Faltam botijões de gás de cozinha em distribuidoras da Bahia

Segundo o Sindigás, o setor ainda sofre impacto da greve dos caminhoneiros, encerrada há mais de 20 dias

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  • Gil Santos

Publicado em 22 de junho de 2018 às 03:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/CORREIO

Distribuidoras não conseguem manter os estoques: no Trobogy, ponto ficou fechado por uma semana (Foto: Marina Silva/CORREIO) Se há um ingrediente que é indispensável em qualquer cozinha, seja a de restaurantes ou a de casas e apartamentos, é o botijão de gás. É por isso que a falta dele está deixando muitos soteropolitanos de cabeça quente nas últimas semanas.

Já se passaram mais de 20 dias desde o fim da greve dos caminhoneiros, que provocou uma crise de desabastecimento no país inteiro. Mas, na Bahia, o gás de cozinha ainda não chega às distribuidoras como antes.

O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás) admite que ainda há impacto da greve dos caminhoneiros em cidades da Bahia e da região Centro-Oeste, o que tem feito com que as revendedoras tenham dificuldade em repor os estoques.

“As empresas distribuidoras estão trabalhando em regime de horas extras e durante o fim de semana para atender à demanda, assim como a Petrobras e a ANP estão fazendo o máximo esforço para aumentar a oferta do produto nas distribuidoras”, disse o Sindgás, em nota. A categoria não explica, no entanto, que tipo de impacto ainda resiste sobre o botijão.

Na falta do gás, o jeito é fazer o que muitos brasileiros fazem de melhor: dar um jeitinho. No restaurante da comerciante Eliane Cristina, 56 anos, na Boca da Mata, as batatas e o aipim que eram vendidos fritos sumiram do cardápio, junto com outros petiscos. Tristeza para os clientes que se traduz em prejuízo para a empresária.

Eliana conta que há algumas semanas era quase impossível encontrar um botijão para comprar. Agora, a situação está mais tranquila. “Eu gasto dois botijões por mês. Tem normalizado aos poucos, mas a procura ainda é grande. Parece que vai voltar de novo (a escassez)”, diz. 

O marido, Antônio Henrique, 56, diz que algumas distribuidoras estão se aproveitando da situação. “Logo quando teve esse problema da greve dos caminhoneiros, chegamos a comprar o botijão de gás por R$ 80, mas tinha gente vendendo por R$ 150. Muito caro”, contou. Sem gás, Eliane e Antônio retiraram os petiscos do cardápio do restaurante, na Boca da Mata (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Distribuição Enquanto conversavam com o CORREIO, Eliana e Antônio aproveitavam para comprar mais um botijão. O vendedor Renato do Rosário contou que a distribuidora em que trabalha está com dificuldades para repor o estoque.

“Os clientes ligam toda hora. Estamos trabalhando do jeito que dá. Não está chegando como antes, a distribuição está bem reduzida”, disse. 

Antes da greve dos caminhoneiros, o ponto comercial, no Setor 5 de Boca da Mata, era abastecido com 140 a 170 botijões por dia. Agora, não passam de 30. 

No bairro do Trobogy, a situação não é muito diferente. De acordo com funcionários, por se tratar de um pequeno comércio, o local era abastecido por dia com 30 botijões.

“O distribuidor vinha um dia, faltava no outro. Às vezes, entregava 10, 15, outras vezes nenhum. Aqui estava fechado há oito dias, abrimos nesta quinta-feira (21) porque o fornecedor abasteceu com 20”, contou  Cleiton Ferreira.

Reunião Apesar dos problemas com a distribuição, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) informou que a situação na Bahia está em processo de normalização, “com entrega de produtos avançada”.

Na terça-feira houve uma reunião entre representantes do sindicato das revendedoras e a ANP para tratar do desabastecimento na capital e interior do estado.  Segundo o Sindigás, problema ainda afeta cidades da Bahia e do Centro-Oeste (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Enquanto o problema não é resolvido, o Sindigás recomendou que “a população evite uma corrida aos pontos de venda, o que dificulta a normalização da distribuição”. Segundo o grupo, “não há razão para temer o desabastecimento do produto”.  

Preços abusivos devem ser denunciados Apesar dos problemas de distribuição do gás, os órgãos de fiscalização informam que não há desculpas para elevar o preço do produto. O consumidor que se sentir lesado pode e deve denunciar os locais que praticam preços abusivos. Os estabelecimentos que não apresentarem uma justificativa plausível para o aumento dos valores do produto podem ser multados em até R$ 6 milhões.

A titular em exercício da Diretoria de Proteção e Defesa do Consumidor (Codecon), órgão ligado à Secretaria de Municipal de Ordem Pública (Semop), Eva Pestana, informou que somente durante a greve dos caminhoneiros, que durou dez dias, 28 distribuidoras de gás de cozinha foram fiscalizadas pelo órgão em Salvador.

“Cinco empresas receberam auto de infração por apresentarem preços abusivos, ou seja, de R$ 100 a R$ 150 por botijão. Outras cinco foram notificadas por aumentar os preços sem justa causa. Todas as fiscalizações foram motivadas por denúncias, por isso, é importante que o consumidor denuncie”, disse.

O diretor de Fiscalização da Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-BA), Iratan Vilas Boas, explicou que as empresas que forem flagradas cobrando preços abusivos podem ser multadas em até R$ 6 milhões.

“Quando uma empresa é autuada, é aberto um processo administrativo para verificar a infração. O valor da multa é definido levando em consideração a natureza da infração, o porte da empresa e o número de consumidores prejudicados”, explicou.

O consumidor que flagrar preços abusivos deve denunciar aos órgãos. O Procon pode ser acionado através do App Procon BA Mobile, pelo e-mail [email protected] ou presencialmente em postos.

No caso da Codecon, os caminhos são o App Codecon Mobile, o telefone 156, as páginas do Facebook e do Instagran do órgão, além do e-mail [email protected].

Gás e conta de luz puxam prévia da inflação na RMS Neste mês de junho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), conhecido como a prévia da inflação, acelerou na Região Metropolitana de Salvador (RMS), ficando em 1,07% (em maio, havia sido de 0,77%), segundo informou o IBGE. 

Uma das principais influências para a alta no índice foi o preço do gás de botijão (4,87%). Ele foi o segundo item a puxar a prévia da inflação do grupo Habitação e apresenta  a maior variação desde outubro do ano passado, quando havia registrado alta de 6,32%. Ainda assim, o gás de botijão acumula variação negativa de janeiro a junho na RMS (-0,60%).

O grupo Habitação foi o responsável por elevar a prévia. À frente do gás de botijão está somente a alta na energia elétrica residencial (8,77%). O grupo Transportes (1,56%) é a segunda maior influência do IPCA-15 na RMS, influenciado pela alta na gasolina (6,14%) e no etanol (2,86%). Em seguida, aparece o item Alimentação e Bebidas (1,12%), que na RMS continua influenciado pela cebola (13,67%) e pão francês (2,51%).

*Com supervisão da editora Mariana Rios