Exposição Pelos Ares exibe críticas sobre dores e belezas brasileiras

Exposição na Caixa Cultural reúne material acumulado pelo piloto Lu Marini

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  • Vanessa Brunt

Publicado em 30 de agosto de 2017 às 10:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

A Caixa Cultural Salvador apresenta, a partir desta quarta-feira (30), a exposição inédita Pelos Ares: 15.042 km de Brasil, na Galeria dos Arcos. Com entrada gratuita, a mostra reúne material obtido e acumulado durante nove anos pelo piloto Lu Marini, expedicionário de paramotor, que é recordista continental de altitude e único piloto do mundo a sobrevoar um vulcão em atividade (Popocatépetl/México). As imagens são resultantes das expedições de Marini feitas por 22 estados brasileiros, entre 2009 e 2016. São percursos que somam milhares de quilômetros formados pelas diversas realidades, culturas e ecossistemas que compõem o Brasil. Na abertura da mostra, que ocorre às 19h, o público recebe visita guiada com o piloto/artista. Visitantes poderão, até o dia 1º de outubro, viajar em meio às paisagens vistas de cima e capturas feitas em pousos. Na mostra, estão as histórias de vítimas dos descasos sociais e ambientais, além de imagens que representam extremos da terra verde e amarela. Crianças, jovens, adultos e idosos exibem suas verdades nas fotografias, que tratam de morte e vida. As diferentes visões dos personagens, e as formas com que lidam com as dores e com o que consideram ganhos, estão entre as belezas e os fatos críticos e devastadores representados pelo piloto. "O objetivo maior da exposição é permitir que nos coloquemos mais no lugar do outro. As imagens são como relatos que alimentam a busca por um mundo melhor, mais justo e humano. A ganância humana tem destruído a própria humanidade gradativamente. Precisamos de produções mais sustentáveis", afirma o piloto. "E pode até parecer clichê, mas em todos os lugares nos quais pouso, vejo a destruição e pessoas e animais se contorcendo. Aí é que percebemos que não é algo clichê, porque enquanto muito pouco é feito sobre, é preciso ter em mente de que muito pouco é demonstrado para quem 'está de fora'. Vi a água que abastece a cidade de Goiânia, por exemplo, repleta de poluição, enquanto crianças pediam por água. Vejo mortes diversas em pessoas que dependem dos rios para pescar, para beber, para sobreviver, para ter viva a própria cultura", defende o piloto Lu Marini.Com análise de questões ambientais, sociais e econômicas do país, a mostra retrata o litoral brasileiro de norte a sul. A exposição reúne a vida selvagem no Pantanal, a realidade da rodovia mais polêmica do país, o sofrimento de quem vive às margens de um dos rios mais poluídos do mundo, as diferenças de outro rio com seus encantos e, por fim, aquela que é a maior tragédia ambiental da história brasileira, o rompimento de uma barragem na região de Mariana (MG), que despejou no Rio Doce mais de 60 milhões de metros cúbicos de lama tóxica. A exposição, que conta com curadoria de Gabriela Alejandra Nebot, exibe seis temas centrais: Atlântico, Pantanal, Transamazônica, Rio Tietê, Rio São Francisco e Rio Doce.

Para Lu Marini, o mundo é feito de cores. Sua perspectiva, que já atingiu 5.013 metros de altitude, captou vulcões, rios, florestas, praias, montanhas, caminhos abertos nas entranhas do solo, cidades de aço e concreto, natureza à flor da pele e também descasos e destruição ao meio ambiente. Junto à emoção e à adrenalina da aventura, a urgência da preservação ambiental é uma constante sob seu ponto de vista. Ao mesmo tempo em que essa consciência se deslumbra diante de paisagens intocadas pelo ser humano, também desnuda a tragédia que dilacera e atormenta paraísos a serem perdidos no cotidiano indiferente das civilizações.  Bíblia que foi encontrada por Lu Marini soterrada na lama da tragédia de Mariana. "Foi muito forte o momento em que a encontrei, foi como uma simbologia para a fé de muitos, que estava sendo enterrada e, mesmo que saia das lamas, terá cicatrizes eternas por culpas humanas", diz Lu Marini (Foto: Divulgação) Mas não só de lamentos vivem os materiais exibidos. Os dois lados das moedas são vistos e expostos por Marini. No alto, em seu paramotor, Marini registra a complexa relação entre homem e natureza. Em terra firme, surgem outras descobertas, o contato com novas maneiras de enxergar e compreender o cotidiano. Personagens que, imersos em sua própria cultura, ganham voz para um público e relembram, como ele mesmo citou, da beleza oculta que em tudo está.  "Você observar uma criança chegando com brinquedos feitos de madeira, curtindo a água de um rio e tendo aquilo como uma diversão tão intensa, é a prova de que precisamos de muito pouco pra ser feliz. Esta simplicidade está na beleza oculta de todas as coisas, mesmo quando em tristezas que servem de alertas para uma mudança urgente", afirma o piloto, lembrando das belas imagens que tem em mente do país, e que também estão expostas no projeto. O profissional já formou mais de 450 pilotos nos últimos anos, além de ser instrutor da tropa de elite da Marinha do Brasil. Com reconhecimento internacional, Lu Marini ganhou espaço nos grandes veículos de comunicação por suas expedições, entre elas os sobrevoos pela rodovia Transamazônica e pelos rios São Francisco e Doce, transmitidas pelo Fantástico, programa da Rede Globo. Com MBA em Marketing, Marini atua ainda como diretor, produtor e protagonista de diversos documentários para a televisão, entre eles a série de expedições Rastreando e Pousos e Decolagens. 

Serviço Exposição: Pelos Ares: 15.042km de Brasil Local: CAIXA Cultural Salvador Endereço: CAIXA Cultural Salvador – Rua Carlos Gomes, 57, Centro – Salvador (BA) Visitação: 30 de agosto a 01 de outubro de 2017 - de terça-feira a domingo, das 9h às 18h. Abertura no dia 30/08, às 19h, com visita guiada com o piloto Lu Marini. Classificação indicativa: Livre Entrada gratuita