Fábrica da Fafen em Camaçari encerra atividades nesta quinta-feira

Fechamento de unidade da Petrobras afeta outras empresas do Polo Industrial e ameaça centenas de empregos no estado

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  • Nilson Marinho

Publicado em 31 de janeiro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo CORREIO

Após 47 anos de operação, a Fábrica de Fertilizantes Hidrogenados da Bahia (Fafen-BA) vai desligar suas máquinas, hoje, quando começa o processo de hibernação da unidade. Com a decisão, a estatal deixará de produzir e fornecer para outras  empresas do Polo Industrial de Camaçari  insumos como  amônia, ureia, ácido nítrico e hidrogênio. Na manhã de ontem, centenas de trabalhadores fizeram uma manifestação em frente à sede da Fafen, no Polo, contra a paralisação da unidade baiana.   

A Petrobras apontou a operação deficitária da unidade como justificativa para fechar a fábrica. Só em 2017, o prejuízo teria chegado a R$ 200 milhões. De acordo com a estatal, a solução encontrada para amenizar os impactos  causados pela paralisação da planta é o seu arrendamento. Segundo publicação do Diário Oficial da União, em 16 de janeiro, o prazo para a conclusão dos procedimentos de venda é 22 de março, quando devem ser apresentadas as propostas.

Mas, mesmo com a intenção de arrendar a Fafen, a hibernação, adiada por duas vezes, está mantida para hoje, o que preocupa o setor industrial. De acordo com o superintendente de Atração e Desenvolvimento de Negócios da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia, Paulo Guimarães, desde março de 2018, quando a Petrobras manifestou interesse em fechar a fábrica, o estado, as empresas e o sindicato dos petroleiros têm trabalhado para reverter a decisão.

“Não foram negociações fáceis e a Petrobras, ao final, mencionou a possibilidade de arrendar a unidade, porque ela queria hibernar e pronto. A questão é que a fábrica de fertilizantes é crucial para o Polo, atuando no fornecimento de insumos a várias outras fábricas. Hibernar a Fafen afetaria outras empresas, que precisariam importar suprimentos, e isso implica em altos preços e nova logística”, afirmou. 

Neste sentido, o superintendente ressaltou que, com a "irredutibilidade" da Petrobras em adiar, mais uma vez, o processo de hibernação total, o arrendamento se torna cada vez mais difícil.“É só pensar em um carro. Quem vai querer adquirir um veículo parado, sem funcionamento?”, comparou ele. Para Paulo, a paralisação da fábrica não deveria acontecer enquanto a venda não fosse consumada.“Estamos na luta para buscar a manutenção da fábrica para eventual operação ou uma sensibilização do novo Governo Federal em manter a operação sob responsabilidade da Petrobras até que o arrendamento seja realizado. Os interessados em adquirir a Fafen precisam avaliar tecnicamente a unidade, que deve estar em funcionamento pleno”, defendeu.

Importação Pelo menos 15 empresas  poderão ser  prejudicadas pela hibernação da unidade. A produção de amônia, por exemplo, é necessária para Oxiteno, Acrinor, Proquigel, IPC do Nordeste e PVC. A ureia é utilizada na Heringer, Fertpar, Yara, Masaic, Cibrafertil, Usiquímica e Adubos Araguaia; e o gás carbônico, na Carbonor.

O superintendente do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic), Mauro Pereira, diz que, após reunir as empresas membros da entidade, ficou decidido que a solução encontrada para a provável falta de insumos é a importação de produtos.“Não vamos entrar no mérito da decisão empresarial da Petrobras. A gente quer que as outras empresas continuem com 100% da operação”, afirmou Pereira.De acordo com ele, “com a necessidade de importar insumos, os custos de produção vão aumentar, sem falar na mudança de logística. Uma coisa é receber o produto via dutos, outra é não ter mais a continuidade desse recebimento”. Ele também ressaltou que as empresas querem, apenas, sentar com a Petrobras para, juntas, definirem a melhor forma de dar continuidade às atividades.

