Família diz que ex já tinha dopado e ameaçado advogado achado morto

Ela teria usado estratégia para fazê-lo assinar papéis; há histórico de ameaças

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  • Perla Ribeiro

Publicado em 15 de fevereiro de 2019 às 14:24

- Atualizado há um ano

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A servidora aposentada do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA) Glaucia Mara Ottan Ferraz, 47 anos, suspeita de encomendar a morte do ex-marido, o advogado Júlio Zacarias Ferraz, 43, já teria dopado ele antes, para obrigá-lo a assinar um documento, abrindo mão dos bens do casal: salas comerciais, um apartamento em Feira de Santana, um flat em Barra do Jacuípe e dois carros. A informação foi dada pelo irmão da vítima, Bráulio Ferraz.  Júlio e Glaucia estavam separados (Foto: Reprodução) Segundo Bráulio, o envolvimento da ex-cunhada na morte do advogado não causou surpresa na família pelo histórico dela de ameaças. De acordo com ele, a mulher já agrediu a vítima anteriormente e também teve um casamento conturbado com ele."Já tínhamos grande desconfiança dela. Até porque, ele já tinha sofrido ameaças e contado à família. Ela havia dito para ele que, se não recebesse a pensão dele pelos trâmites do divórcio, receberia pelo INSS, pela morte dele", informou. "Não me surpreendi com a confirmação de que foi ela. Na nossa família já tínhamos desconfiança que fosse ela. Eu e meu pai, que também somos advogados, já havíamos pedido para ele voltar, para trabalhar com a gente em Vitória da Conquista, mas ele alegou que não poderiam largar tudo o que havia construído até essa etapa da vida dele", completou Bráulio.

Ainda segundo ele, desde o último domingo (10), os dois filhos de Júlio com Gláucia, de 11 e 13 anos, romperam relação com os parentes do pai. Com a prisão da mãe, eles estão sob os cuidados da avó materna.

Segundo o irmão, todas essas informações já foram ditas ao delegado Roberto Leal, responsável pela 1ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin), de Feira de Santana.

Outras ameaças O irmão do advogado contou, ainda, que está preparando um dossiê para apresentar à delegacia, com prints de conversas no Whatsapp que mostram Glaucia ameaçando Júlio e outras pessoas. 

Glaucia e Júlio casaram em 2004 na igreja e, em 2006, no civil. Entre idas e vindas, viveram juntos por 12 anos. A última vez que Júlio saiu da casa foi em dezembro - embora estivessem vivendo separados, ainda estavam casados no papel.

"Ela entrou com duas ações para o divórcio, mas desistiu porque queria que ele abrisse mão dos bens para os filhos. Só que, além dos dois filhos com ela, ele tem uma filha de 14 anos, que mora em Vitória da Conquista, e não seria justo deixá-la sem nada", pondera Bráulio. "A mãe da filha dele recebeu várias mensagens dela fazendo ameaças. Dizia que se elas ficassem com algum bem dele, mataria as duas e colocaria fogo. A mãe da menina tem muito medo dela", acrescenta.  Ameaças que o advogado recebeu e repassou ao irmão (Foto: Reprodução) Também tramita na Justiça uma ação de 2013 em que Glaucia é acusada de ameaçar de morte o ex-proprietário de uma lancha comprada por ela. No processo consta que a lancha foi vendida por R$ 35 mil - R$ 25 mil foram pagos e ficou acordado que os outros R$ 10 mil seriam parcelados em seis vezes. Como ela não honrou com a promessa de pagamento, após ser alvo de cobranças, passou a fazer ameaças de morte à vítima.

“Os policiais estão no seu rastro. Coroa branco. Não sabe com quem mexeu corcunda e nariz de tucano vai morrer. Na (sic) vai se dar bem. Filho de uma égua. Vem agora em Feira! To no camarote e o major doido pra te dar voz de prisão velho”, diz uma das mensagens que o vendedor da lancha recebeu após ir até o condomínio de Glaucia para fazer a cobrança. O número usado é o mesmo com o qual Glaucia negociou a compra da lancha. "De dois em dois dias ou três vai ser atentado. Eu ateio fogo no corpo mas vc vai pagar até o que fez com minha família. Eu explodo vc sua Marina. Seu cú. Vagabundo. E vou com filmadora e arma pq tenho porte de arma. Vai corno mexe comigo desgraça. Vai levar uma naba no cu numa ação de indenização. Vai ter que roubar muito otário para pagar (sic)". As frases estão no processo, que foi arquivado.

