Fabrício Boliveira vive motorista de táxi em filme com tom realista

Ator baiano protagoniza Breve Miragem de Sol, que chega ao Globoplay dia 30

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  • Da Redação

Publicado em 25 de agosto de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: fotos: divulgação

Aos 40 anos, Paulo trabalha nas madrugadas do Rio de Janeiro como taxista. Atua num horário em que há menos concorrentes na rua, afinal assim, quem sabe, consegue pegar mais passageiros e faturar um pouco mais. Separado e desempregado, se vira como pode para pagar a pensão do filho Mateus, de dez anos.

A história de um brasileiro “comum”, como muitos que vivem numa batalha diária para sustentar a família, é o mote do filme Breve Miragem de Sol, protagonizado pelo baiano Fabrício Boliveira e dirigido por Eryk Rocha. Rodado em 2017 no Rio de Janeiro, o filme chega direto no Globoplay neste domingo e é o primeiro longa-metragem de ficção exclusivo dessa plataforma.

“Paulo é um brasileiro comum, em transformação, acompanhando a crise do país, mas que, em vez de paralisar, tenta atravessar o caos com delicadeza, reflexão e em silêncio. Ele acorda cedo e, como na condição de qualquer brasileiro, vai ser 'driver' como acontece hoje nas grandes capitais do mundo. Ele é um respiro”, afirma Fabrício. Bárbara Colen, de Bacurau, está no filme O ator, que ganhou projeção na TV em novelas como Segundo Sol, onde viveu Roberval, também tem se destacado no cinema, protagonizando filmes como Simonal (2018) e Faroeste Caboclo (2013). Em breve, chega aos cinemas em Eduardo e Mônica, que, como o longa de 2013, é baseado em uma canção da Legião Urbana.

Tom realista Para viver Paulo, Fabrício mergulhou no universo dos taxistas e conviveu por alguns meses com alguns desses profissionais, que funcionaram como consultores do filme e até fizeram uma “pontinha”. Tudo isso para dar um tom mais realista e até documental ao filme, o que confirma claramente as origens de Eryk Rocha, realizador de documentários como Rocha Que Voa (2002) - centrado na figura do pai dele, o cineasta Glauber Rocha - e Cinema Novo (2016).

Antes mesmo de assumir o papel, o ator já percebeu as intenções do cineasta: “Até o meu teste foi realizado dentro de um táxi. No dia do teste, eu ia a uma festa e antes precisava pegar uma torta na casa de uma pessoa. Fui dirigindo o táxi, passei na portaria do prédio e peguei a torta, como se atuasse”, lembra-se Fabrício. O diretor Eryk Rocha Por duas vezes, chegou a dirigir pelas ruas como um taxista “de verdade”, com direito a pegar passageiros e até foi parado numa blitz. Numa madrugada, foi ao Centro do Rio e viu um homem procurando por um táxi. Parou, mas, quando a pessoa viu que o ator estava com a equipe técnica no carro e com uma câmera, o possível passageiro ficou assustado e decidiu não entrar. “Ele não me reconheceu, pois eu tava diferente, engordei 14 quilos pro papel. Mas insisti pra ele entrar e ele aceitou”, diz Fabrício, que, naquela viagem, em nenhum momento se despiu do personagem e continuou atuando como motorista até deixar o passageiro em seu destino.

Outro fator que contribuiu para o tom documental: Fabrício não sabia quem eram os atores e atrizes que iam interpretar seus passageiros. Entrava no carro e, já atuando, dirigia-se ao destino para pegar os “clientes”. Sabia o roteiro do filme, tinha os diálogos decorados, mas não realizava sequer um ensaio com os colegas. A única exceção foi Bárbara Colen, de Bacurau, que interpreta uma mulher com quem Paulo tem um romance.

O espectador que busca uma história linear, com início, meio e fim, como nos moldes tradicionais, talvez estranhe o filme, já que em Breve Miragem de Sol não é a “trama” o mais importante. A história centra-se na personalidade de Paulo, em sua solidão, em seu desentendimento com a ex-esposa, a busca de sua redenção como pai que um dia foi ausente...

Por isso, a importância dos diálogos e das relações que os passageiros mantêm com o protagonista e como eles o tratam. Logo no início, vemos como a burguesia brasileira se relaciona com prestadores de serviço: um grupo de jovens brancos sai da noitada e, às seis da manhã, entra no táxi de Paulo. Começam a importunar o motorista, a falar alto, não definem logo o destino da viagem, fazendo-o de trouxa... fazem o que querem com Paulo, afinal, pensam: “Tô pagaaando!”, como dizia o bordão de uma personagem de um programa de humor. 

E se prepare para ver Fabrício em breve na TV: ele foi convidado para a novela Cara & Coragem, que vai ocupar a faixa das 19h no ano que vem na Globo, e a tendência é que sua atuação como um dos protagonistas seja confirmada.

Estreia dia 30, no globoplay