Fã do Imperador, Brumado se prepara para vestir camisa da seleção

Centroavante tricolor comprou até terno para se apresentar à Sub-20, na segunda (7)

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  • Daniela Leone

Publicado em 5 de maio de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Felipe Oliveira/EC Bahia/Divulgação

O guarda-roupa de Júnior Brumado ganhou uma nova peça esta semana. Revelação do Bahia, o atacante foi às compras após receber um comunicado da CBF. “Os caras mandaram um e-mail dizendo que tinha que se apresentar de terno. Foi caro, quase mil reais”, conta o atacante, aos risos. Traje elegante para a realização de um sonho.

Aos 18 anos, ele se apresentará pela primeira vez à seleção brasileira sub-20 na segunda-feira (7). “Eu falava com minha mãe quando era criança que queria vestir a camisa da Seleção Brasileira. É algo inédito na minha cidade. Ninguém da minha cidade foi convocado”, vibra o jogador nascido no município que carrega como apelido, no Centro-Sul da Bahia.

Brumado vai trabalhar durante uma semana, entre os dias 7 e 14, no centro de treinamento do Corinthians, em São Paulo. Por isso, vai desfalcar o Bahia contra o Vasco, no dia 9, pela Copa do Brasil, e contra o São Paulo, dia 13, pela Série A, ambos na Fonte Nova. Antes, estará à disposição contra o Sport, no domingo (6), às 19h, na Ilha do Retiro.

A semana da revelação tricolor foi agitada. Além de ir ao shopping para comprar a beca nova e de ser titular na partida contra o Botafogo-PB, em que Edigar Junio foi poupado, o atacante também fez o alistamento militar e jurou a bandeira.

Essas são obrigações de todo jovem brasileiro ao atingir a maioridade, mas Brumado cumpriu às pressas para ter direito a tirar passaporte. O departamento de futebol do Bahia quer que ele esteja apto a defender a camisa verde e amarela no exterior e também o clube em caso de avanço na Copa Sul-Americana.

Brumado estreou como profissional em 2017, na 14ª rodada do Brasileirão, durante o empate por 1x1 com o Avaí, em Pituaçu, sob o comando do técnico Jorginho. Depois, foi aproveitado em dois jogos fora de casa: na derrota por 3x0 contra Santos, na 16ª rodada, e no empate por 1x1 com o São Paulo, na última rodada.

Na atual temporada, ele vestiu a camisa do Bahia 17 vezes. Após uma assistência e quatro gols, já deixou o anonimato. “Foi muito rápido. Fui em um aniversário e mais de 20 meninos me abraçaram e me pediram para tirar foto. Foi uma resenha”, diverte-se.

Indisciplina no Cruzeiro Júnior Brumado chegou ao Fazendão aos 16 anos para concretizar um desejo de criança. Aos 12, participou de uma peneira no Bahia e não foi aproveitado. A rejeição fez com que ele fosse em busca do sonho de se tornar jogador de futebol em Belo Horizonte. Antes de vestir azul, vermelho e branco, Brumado defendeu a base do Cruzeiro. Na Toca da Raposa, começou como meio-campista.

“Eu era mais paradão, aí teve um treinador chamado Alexandre Lemos que começou a me rodar. Joguei de zagueiro, atacante de beirada... Só não joguei de lateral e goleiro. Até que me viu de centroavante e foi um gol atrás do outro”, conta o jogador, que não cogita mudar de posição nem mesmo a pedido de Guto Ferreira.

Brumado ficou no clube mineiro dos 13 aos 16 anos, até ser dispensado por indisciplina. “Minha cabeça não estava preparada. Eu fiquei nove meses sem ver minha mãe e meu pai. Não tinha celular direito naquela época. Eu tinha um, mas era difícil falar. Comecei a não querer treinar, faltava treino, eu não gostava de ir pra escola, não gosto até hoje. Aí os caras não quiseram mais ficar comigo pela indisciplina e me dispensaram. Concordo com os caras”.

Voltou para o interior da Bahia já com barba na cara e encontrou uma realidade bem diferente da que desejava para a própria família. “Voltei pra casa e vi realmente o que meu pai e minha mãe passavam, as dificuldades. Aí eu pensei ‘posso mudar isso’. Foi aí que eu acordei e meu empresário entrou em contato com o Bahia”.

Seis dedos e cirurgia O jovem forte de 1,90 m passou por um drama na infância, quando precisou ser submetido a uma cirurgia no pé esquerdo. “Quando eu fiz 3 anos, começou a nascer um dedo embaixo do meu dedo mindinho. Tinha osso, tudo. Meu pé estava doendo muito”, relata o jogador, que é destro. “Precisava operar e aí começou a dificuldade, porque a gente não passava necessidade, mas também não tinha de tudo, e sim o básico pra gente viver”, conta Brumado.

Cabeleireira, dona Alcilene não mediu esforços para viabilizar a cirurgia do filho. “Minha mãe vendeu a bicicleta e a televisão lá de casa e conseguiu o dinheiro para a passagem minha e dela para Salvador. Só de ida”, detalha, orgulhoso. “Antes da gente viajar, perguntaram para minha mãe por que ela iria tirar esse dedo meu e ela disse: ‘Vou tirar porque meu filho vai ser um jogador’. Ela sabia que eu era viciado em bola. Chega me arrepio quando falo da minha mãe”. Júnior Brumado e sua mãe, Alcilene (Foto: Acervo Pessoal) A permanência em Salvador durou mais de um mês e o retorno a Brumado só aconteceu depois da mãe dele fazer muita unha e penteado. “Para juntar o dinheiro pra gente voltar. Dinheiro de imediato ninguém tinha. Meu pai, na época, trabalhava de encanador e era difícil. Ficamos na casa de parentes e eu ainda tive uma inflamação. Meu pé ficou muito inchado, porque levei uma picada de escorpião. É brincadeira?”, indaga, permitindo-se rir do que passou.

Brumado tem referências dentro de casa e das quatro linhas. No futebol, é fã de Ibrahimovic e, principalmente, de Adriano. Na opinião dele, tem o mesmo estilo do Imperador. “Eu acompanhava muito ele. Temos jogos parecidos. Não tenho a mesma velocidade dele, mas a força. E eu pego bem na bola”.

Apesar da comparação, Brumado afirma que quer ser lembrado apenas pela história que construir. “Só quero fazer minha parte e não quero ser comparado a ninguém. Nonato, Fernandão... Eu quero ser Brumado”, avisa.

*Colaborou Bruno Queiroz