E, para que isso aconteça, segundo Mauro, é necessário adiar a hibernação da Fafen-Ba.“A gente quer que ela [a Petrobras] postergue a decisão de 31 de janeiro para um ano e meio para frente, para que as empresas possam sentar com a estatal e definirem o que cada um tem de fazer quanto a investimento. Até agora, a Petrobras não respondeu nada e a gente tem essa questão mal resolvida”, declarou.O advogado  do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro), Ângelo Remédio, responsável pela Ação Popular que conseguiu adiar outras duas vezes a hibernação da Fafen-Ba, afirmou que “o Brasil possui como uma das principais atividades econômicas o agronegócio e, com a venda das Fafens, ficaríamos totalmente reféns da exportação de fertilizantes deixando nossa produção interna à mercê de fatores externos”.

Para Radiovaldo Costa, diretor de comunicação do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA), a decisão de fechamento da Fafen também se estende à unidade do estado de Sergipe.“Isso significa que nós vamos aumentar nossa dependência das importações, importando mais fertilizantes da China, da Rússia e da Índia, que são hoje grande produtores, enquanto a gente deveria e poderia estar produzindo aqui, gerando emprego, renda e fortalecendo as economias desses estados”, reforça Costa.Impactos no mercado de trabalho  O advogado do Sindipetro-BA, Ângelo Remédio, disse que as Fafens são, atualmente, “responsáveis pelo abastecimento das indústrias, geração de empregos diretos e indiretos no país, além de arrecadação fiscal para o Estado”. Desta forma, para ele, o fechamento das fábricas e a futura venda de ativos vai causar um prejuízo no mercado de trabalho e, consequentemente, na economia.

Já Paulo Guimarães, superintendente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE), destacou que, apesar de não ser possível afirmar com certeza o tamanho do impacto para o mercado de trabalho, é esperado a perda de centenas de empregos diretos e indiretos, fora eventual problema de outra fábricas, que são clientes dos insumos da Fafen-Ba.

Ainda segundo Paulo, “os funcionários da Petrobras, que atuavam na Fafen-Ba já foram remanejados para outras fábricas em outros estados. A preocupação maior, no entanto, gira em torno daqueles terceirizados, porque, se a fábrica está parada, os serviços se tornam cada vez menos necessários”. Com a decisão da Petrobras de encerrar as atividades, 400 funcionários terceirizados devem ser desligados.

Quanto aos impactos do desemprego nas demais empresas, Mauro Pereira da Cofic declarou que a intenção é manter o funcionamento normal das fábricas, a exemplo da Oxiteno, IPC do Nordeste, entre outras, que são clientes da Fafen-Ba. “As empresas trabalham com o cenário de manter a produção normal sem perder espaço no mercado”, disse.

O medo de entrar na lista  de demissão preocupa o técnico de planejamento de materiais, Reginaldo Souza, 43 anos, desde que o comunicado foi oficialmente anunciado na fábrica, onde atua há dois anos. “Na verdade, essa decisão já vinha sendo cogitada há muito tempo. O que a gente não tinha era certeza de que isso realmente fosse acontecer. Agora a coisa está forte. Ficamos tristes, porque, além dos funcionários da Fafen, a decisão também deve afetar trabalhadores de outras empresas. O Polo é uma reação em cadeia e um depende do outro”, lamentou.

Há 13 anos prestando serviços como assistente administrativo, Ana Paula Oliveira, 43, disse:  "Quando recebemos a notícia foi um choque, porque é muito ruim para a Fafen, o estado e seus trabalhadores".

Estatal  garante manutenções periódicas da unidade A Petrobras tem três fábricas de fertilizantes nos estados da Bahia, Sergipe e Paraná. Em março de 2018, a empresa decidiu hibernar a produção das unidades da Bahia e Sergipe, como forma de alinhamento ao Plano Estratégico da companhia para a gestão 2018-2022.

À Justiça, na Ação Popular de autoria do Sindicato dos Petroleiros da Bahia, a Petrobras garantiu que o estoque de uréia e amônia são suficientes para abastecer as empresas clientes da Fafen-Ba. A estatal também declarou que, até o arrendamento, vão ser feitas manutenções periódicas nos equipamentos, como forma de preservar a estrutura da fábrica de fertilizantes.

A hibernação da produção de uréia, que aconteceu no início de janeiro, segundo a Petrobras, se deu, porque era necessário produzir um estoque de 21,5 toneladas de amônia para atender às empresas durante a paralisação operação.

* Com supervisão do subeditor Geraldo Bastos