Exposição de Francisco Brennand em Salvador começa nesta terça (15)

Mostra na Caixa Cultural tem entrada gratuita e 27 criações do artista

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  • Roberto Midlej

Publicado em 15 de agosto de 2017 às 03:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Rafael Martins/Divulgação

A exposição Francisco Brennand - Mestre dos Sonhos, que chega hoje à Caixa Cultural, na Rua Carlos Gomes, é uma oportunidade de conhecer as mais de sete décadas que o artista pernambucano, hoje com 90 anos de idade, tem dedicado à arte.

No acervo, há peças como a pintura Autorretrato aos 19 Anos, de 1947, até outras mais recentes, como o quadro Toques (Série O Castigo), de 2013. Em Salvador, o visitante vai passear por uma espécie de linha do tempo, que começa com a ida do artista a Paris, quando ele tinha pouco mais de 20 anos.

Daquela fase, há dois desenhos. As cerâmicas, que se tornaram marca fundamental de sua criação, também estarão em Salvador. 

Aquela ida a Paris, registre-se, foi fundamental na sua formação como artista plástico. Antes de ir à capital francesa, Brennand não valorizava as cerâmicas e nunca havia se interessado em produzi-las. “A crítica criou o conceito de arte maior e arte menor, principalmente no século XIX. E isso continuou por muito tempo. Tudo o que não fosse óleo sobre tela ou não fosse escultura em determinado tipo de mármore de carrara”, diz.

Mas, na França, o ainda muito jovem Brennand percebeu que mesmo os mais respeitados artistas plásticos já haviam produzido cerâmicas. “Gauguin fez gravura e fez cerâmica. Ele confrontou essa ideia de boa pintura e má pintura. Mas eu, ainda muito jovem, também achava que havia uma ‘arte menor’. Eu havia ganhado prêmio no Salão de Pernambuco com um quadro, então achava que não devia fazer cerâmica”, diz o artista.

Paris Mas, em Paris, Brennand, acompanhado do amigo Cícero Dias, foi a uma exposição de Pablo Picasso (1881-1973) que mudaria completamente suas impressões sobre a cerâmica, como lembra o pernambucano: “Vi, em fevereiro de 1949, cerca de 300 cerâmicas que ele havia feito em três anos, no sul da França. Só havia feito aquelas criações em reproduções. Mas quando vi pessoalmente, fiquei atordoado”.

Se um gênio como Picasso produzia cerâmica, que era considerada uma “arte menor”, Brennand estava convencido de que tinha o aval para fazer o mesmo. O próprio artista diz que a viagem a Paris foi como um tiro de misericórdia. “Me senti um idiota quando percebi o tempo que havia perdido sem trabalhar com cerâmicas”, diz. Além de Picasso, Chagall (1887-1885), Matisse (1869-1954) e Miró (1893-1983) também revelavam grande habilidade e apreço pela cerâmica. 

Também contava a favor de Brennand a familiaridade que tinha com a matéria-prima, afinal o pai era dono de uma grande indústria que produzia telhas e tijolos em Recife, a Cerâmica São João. Brennand, vale ressaltar, nasceu naquelas mesmas terras onde ficava a cerâmica do pai.

Na exposição que chega a Salvador, além das obras criadas por Brennand, estarão fotografias de seu acervo pessoal, como uma em que aparece ao lado de Ariano Suassuna (1927-2014), de quem era muito amigo. Os dois trabalharam juntos em algumas ocasiões. Na exposição da Caixa haverá um desenho original que Brennand fez para o figurino da primeira montagem de O Auto da Compadecida, clássico de Suassuna.

Bahia “O acervo que chega a Salvador dá um noção da importância de Brennand, que é um artista completo, que fez cerâmica, pintura, desenho...”, diz Rose Lima, curadora da exposição. A mostra traz ainda  o documentário Francisco Brennand, dirigido por Mariana Brennand Fortes, sobrinha-neta do artista.

Rose Lima ressalta a relação que Brennand mantém com a Bahia, que teve início nos anos 1960, quando o artista aproximou-se de Lina Bo Bardi (1914-1992), na época que a italiana idealizava a criação do Museu de Arte Moderna da Bahia. “Ele veio aqui algumas vezes e participou da primeira Bienal da Bahia, no Foyer do Teatro Castro Alves, onde funcionava. Inclusive, na exposição,  haverá o quadro São Francisco, que está no acervo do MAM”, diz Rose. O Museu de Arte Moderna funcionou provisoriamente ali até ir para o Solar do Unhão, em 1963.

“Acompanhei de muito perto a restauração do Solar do Unhão, sob a direção de Lina. Fui praticamente assistente dela por vários meses. Foi aquele trabalho dela que me motivou a atuar na restauração de imóveis antigos”, diz Brennand. 

Desde 1971, o artista tem se dedicado a recuperar a área onde estava instalada a Cerâmica São João, que depois de ser desativada, estava em ruínas. Hoje, ali funciona a Oficina Brennand, onde o artista cria seus trabalhos e expõe duas mil peças de sua autoria.