Família acusa Estado por morte de detento da Lemos Brito

Preso tentava fugir quando caiu de muro e bateu a cabeça; familiares reclamam de demora no socorro

Publicado em 20 de julho de 2018 às 04:40

- Atualizado há um ano

Os familiares de Ubirajara Santos de Jesus, 35 anos, que estava preso na Penitenciária Lemos Brito (PLB), responsabiliza a unidade pela morte dele. Numa tentativa de fuga, Ubirajara caiu do muro e teve um corte profundo na cabeça. De acordo com a família, em vez de ter sido submetido a um atendimento médico logo após o acidente, que teria ocorrido à 1h do dia 9 de junho, o preso foi colocado na área de isolamento, onde passou, pelo menos, duas horas sangrando.

Segundo o registro do Hospital Geral do Estado (HGE), Ubirajara deu entrada - com traumatismo craniano - somente às 6h09 do dia 9. Ele ficou 44 dias em coma e morreu terça-feira (17). Nesse mesmo dia, no Presídio Salvador, uma cama desabou, matando um detento.

Leia mais: 'Unidade está desmoronando', diz agente após morte em presídio de Salvador Ubirajara estava preso há oito anos por roubo (Foto: Reprodução de Marina Silva/ CORREIO) A Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) negou o socorro tardio. Em nota, explicou que “Ubirajara foi prontamente encaminhado para a Central Médica Penitenciária, onde recebeu os primeiros socorros e, em seguida, foi encaminhado para o Hospital Geral do Estado”.

A família pretende entrar na Justiça com uma ação indenizatória. “Ele não era nenhum santo. Nós não estamos dizendo isso. Aguardamos o laudo sair para entrar com uma ação indenizatória contra o Estado, que tem a obrigação de zelar pela integridade física do apenado”, declarou o irmão de Ubirajara, Lismar de Jesus Moreira, 39, na manhã de ontem, enquanto aguardava a liberação do corpo no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR). O enterro será em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS).

Preso por roubo, Ubirajara estava na PLB há oito anos. Ele e outros presos tentaram fugir usando uma teresa (corda improvisada com lençóis).“Não sei explicar bem, mas meu irmão acabou caindo, bateu a cabeça no chão e teve um corte fundo”, relatou Lismar. Ele contou que os agentes penitenciários levaram Ubirajara para a área de isolamento, uma área da unidade destinada aos presos que cometem infrações. “Uma forma de castigar. Um local de total escuridão. Ele passou a madrugada sangrando. Os demais presos que estavam com ele começaram a gritar, dizendo que ele ia morrer”, contou ainda Lismar.

Somente duas horas depois é que Ubirajara teria sido retirado do isolamento e levado para a unidade médica da PLB. “Mas quando chegaram lá, viram que não tinham condições para o atendimento e o levaram para o HGE, onde passou 18 dias na UTI e o restante do tempo na unidade intermediária em coma”, relatou o irmão.

“Vamos até o final. Além do descaso no socorro médico no dia da queda, a PLB sequer nos comunicou da morte ou manteve contato conosco. É uma das coisas que nos revolta ainda mais”, declarou o eletricista Aliomar de Jesus, 37, também irmão de Ubirajara.  Lismar de Jesus Moreira, 39 anos, e Aliomar Jesus, 37, irmãos da vítima, no IML da capital (Foto: Marina Silva/ CORREIO)