Fake news podem comprometer rendimento dos candidatos do Enem

Professores orientam os estudantes a buscar fontes diversas e com credibilidade

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  • Gil Santos

Publicado em 26 de setembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arquivo

Bombou nas redes sociais, na semana passada, a informação de que o nazismo foi um movimento de esquerda. Apesar de o partido de Adolf Hitler ser o Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), não era nem de longe  ideologia esquerdista, mas a falsa notícia ganhou tanta repercussão na web que foi preciso historiadores virem a público para explicar as bases ideológicas da ditadura nazista.

A situação acima pode ser motivo de piada, mas pode se transformar também em uma grande dor de cabeça para os 5,5 milhões de brasileiros que farão o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

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Faltando pouco mais de um mês para as provas e com a pressão dos estudos, os professores temem que os estudantes não consigam separar o joio do trigo e, na hora H, tentem vender gato por lebre para os avaliadores. O cuidado precisa ser redobrado, porque uma informação falsa pode fazer o candidato errar toda a questão ou, pior, comprometer mais de 50% da Redação (veja mais ao lado).

Diversidade Atualidades é uma das exigências do Enem. Por isso, manter-se informado é uma regra básica. A estudante Larissa Santos, 19 anos, sonha com a faculdade de Pedagogia e contou que a principal fonte de informação dela é a internet, mas faz ressalvas.

“Eu assisto jornal e leio na internet, além de alguns aplicativos que me ajudam a me informar, mas a gente tem que procurar em vários lugares para ter certeza do que está rolando. Olhar várias fontes e confiar em quem tem nome no mercado, responsabilidade e trabalho sério, e não qualquer site ou notícia de Facebook”, afirmou.

Os professores ouvidos pelo CORREIO orientam os candidatos a buscarem mais de uma fonte de informação e variar, inclusive, as plataformas. “Além da internet, é importante consultar livros, revistas, jornais e ler opiniões de especialistas, de preferência pessoas com pensamentos contrários”. O conselho é da professora de Redação Rozana Pires, do Colégio Vitória-Régia.

Ela contou que as fake news são assunto também em sala de aula. Na prática, estudantes levam até a professora notícias que despertaram a curiosidade por terem a veracidade duvidosa, e a turma debate a questão. Depois, eles escrevem sobre o tema.

“Esse exercício aprimora o pensamento. O aluno que pesquisa e discute o assunto antes de fazer a Redação se sai melhor do que os que se basearam apenas em redes sociais, porque os argumentos das redes são rasteiros, muitas vezes equivocados e superficiais”, contou Rozana.

Em ano eleitoral, notícias falsas   sobre temas como a ditadura militar (1964-1985) estão indo parar na sala de aula. A estudante Jéssica Caldas, 17, quer fazer Medicina e diz  que está atenta. “Assisto TV e vejo jornal para me manter informada. No curso, a gente conversa e debate sobre o que está acontecendo. O que está em alta é a política, os candidatos, então, vou me informando. A gente não pode acreditar em tudo o que lê”, acredita. Jéssica Caldas, 17 anos, quer fazer Medicina e diz  que está atenta (Foto: Marina Silva/ CORREIO) O professor de Geografia e Atualidades do Colégio Antônio Vieira, Ricardo Behrens, explica que o prejuízo é maior na Redação, mas pode fazer o candidato errar uma questão na parte objetiva do exame. “Acredito que no meio político essa ação é mais comum, mas precisamos ficar atentos e escolher bem as fontes de informação”, disse.

Credibilidade A disseminadora do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística na Bahia (IBGE), Mariana Viveiros, comenta os transtornos das fake news: “No caso do IBGE, o que acontece em relação às fake news não é a invenção de dados, mas a distorção dos números. Na maioria das vezes, o dado está correto, mas a interpretação é que está errada. Isso é mais frequente em ano eleitoral, e o alvo mais comum de distorção são os indicadores econômicos, como PIB, inflação e sobre emprego”, disse.

O IBGE monitora as publicações relacionadas ao órgão divulgadas na imprensa e nas redes sociais e trabalha em parceria com agências de checagem de notícias. A empresa orienta a quem tiver dúvidas pesquisar no portal do IBGE, lançando o dado ou o assunto no campo de pesquisa. Também é possível entrar em contato pelas redes sociais da empresa ou pelo 0800 721 8181.

A coordenadora do curso de Comunicação da Faculdade Social da Bahia, Bárbara Souza, orienta os estudantes a consultarem empresas de jornalismo com credibilidade e profissionais relacionados à notícia antes de sair reproduzindo a informação.

“É preciso procurar fontes credíveis, como empresas jornalísticas com reputação, que tem um nome a zelar no mercado e equipamentos suficientes para checar as informações antes de publicá-las. A web multiplicou a possibilidade de circulação de informação falsa e é usada como ferramenta por pessoas com descompromisso com a verdade”, afirmou.

Mas, para a professora, existe um ponto positivo na fake news. Ela coloca em pauta alguns temas, como no caso do nazismo citado acima.  “É uma possibilidade de esclarecer e discutir o assunto. A questão é que nem sempre esse esclarecimento tem a mesma repercussão que a notícia falsa”.

Confira as apostas dos professores para temas de Atualidades do Enem 2018

O drama dos Refugiados na Europa e no Brasil Corrupção Questões ligadas ao conflito agropecuário no Brasil A saída dos EUA do acordo de Paris sobre o Meio Ambiente Mobilidade urbana A saída do Reino Unido da União Europeia Patrulhamento ideológico Analfabetismo funcional, por conta das últimas pesquisas sobre educação do Brasil A questão da imigração entre os EUA e o México Fake news, por conta das discussões sobre esse problema nos últimos anos

Erro pode custar 50% da Redação O candidato do Enem que fizer a redação usando como base argumentos ou dados falsos, as chamadas fake News, corre o risco de perder a chance de entrar na universidade. Segundo os professores, isso acontece porque essas distorções podem comprometer até três das cinco competências de avaliação, além induzir o estudante ao erro nas questões objetivas.

A professora de português e redação do Colégio Villa Campus de Educação, Alena Cairo, contou que as fake news tem impacto direto sobre o conteúdo do texto, o que compromete o rendimento do candidato. “Nesse caso, o estudante vai apresentar um repertório não legitimado, um projeto de desenvolvimento com falha”.

As notícias falsas serão avaliadas na competência 3 da Redação, que trata dos argumentos apresentados no texto, mas também podem derrubar as notas da competência 2 (que analisa a compreensão do candidato sobre o tema proposto), e pode induzi-lo a uma conclusão equivocada, que viole os Direitos Humano, comprometendo a competência 5 (que analisa a proposta de intervenção).

Preocupada, a estudante do 2º ano Samanta Santos, 16 anos, contou que checa várias fontes antes de acreditar em algumas notícias. “Eu procuro a notícia em mais de um site, porque se tem em mais de um site provavelmente deve ser verdade, mas se está em apenas um site deve ser fake”, disse. A estudante do 2º ano Samanta Santos, 16 anos, conta que checa várias fontes (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Já o Ministério da Educação (MEC) afirmou, em nota, que a dissertação precisa ter argumentos sólidos e lembrou que a cópia integral de textos motivadores é motivo para zerar a nota. “Na redação, o participante deverá defender uma tese – uma opinião a respeito do tema proposto –, apoiada em argumentos consistentes, estruturados com coerência e coesão, formando uma unidade textual”, disse.

Os professores frisaram que mais do que quantidade é preciso escolher fontes com qualidade. A discussão sobre as fake News ganhou as salas de aula nos últimos anos, mas segundo a professora não foi por acaso. “A nova base curricular prevê a discussão dessas e de outras questões relacionadas ao papel da mídia na sociedade desde o ensino fundamental. É um debate mais do que importante”, afirmou.

Confira as cinco competências exigidas na Redação do EnemDomínio  Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa. Compreensão   Compreender a proposta  e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa. Augumentos   Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. Conhecimento  Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.  Intervenção  Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos. Fique de olho nas mentiras que circulam nas redes sociais:

Nazismo é de esquerda A polêmica começou após a Embaixada alemã no Brasil divulgar um vídeo informando que os alemães “são ensinados a confrontar os horrores do Holocausto” e utilizar uma citação do ministro das Relações Exteriores do país, Heiko Mass, afirmando que o nazismo foi um regime de extrema-direita. Militantes de direita alegaram que o regime de Adolf Hitler era de esquerda porque se chamava, oficialmente, Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, e isso não valida o regime  ser de esquerda.

Holocausto não aconteceu É bom lembrar que o Holocausto foi um genocídio, também conhecido como “limpeza étnica”, que matou seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. A Embaixada alemã respondeu que o “Holocausto é um fato histórico, com provas e testemunhas que podem ser encontradas em muitos lugares da Europa”.

A febre amarela é transmitida de pessoa para pessoa ó há uma forma de se transmitir a doença: sendo picado por um mosquito infectado. A transmissão acontece de forma vetorial: o mosquito pica uma pessoa ou macaco portador do vírus e, a partir daí, pode transmitir a doença para  outras pessoas ou animais. Os macacos, portanto, não transmitem a febre amarela.

A única maneira de ser infectado pelo vírus da Aids é através de relações sexuais O vírus pode ser transmitido por  sangue, sêmen, secreção vaginal e até pelo leite materno. O portal do Ministério da Saúde traz uma série de mitos e verdades sobre a doença. Confira!

A única maneira de ser contaminado pelo sarampo é tocando em uma pessoa infectada O sarampo é uma doença altamente contagiosa. O Ministério da Saúde também informa que secreções mucosas, como a saliva, de indivíduos doentes também podem transmitir a doença. As gotículas de secreções podem ser inaladas e, por isso, é recomendado o uso de máscara quando houver aproximação de menos de dois metros do doente.

Existe um ‘kit gay’ em circulação nas escolas do país O que existe é um material que foi produzido em 2011 para tentar combater a homofobia nas escolas. Ele foi elaborado por cinco ONGs, como parte do programa federal Brasil Sem Homofobia.

Enquete em redes sociais serve como pesquisa eleitoral Pesquisas eleitorais seguem um método científico diverso, ao contrário do que ocorre na enquete feita em redes sociais, com o Facebook e o Twitter. 

 Fontes: agências Lupa, Aos Fatos e UOL Confere  

* Colaborou Kelven Figueiredo e Vinícius Nascimento, com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier