Falta d'água pode estar relacionada ao aumento da infestação do mosquito da dengue

Mais novo Levantamento de Índice Rápido para Aedes aegypti (LIRAa) apontou que 67 localidades de Salvador têm o Índice de Infestação Predial (IIP) pelo Aedes aegypti considerado alto

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  • Carol Aquino

Publicado em 13 de maio de 2017 às 08:36

- Atualizado há um ano

O último resultado do Levantamento de Índice Rápido para Aedes aegypti (LIRAa) apontou que 67 localidades de Salvador têm o Índice de Infestação Predial (IIP)  pelo Aedes aegypti considerado alto. Isso acontece quando esse valor é maior ou igual a quatro - ou seja, de cada cem casas visitadas, pelo menos quatro têm focos do mosquito.

Considerando o valor médio de toda a cidade, o índice saltou de 1,1% em janeiro deste ano, para 3,1% em abril - o levantamento foi feito entre 4 e 7 de abril. Para a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o que explica o aumento do índice é, curiosamente, a falta de água na cidade. Para a Secretaria de Saúde de Salvador, falta de água e uso de recipientes ajudaram a aumentar infestação (Foto: Arisson Marinho/Arquivo Correio)Em nota, a pasta afirmou que a “intermitência no abastecimento de água na capital pode ser um dos fatores determinantes para o aumento do indicador”. Isso porque o estudo revelou, ainda, que os depósitos preferenciais dos focos estão dentro dos domicílios, em baldes, tonéis e outros recipientes utilizados para armazenamento de água.

Para a coordenadora de Vigilância à Saúde da SMS, Isabel Guimarães, a interrupção no abastecimento de água que acomete a capital nos últimos meses pode ser um dos fatores determinantes.

Reservatórios no solo “Vários fatores contribuem para o aumento do indicador nesta época do ano. As condições climáticas com chuvas e forte calor facilitam a reprodução dos mosquitos. Outro fator a ser considerado é o armazenamento de água em depósitos a nível de solo, local onde as equipes de campo mais encontram focos do Aedes aegypti. Naturalmente, quando não há um fornecimento regular de água nas residências, as pessoas buscam se organizar através do armazenamento em recipientes, que são prato cheio para proliferação do vetor se não estiverem devidamente tampados ou cobertos”, explica.

Em São Paulo, a Secretaria de Saúde também relacionou o aumento no número de casos de dengue à falta de água: em 2015, a falta de água no Sistema Cantareira impactou os casos na Zona Norte; no ano passado, o problema no Alto Tietê refletiu nos casos de  dengue em Guaianases.

Por causa dos episódios inesperados de falta de água no bairro de Massaranduba - onde o índice de infestação é de 4,5% - , o administrador José Luiz Paixão, 49 anos, diz que é normal ter uma romaria de vizinhos na porta da sua casa. “Aqui na minha residência não falta água porque a gente tem um reservatório grande. Às vezes, os vizinhos vêm pedir água aqui”, conta.

A estudante Laiane Mesquita, 34, conta que toda vez que falta água em Periperi, ela armanzena em dois baldes grandes, de cerca de 100 litros, apesar de ter tanque. “Eu tenho o maior cuidado, a água fica tampada, quando acaba eu lavo o tanque e coloco de cabeça para baixo”, revela. Ela torce que os vizinhos tenham o mesmo tipo de precaução.

A Empresa Baiana de Água e Saneamento (Embasa), responsável pelo abastecimento, respondeu que se os usuários dispusessem de tanques não seria necessário usar recipientes inadequados.

“A Embasa informa que não responde pela forma de armazenamento da água, ação que é de responsabilidade do usuário. Para que a oferta de água não seja prejudicada em caso de manutenções ou variações de pressão na rede de abastecimento, é necessário que os imóveis possuam reservatório com capacidade adequada às necessidades de consumo de seus moradores”, disse, em nota enviada ao CORREIO.

AlertaNa maioria das localidades estudadas pelo LIRAa - 149 ao todo -, a situação é de alerta. Nestes locais, o índice de infestação foi maior ou igual a 1% e menor ou igual a 3,9%.

As localidades campeãs em infestação do Aedes são Cassange e Nova Esperança, ambas com 8,8%.  Em seguida vêm a Barragem dos Macacos, São Tomé e Tubarão, com 8,5%. Em terceiro lugar estão Lobato, Plataforma II e São João do Cabrito, com 8,2%.

Na outra ponta da tabela, com o índice de infestação predial considerado satisfatório, estão cinco localidades. O menor número está no Alto do Peru, com índice de 0,2%, seguido de Cabula I e Pernambués II, com 0,5% cada, e por São Caetano I, com 0,7%.O distrito sanitário que tem o maior risco endêmico é o do Subúrbio Ferroviário, com índice de 5%. Em segundo lugar, vem o distrito de Itapagipe, com 4,7%, seguido por São Caetano/Valéria B, com 4,5%. Nenhum dos 20 distritos tem o índice de infestação considerado  satisfatório - inferior a 1%.O menor índice é o do distrito da Liberdade, de 1,4%. Lagoa da Paixão e Valéria, que lideraram o ranking da infestação entre 2 e 7 de janeiro com 10,8%, não saíram da situação de risco, mas diminuíram o índice para 6,3%.

Menos casos Apesar do aumento da infestação, Salvador tem apresentado queda acentuada no número de casos confirmados de dengue, zika vírus e chikungunya. Entre janeiro e abril deste ano, 116 casos de dengue foram confirmados - no mesmo período de 2016 foram 626. De chikugunya, foram 11 infectados até abril contra 79 no ano anterior. Foram 15 casos de zika, contra 32 de janeiro a abril do ano passado.

Assim como no resto do Brasil, dengue, zika e chikungunya tiveram uma redução na Bahia, nos primeiros meses de 2017 em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). A redução é de quase 10 vezes.