Faltando água? Veja o que faz Israel

Esse gigante do Oriente Médio já planeja ações para a queda acentuada dos seus recursos hídricos projetada para os próximos 40 anos devido ao aquecimento global

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  • Eduardo Athayde

Publicado em 24 de março de 2017 às 10:50

- Atualizado há um ano

O fórum Água, Vetor de Desenvolvimento Sustentável, recentemente promovido pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-BA) e o instituto Politécnico da Bahia (IPB), coordenado pelo professor Asher Kirpestok, foi um evento de alto nível que reuniu respeitados especialistas da Ufba, da Agência Nacional da Água (ANA), Universidade Federal do Espirito Santo e da Cia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp).A nível internacional, o diretor da Agência de Águas de Israel, Amir Schischa, apresentou números e o modelo de gestão hídrica do país, uma referência mundial. Com uma área total de 22.072 km² (Sergipe tem 21.910 km²) e 8.5 milhões de habitantes, 60% do território de Israel é deserto e o resto é árido. Situado às margens do Mar Mediterrâneo, a partir da segunda metade do século passado,  as médias anuais de chuvas diminuíram 50% e, no mesmo período, a economia do país cresceu 70 vezes.Esse gigante do Oriente Médio, com PIB de US$ 310 bilhões e uma pujante indústria de alta tecnologia, é um dos países mais desenvolvidos do mundo e já planeja ações para a queda acentuada dos seus recursos hídricos projetada para os próximos 40 anos, devido ao aquecimento global, contabilizando o elevado custo de cada m³ de água desperdiçado, perdido ou fabricado, para a economia de uma potência seca.Com uma disponibilidade média natural de água de 1.17 bilhões de m³/ano, movimenta, anualmente, US$2.5 bilhões para suprir o déficit e atender a demanda total de 2 bilhões de m³ de água por ano – parte com água fabricada, dessalinizada – visando o abastecimento da sua população, os 200 mil hectares com 14 mil fazendas irrigadas e mais de mil complexos industriais. Hoje, Israel obtém 55% de sua água doméstica através da dessalinização, transformando um dos países mais secos do mundo na maior potência hidro-tecnológica do planeta.Enfrentando severa escassez hídrica, agravada por longos e constantes períodos de seca profunda, os israelenses tratam as águas do esgoto para irrigar fazendas e fazem a gestão dos oásis das margens do Mar Morto que fornecem água para 90 espécies de aves, 25 espécies de répteis e anfíbios, 24 espécies de mamíferos e 400 espécies de plantas, todos necessários ao equilíbrio ambiental local -cuidadosamente fiscalizado por autoridades e pela população atenta.A gestão de água pela demanda é uma questão de sobrevivência, ensinam os israelenses. Aplicando métricas refinadas, medem o custo de cada m³ e regulam o consumo individual, industrial, ambiental e agrícola como fatores determinantes para garantir a segurança hídrica da população e os necessários investimentos no crescimento econômico. Além disso, alimentam os ecossistemas, devolvendo à natureza 35 milhões m³/ano e enviam água para os países vizinhos, Palestina, 74 milhões m³; e Jordânia, 48 milhões de m³, anualmente.Com investimentos em pesquisas e o desenvolvimento de novas tecnologias, o custo da dessalinização caiu consideravelmente, baixando hoje cerca de 70% em relação à década de 90. As novas estações dessalinizadoras podem produzir mil litros de água potável por US$ 0,58 centavos, permitindo que as residências médias israelenses paguem em torno de US$ 30/mês pelo consumo da água.Enquanto Israel contorce-se para produzir água, o Brasil, com 13% da água doce do planeta, sediará o 8º Fórum Mundial da Água, em 2018, reunindo especialistas do mundo e mais de 30 mil participantes em Brasilia. A Bahia, que pelos parâmetros locais enfrenta uma “crise hídrica” invejada pelo gestor israelense, tem especialistas de gabarito na área, elogiados pelos visitantes, para enfrentar os problemas da água e desenvolver planejamentos “hidro-eco-nômicos” de longo prazo, observando as mudanças climáticas, evitando as elevadas perdas e focando, principalmente, na gestão pela demanda.Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil. [email protected]