Expectativa e realidade no Brasil da política ou da bola

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  • Da Redação

Publicado em 18 de maio de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Pelas mãos de dedos longos e afilados, deve ser uma mulher. Olhando daqui, digo sem muita certeza que, para o #lookdodia, ela sabiamente privilegiou o conforto, escolhendo calça jeans e camiseta vinho, compondo o outfit (gracias, Joy) com um moleton de mesma tonalidade amarrado na cintura - além de tudo, trata-se de uma jovem (assim vislumbro) precavida.

Seu nome não sei, muito menos onde ela vive, o que estuda, com o que trabalha ou que tipo de filme gosta. Vinho tinto ou branco? Provavelmente nunca descobrirei, o que é uma lástima.

Repórter fuleiro, não posso dar o devido crédito a esta que, entre milhões de pessoas que tomaram as ruas do país na quarta-feira para defender uma educação pública minimamente digna, apresentou um cartaz tão simples quanto brilhante.

Na gramatura 180g da cartolina amarela, ela evocou a combinação de cores de uma tigresa e gravou em letras pretas: “Nossas expectativas já eram baixas, mas puta merda!”.

São apenas oito palavras que, bem arrumadas, se transmutam em riquíssima narrativa. Tem contexto, conflito, jornada e clímax. Ou seja, uma frase de manual cinematográfico. Só faltou o desfecho, mas estamos todos atentos aos próximos capítulos, com ou sem spoiler.

Como rastro de pólvora, esta foto correu a esmo nas redes sociais, o que me impede também de dar nome a(o) retratista que eternizou o momento.

Só sei que, quando bateu no meu celular, tal registro já veio acompanhado de uma anedota boleira, tão fina quanto a ideia original: “Flagrante no ato pela Educação. Mas serve também pra levar pro estádio!”.

É exatamente isso. No Brasil da política ou da bola, o que dá mais ou menos no mesmo, boa parte da audiência já não esperava grande coisa, mas puta merda!

Observe que, no caso (literalmente) em cartaz, pouco importam as questões morfo-etmológicas de “puta merda”. Vale aqui o sentido amplificado da expressão, que pode ganhar infinitas dimensões, a depender da boca de quem diz.

“Nossas expectativas já eram baixas, mas chamar milhões de pessoas de idiotas úteis é um pouco demais”, alguém pode interpretar. Outro, por sua vez, pode decifrar que “nossas expectativas já eram baixas, mas destruir tudo quanto é política ambiental passa dos limites”.

Na arquibancada, um cidadão pode dizer que “nossas expectativas já eram baixas, mas jogar uma segunda divisão sem goleiro é dose”. Ao seu lado, um amigo diria que “nossas expectativas já eram baixas, mas não conseguir trocar cinco passes é pra matar qualquer um”.

A bem da verdade, aliás, eu nem deveria usar tal figura de linguagem. O pessoal que gosta muito de arma pode levar ao pé da letra.

Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados.