinha segurança nem pra minha vida, nem pra meu cliente. Ele me deu um murro, ele espancou Rafael. Só sairia com escolta policial", lembra. 

Uma equipe da 52ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) foi até lá - Nunes não estava. Os policiais levaram Yasmin e Rafael até a 34ª Delegacia (Portão). "Fui muito bem atendida, agredeci o fato de ser uma mulher (delegada Andrea Arrais), ela me acalmou, ainda estava muito nervosa. Eu demorei pra entender tudo que tinha acontecido". Os dois fizeram exame de corpo de delito no mesmo dia. 

A advogada conta que ficou com receio de expor o caso, preocupada com a família - ela tem uma filha de 7 anos. Depois de publicar o vídeo, Rafael sofreu novas ameaças, diz. "Eu não queria ser lembrada assim. Não queria que as pessoas acessam minha página e me vissem assim. Não queria que minha filha tivesse acesso a isso", diz. 

Nunes nega Em nota divulgada à imprensa, o empresário Carlos Nunes diz que os fatos não aconteceram "da forma contada" e que não se curvará a "chantagens", afirmando que se tratam de alegações caluniosas. "As medidas judiciais e administrativas cabíveis já estão sendo adotadas e, restará devidamente comprovado, que as acusações são infundadas e inverídicas", diz (leia nota completa abaixo).

O Grupo Amávia também divulgou nota negando as acusações do ex-funcionário e dizendo que trata do assunto nos órgãos competentes. "O Grupo é contra e repudia qualquer tipo de violência, sempre tratou toda equipe com ética e respeito, cumpridora da Lei e das suas obrigações. Reforçamos nosso compromisso e respeito, para com os clientes, amigos e toda equipe de colaboradores, afinal somos uma empresa com 10 anos de mercado, e, com a reputação ilibada", diz o texto.

A Polícia Civil diz que o caso segue sob investigação da 34ª Delegacia e que vítimas e suspeito já foram ouvidos na unidade. Foi lavrado um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por lesão corporal contra o acusado. A delegacia espera os laudos da perícia para concluir o inquérito e encaminhar o procedimento à Justiça.

OAB repudia Em nota, a OAB-Bahia diz que a Procuradoria Jurídica da instituição foi acionada na sexta (11) e já trabalha no caso. "A estrutura da Procuradoria de Prerrogativas da OAB-BA, bem como das comissões de Defesa da Mulher e da Mulher Advogada, com o apoio do Conselho Consultivo da Jovem Advocacia, estão trabalhando de forma conjunta, para que as sanções cabíveis sejam aplicadas aos agressores", diz a nota. "A OAB da Bahia repudia a covarde agressão à advogada Yasmin Oliveira e presta sua irrestrita solidariedade à profissional e à mulher", acrescenta a OAB.

Leia na íntegra a nota de NunesTenho uma caminhada de luta, sou negro, nascido e criado no bairro da Liberdade e, sempre pautei a minha história na ética e no respeito, bem como na valorização do ser humano, tenho orgulho da minha história e não me curvarei à chantagens e nem serei conivente com nenhum ato ilícito.

Ao tomar conhecimento das declarações emitidas, as refuto completamente, visto que jamais ocorreram da forma contada, o que será provado judicialmente, porque não tenho dúvidas de que a Verdade, prevalecerá.

Assim, contesto todas as alegações caluniosas publicizadas e repudio qualquer tentativa de manchar a minha imagem e a de uma empresa com princípios sólidos e alicerçados na diversidade e no respeito aos direitos humanos, sobretudo das mulheres.

Informo, ainda, que as medidas judiciais e administrativas cabíveis já estão sendo adotadas e, restará devidamente comprovado, que as acusações são INFUNDADAS e INVERÍDICAS.