Prisão Glaucia foi presa na quinta-feira (14) por suspeita de ser a mandante do crime, ocorrido em janeiro deste ano. Além dela, também foi presa sua empregada doméstica, Maria Luiza Borges do Carmo, que teria sido pressionada pela patroa para contratar dois matadores para executarem o advogado.

"Desde o início da investigação, a própria família e colegas de trabalho do advogado acreditaram que tinha a participação da ex-mulher. Ele mesmo teria relatado, durante a vida, que ela poderia atentar contra a vida dele", disse o delegado Roberto Leal. Júlio sumiu no dia do seu aniversário e foi encontrado morto 21 dias depois (Foto: Reprodução) Segundo a polícia, Glaucia, para resolver a situação da partilha de bens do casal, teria contratado dois homens para matar o advogado. Cada um deles recebeu R$ 2 mil - os criminosos ainda não foram localizados pela polícia.

No dia em que sumiu, Júlio foi à casa de Glaucia para comemorar o aniversário do filho caçula do casal, de 11 anos. Também era aniversário dele. Um porteiro que trabalhava no dia do sumiço foi ouvido e relatou que o advogado chegou ao apartamento, mas não foi embora.

"Por conta das suspeitas levantadas, começamos a ouvir pessoas próximas a Glaucia. O porteiro dela, por exemplo, disse que viu o advogado entrando no prédio, mas não viu saindo. Posteriormente, ela deu diversas declarações contraditórias e, em uma delas, afirmou que não tinha empregada. Mas todas as outras testemunhas diziam que o casal tinha", explicou o delegado.

Empregada admite participação Em depoimento à polícia, a empregada doméstica confirmou que contratou os executores, mas negou que tenha recebido recompensa em dinheiro para participar do crime. Segundo Maria Luíza, ela cedeu à pressão de Glaucia por medo. "Ela disse que foi ameaçada de morte para contratar os homens", explica o delegado.

As prisões contaram com o apoio de equipes da 3ª Coorpin/Santo Amaro e da Polícia Federal (PF). Para isso, foi montada uma operação para cumprir mandado de prisão preventiva e de busca e apreensão. As mulheres devem ser encaminhadas ao sistema prisional, mas a data ainda não foi informada. Empregada doméstica da ex-mulher também foi presa (Foto: Aldo Matos/Acorda Cidade) Má fama De acordo com o delegado, Glaucia já é figura conhecida em Feira de Santana, por ter se envolvido em outros casos policiais. "Ela é envolvida em queixa de ameaça e tem problemas com professoras de escola do filho dela", disse Leal.

Além disso, a ex-mulher do advogado ficou conhecida como "falsa juíza" em maio de 2018. Ela se aposentou em agosto de 2014 mas, durante a paralisação dos caminhoneiros, que causou um caos no país e fez com que a população disputasse o que sobrou de gasolina nos postos de combustíveis, Glaucia tentou passar na frente de outras pessoas que estavam em uma fila de um estabelecimento de Feira de Santana, se passando por juíza.

Relembre o caso O corpo do advogado Júlio Zacarias Ferraz foi encontrado na localidade de Oliveira dos Campinhos, em Santo Amaro, no Recôncavo da Bahia, sem roupas, com as mãos amarradas e com duas perfurações de tiros, no dia 5 de fevereiro deste ano, 21 dias após ser dado como desaparecido.

A Polícia Civil informou que o corpo do advogado estava no Instituto Médico Legal (IML) de Santo Amaro desde o dia seguinte ao desaparecimento, mas somente foi reconhecido dias depois, após ser localizado pela família. 

Júlio foi enterrado na cidade de Vitória da Conquista, no Sudoeste baiano, onde os parentes dele moram.