Exposição interativa Gregórios será aberta nesta sexta (5); veja vídeo

Iniciativa reúne artes plásticas, teatro e muita literatura no Teatro Gregório de Mattos

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  • Vanessa Brunt

Publicado em 4 de janeiro de 2018 às 13:26

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Portas, janelas, mãos e bocas. Esses eram os únicos meios que, brincando com o papel, lançavam poesias para o mundo no século XVII. Para destacar essas formas de fazer literatura, a Fundação Gregório de Mattos (FGM) inicia 2018 homenageando, a partir desta sexta (5), às 18h30, aquele que dá o nome ao local. A entrada é gratuita, assim como era a arte ao passear em papéis perdidos pelos chãos da velha São Salvador.

Confira vídeo com prévia de uma das ações, a exposição: Gregório de Mattos Guerra (1636-1696), um dos maiores poetas do Barroco português, ficou conhecido como Boca do Inferno, devido às suas críticas ferozes à alguns membros da corte portuguesa. O artista divide, até hoje, opiniões entre pesquisadores. A exposição Gregórios, uma das primeiras partes da programação que se inicia na Galeria da Cidade, estampa nas paredes do local palavras como ‘gênio’ e ‘racista’ ou, até, ‘santo’ e ‘misógino’, que brincam entre si em uma dicotomia crítica para definições sobre o poeta. O nome do projeto foi colocado no plural para simbolizar ‘os vários Gregórios’ que conhecemos, a partir das diferentes opiniões. “Gregório teve uma obra vasta, mesmo não tendo publicado livro algum em vida. Ele ia desde a poesia lírica até a satírica e desde a religiosa até a erótica. Ele nos lembra que ninguém pode ser rotulado por apenas uma característica. Esse é outro motivo pelo qual a exposição ganha o nome no plural”, conta Lanussi Pasquali, artista visual, administradora do projeto e viúva do artista plástico  Joãozito, idealizador da exposição. A mostra fica aberta ao público até maio, com visitação de quarta a domingo, das 14h às 19h. Como legado, a Galeria da Cidade ganhará um Memorial com parte do acervo exposto. A proposta da exposição, que lembra criações do Museu da Língua Portuguesa (SP), é criar uma atmosfera semelhante aos locais pelos quais o poeta passou ao longo da vida. Atrelada a painéis com fatos históricos, a Salvador do século XVII, por exemplo, é apresentada através de artifícios que mexem com os cinco sentidos da audiência: a iluminação, os sons, as imagens e os objetos certos para transportar os visitantes para aquela época. Os pratos de plástico, simbolizando Portugal de forma sarcástica, é apenas mais uma das formas de perceber as metáforas imagéticas que dialogam com os escritos pendurados pela área. Interatividade Além das poesias de Gregório, que vão estar tomando janelas e paredes, podendo ser manipuladas, o ambiente ainda conta com outras formas de interação. O público vai poder clicar em um totem que apresenta a Salvador antiga, enquanto, em uma grande tela próxima, aparece a Salvador atual, mostrando curiosidades da cidade ligadas à vida de Mattos. “Naquela época, tudo se perdia muito fácil, era frágil e forte. Era memória e ida. Em homenagem a essa consciência, correremos o mesmo risco aqui. O público pode meter a mão mesmo!”, disse Lanussi. As poesias visuais são divididas em categorias. Uma delas acontece em uma sala escura, que forma uma espécie de corredor. No lugar, estão os poemas eróticos, que são exibidos como luzes nas paredes ‘perdidas’. Ali, pode-se perceber poemas imagéticos sobre a importância das quebras de tabus. Além de poemas de Gregório, escritores contemporâneos vão subir ao palco, no meio da exposição, sempre às 19h das quintas-feiras, para participarem de disputadas (chamadas de Slam) ou de simples recitais interativos. Nos mesmos momentos, irão ocorrer lançamentos de livros, além de bate-papos com pesquisadores. Fones de ouvido espalhados em redes e bancos servem para ouvir os poemas recitados pelo ator Caco Monteiro. Mas essa não será a única forma de ouvir os poemas.

