Família aguarda exumação de corpo trocado no Hospital Espanhol; polícia investiga

Família de doméstica percebeu que corpo que seria liberado para sepultamento não era o dela

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  • Da Redação

Publicado em 3 de junho de 2020 às 12:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Acervo Pessoal

A família da doméstica Arlete Santos dos Reis, 44 anos, aguarda os trâmites judiciais para a exumação de um corpo sepultado em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, que pode ser dela. A busca começou nesta segunda-feira (1º), depois de Arlete morrer vitima de covid-19 no Hospital Espanhol, mas ter o corpo liberado para outra família. A 14ª Delegacia (Barra) abriu um inquérito para investigar a troca, percebida quando o irmão de Arlete, o eletricista Jairo Reis, foi ao hospital buscar o corpo dela para o sepultamento. A suspeita é que ela tenha sido enterrada por outra família.

De acordo com informações do Hospital, o pedido de exumação foi feito ainda na noite desta terça-feira (2) e autorizado pela justiça na manhã desta quarta (3)."Havendo decisão judicial, a unidade expedirá guia para exumação e demais exames periciais para esclarecer o fato", disse a Polícia Civil, em nota. Segundo informações da Polícia Civil, familiares de Arlete foram ouvidos na delegacia. Outros envolvidos no caso ainda serão ouvidos na uidade.

A família de Arlete foi avisada da autorização da exumação na manhã desta quarta. Desde às 11h, eles esperam no Instituto Médico Legal (IML) para poder reconhecer o corpo. Entretanto, os familiares ainda não sabem quando processo deve ocorrer.

“Disseram que a exumação seria hoje, mas nada ainda. Viemos no IML no iml para saber se tinha algo e não tem nada ainda. Estamos aqui a ver navios pois ninguém nos disse como isso vai acontecer”, disse Jairo.

Para os familiares, a falta de resposta aumenta o sofrimento de não poder enterrar Arlete. É com a exumação que eles poderão confirmar se o corpo foi realmente enterrado por outra família. “Eu quero ver se é ela mesmo. Se não for ela, o que vamos fazer? Estamos ansiosos pela exumação para descobrir se é Arlete mesmo”, contou o eletricista revoltado com a sequência de erros.

Caso Arlete seja identificada, ela deve ser enterrada no Cemitério Campo Santo, como estava programado. “Já eram para ter resolvido isso depois de tantos erros. Vamos esperar aqui no IML até alguém resolver”, afirmou Jairo.

Em entrevista ao CORREIO nesta terça-feira (2), a sobrinha de Arlete, Natalice Nascimento, disse que os familiares que levaram o corpo errado retornaram ao hospital e reconheceram que a parente, na verdade, ainda estava no local. De acordo com a sobrinha, a família também poderia ter recebido o corpo errado se não tivesse exigido o reconhecimento antes da liberação.“Meu tio foi até o hospital com a funerária para fazer a liberação do corpo. O corpo estava em um saco e a etiqueta tinha o nome de Arlete. Ele exigiu reconhecer. O rapaz abriu o saco de longe porque ela morreu de coronavírus. Então, meu tio disse: ‘essa aqui não é a minha irmã’”, relatou a sobrinha da vítima.Segundo Natalice, a família já não tem mais certeza se a tia está mesmo morta. “A gente não sabe o que aconteceu, se o prontuário foi trocado. O hospital não deu um prazo para resolver tudo isso, vamos voltar no Espanhol para tentar resolver”, pontua a sobrinha de Arlete.

De acordo com a nota do Hospital Espanhol, que é gerido pela Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde e presta serviços para a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), a família que enterrou Arlete por engano teria errado no reconhecimento do corpo. 

Liberação “Existe um protocolo seguindo todas as normativas de segurança para que não ocorram incidentes como este. Neste caso específico, do reconhecimento do corpo da senhora Arlete, houve falhas humanas tanto na conferência da etiqueta fixada no saco, por parte do hospital, como no reconhecimento do corpo, de forma visual, por parte de um único familiar”, admitiu a unidade de saúde.

Ainda de acordo com a instituição, o protocolo de liberação de óbito prevê a conferência da identificação do óbito do paciente, “por meio da guia de sepultamento e das etiquetas que são fixadas, tanto no corpo do paciente, quanto na parte externa do saco envoltório que o guarda. As etiquetas são conferidas pelo serviço de segurança e também por um familiar do paciente que participa deste processo de reconhecimento do corpo”.

Devido ao coronavírus, o reconhecimento tem sido feito por apenas um familiar, usando os devidos Equipamentos de Proteção Individual para evitar contaminações. Entretanto, a sobrinha de Arlete aponta que o reconhecimento de Arlete não foi feito: “A outra família informou que eles não abriram o caixão e não fizeram o reconhecimento como devia ter ocorrido”.

Em nota, o Hospital Espanhol afirma que o fato está sendo apurado e medidas estão sendo tomadas para que uma ocorrência do tipo não se repita:“O Hospital Espanhol se desculpa pelo ocorrido às famílias envolvidas e, dentro da gravidade reconhecida, compromete-se a assumir todas as demandas necessárias para regularizar a situação”, diz a nota.  Sintomas Até ser internada, Arlete acreditava que estava apenas com um gripe forte. Os sintomas do coronavírus começaram a aparecer no começo da semana passada. Ela chegou a ir duas vezes na Unidade de Pronto Atendimento de Lauro de Freitas, mas voltou para casa com um diagnóstico de gripe. Na última sexta-feira, Arlete foi internada na UPA. Devido à gravidade do quadro, ela teve que ser transferida para o Hospital Espanhol, onde deu entrada no domingo. Ela era diabética. 

“Na sexta, ela estava muito mal, com falta de ar, tosse e dor de cabeça. Minha tia só conseguiu uma vaga no Espanhol na manhã de domingo. Por volta das 22h30, nos informaram que ela foi entubada”, disse a sobrinha. Arlete morreu na manhã da segunda e, de acordo com Natalice, o hospital não permitiu que a família reconhecesse o corpo na ocasião.

 Moradora de Vida Nova, em Lauro de Freitas, Arlete era casada e possuía dois filhos e três netas. Quando não estava trabalhando como doméstica, ela gostava de ficar com a família e fazer churrasco. “Era uma pessoa magnífica. Ela sempre estava sorrindo, brincando e fazendo todo mundo dar risada. Ela gostava de fazer o churrasquinho dela e beber uma cervejinha”, disse a sobrinha.

*Com supervisão da subeditora Clarissa Pacheco