Família de jovem morto no Cabula vai processar restaurante

Guilherme Silva morreu depois de ser baleado por um funcionário do dono do estabelecimento

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  • Gil Santos

Publicado em 2 de agosto de 2017 às 15:52

- Atualizado há um ano

A família de Guilherme dos Santos Pereira da Silva, 17 anos, que morreu depois de ser baleado dentro do pomar do restaurante Paraíso Tropical, no Cabula, vai processar o estabelecimento. Nesta quarta-feira (2), Fabilson Nascimento Silva, o Barriga, 31, que trabalhava para o dono do restaurante, confessou que atirou no adolescente.

Segundo o montador de móveis, Rafael Silva, 23, único irmão de Guilherme, a família se reuniu e decidiu acionar o restaurante na Justiça. Eles ainda não contrataram advogados, mas disseram que vão processar o estabelecimento. Ele contou também que a família soube da prisão de Fabilson através da imprensa.

"Eu estava em casa, pela manhã, olhando alguns sites quando vi a notícia. Levantei, tomei um banho e corri para a delegacia para saber os detalhes. A delegada me recebeu e contou, em parte, o que aconteceu. Ela disse que ainda não poderia contar tudo porque o inquérito ainda está em aberto", afirmou.  Fabilson chorou durante apresentação na sede do DHPP nesta quarta-feira(Foto: Alberto Maraux/Divulgação SSP)Rafael chegou na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba, por volta das 10h. Fabilson já estava no mesmo local aguardando para ser ouvido pela imprensa, mas os dois não se encontraram. O funcionário contou que não teve a intenção de balear o adolescente e pediu perdão à família da vítima.

"A gente sente um alívio, mas a prisão e o pedido de perdão dele não vão trazer meu irmão de volta. É bom que ele mostre arrependimento, mas a justiça ainda não está feita completamente porque o restaurante tem que ser responsabilizado também. Eles (donos) têm culpa no que aconteceu, por isso nós decidimos que vamos processá-los", afirmou Rafael.

Mais de três meses depois da morte de Guilherme, a família do adolescente ainda não conseguiu se desfazer dos pertences dele. As roupas, calçados e outros pertences do jovem foram guardados, como lembranças.

Ele era o caçula de dois filhos e morava com a família em Pernambués. Guilherme cursava o 8º ano (antiga 7ª série) do Colégio Estadual Ministro Ademar Baleeiro, que fica no mesmo bairro, quando morreu. Corpo de Guilherme só foi encontrado dois dias após seu desaparecimento(Foto: Evandro Veiga/Arquivo CORREIO)Fabilson confessou que matou o jovem com um tiro após ouvir passos, por volta de 17h30, e disse que foi o dono do restaurante, o chef Beto Pimentel, quem lhe deu a espingarda calibre 20 usada para matar Guilherme. "Quando ouvimos o barulho, saímos pra fora e foi ele (Beto) quem me deu a arma, mas o tiro foi acidental", contou.

O funcionário era responsável por cuidar dos galos que eram criados no restaurante. Ele disse para a polícia que Beto havia dado falta de três galos - um deles avaliado em R$ 35 mil. O animal ficava na área onde o corpo do adolescente foi encontrado. Fabilson será indiciado por homicídio e ocultação de cadáver.

RestauranteProcurado pelo CORREIO, o advogado Alano Frank, que defende o chef, contou que após a prisão de Fabilson, Beto Pimentel foi novamente à delegacia e foi feita uma acareação sobre o que aconteceu no dia do crime. "Ele esteve frente a frente com Fabilson, e os fatos foram se alinhando. Ficou comprovado que foi legítima defesa. Estava escuro e eles não conseguiam ver quem estava ali", disse o advogado.

Ainda de acordo com ele, Beto negou que tenha entregado a arma para o segurança atirar nos jovens que entraram na área do restaurante. "É uma incongruência essa informação", resumiu.

Apesar de não fazer a defesa de Fabilson, Alano disse ainda que o segurança fugiu porque tinha medo de morrer dentro da prisão. "Ele tinha medo de o menino ser sobrinho de um traficante, e ser morto por traficantes no presídio", contou.

O crimeO crime aconteceu no dia 17 de abril, uma segunda-feira. Quatro dias antes Guilherme viajou com a família para passar o feriado da Semana Santa na Ilha de Conceição. O grupo retornou de viagem na segunda, por volta das 11h. À tarde, o adolescente e três amigos resolveram entrar no pomar do famoso restaurante Paraíso Tropical para pegar frutas. A área em que eles entraram fica às margens da Avenida Luis Eduardo Magalhães.

Segundo a família do jovem, ele e os amigos estavam comendo algumas frutas quando foram surpreendido por um homem armado. Quando ouviram o disparo, os adolescentes saíram correndo, em direções opostas. Os amigos disseram que retornaram para ver se Guilherme havia caído no caminho, mas ele não foi encontrado. O corpo do jovem só foi localizado dois dias depois, em outra parte do mesmo terreno.

Nos dias seguintes, a família e os vizinhos de Guilherme organizaram protesto e fizeram manifestações pedindo por justiça. O CORREIO conversou com o dono do restaurante na época, o chef Beto Pimentel, que negou qualquer ligação entre o estabelecimento e o homem que atirou no adolescente.

Onze dias depois Beto voltou a falar com o CORREIO e disse, em entrevista exclusiva, que o homem que atingiu Guilherme trabalhava cuidando dos animais do restaurante e fazendo serviços gerais no estabelecimento. Na época, Beto afirmou que não revelou de imediato a identidade do funcionário porque estava tentando convencê-lo a se entregar.