Estátua para eternizar Apesar da exposição ser a forma mais interativa de descobrir curiosidades sobre o poeta, a cidade e a época em que ele viveu, ela não será a única maneira de aproveitar a série de ações, que seguem até o fim de 2018. Logo na frente da Fundação, na Praça Castro Alves, a estátua do poeta romântico vai conversar com uma nova: amanhã, antes mesmo da abertura da exposição, será inaugurada a estátua confeccionada em fibra de vidro pelo artista plástico baiano Tati Moreno, que terá a mesma altura que tinha Gregório de Mattos Guerra.

O diferencial da obra - que continuará no local após o fim do projeto -  é o dispositivo vocal instalado na escultura, que permite, a quem se aproxime, ouvir trechos de poemas na voz do ator Jackson Costa. Presidente da FGM,  Fernando Guerreiro falou sobre a importância em  homenagear o artista neste momento: “Estamos vivendo uma onda conservadora muito grande. É necessário trazer Gregório de volta porque ele é muito libertário; foi um dos primeiros grandes satíricos, que falou de corrupção, sexo e quebrou tabus. Arte é não ter medo de dizer a verdade que há em si”, disse o presidente da fundação, após declarar que outras ações ainda serão implantadas, como um edital que deve ser lançado em março. “Vamos dar espaço para pessoas que têm a ousadia de Gregório”, provocou. A peça Boca a Boca: Um Solo para Gregório é uma das atividades da programação (Foto: Divulgação) Espetáculo Para aqueles que são mais musicais, na Sala Tabaris do teatro, às 20h, Ricardo Bintencourt sobe ao palco para uma curta temporada do espetáculo Boca a Boca: Um Solo para Gregório, na companhia de Leonardo Bittencourt. A proposta dos artistas é inovar e fazer um recital de poesias em formato de show de rock. A apresentação também acontecerá sábado (6) e domingo (7), às 19h. A exposição é o último projeto feito pelo artista e curador Joãozito, que faleceu neste ano (Foto: Reprodução do Facebook) O legado de Joãozito O artista plástico João Pereira, mais conhecido como Joãozito, era formado pela Escola de Belas Artes da UFBA e ganhou destaque no mundo das artes visuais com a sua primeira exposição em 1988, Encontros com Da Vinci, artista que o influenciou. Gregórios foi o último trabalho do curador, que faleceu devido a um câncer na vesícula no dia 15 de outubro de 2017, com 51 anos. 

O local não deixa de homenagear o artista idealizador, como indica a declaração de Guerreiro. “João tem uma coisa muito interessante. Ele sempre vinha com uma concepção muito sensorial. Ele pega um artista e transforma em um ser com muitas camadas. Então com ele, tivemos abordagens múltiplas e nunca bidimensional. Ele vai puxando muita coisa. Você descobre camadas que não imaginava, Ele liga o artista com o local, com as épocas, com o hoje. Você descobre sobre o artista e sobre tantas outras coisas, além de conseguir se conectar muito mais com a sua própria vida. Interatividade é a palavra-chave dele. É o que mais teremos aqui”.Serviço 

O quê: Abertura da exposição Gregórios

Quando: Sexta (5), às 18h30 – Inauguração da estátua – na sequência, abertura da exposição

20h – Apresentação gratuita do espetáculo Boca a Boca : Um Solo para Gregório, com Ricardo Bitencourt e o músico Leonardo Bittencourt.

Onde: Teatro Gregório de Mattos (Praça Castro Alves)  

O quê: Espetáculo Boca a Boca: Um Solo para Gregório, com Ricardo Bitencourt e o músico Leonardo Bittencourt.

Quando: Sábado (6) e domingo (7), às19h

Onde: Sala Tabaris - Teatro Gregório de Mattos

Quanto: Ingressos a preços popularesÀs quintas (19h), ocorrem os saraus interativos de poetas contemporâneos, com lançamentos de livros.