Família soube de morte de vítima de ataque em Pernambués após receber vídeo

'As pessoas começaram a compartilhar e acabou chegando até nós', relata amiga

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  • Bruno Wendel

Publicado em 12 de abril de 2021 às 15:49

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

As balas que atravessaram paredes, portas e janelas das casas do bairro de Pernambués na noite deste domingo (11), também mataram duas pessoas e deixaram pelo menos outras seis feridas na Rua Nova das Flores, em Pernambués. Cerca de 40 homens, todos armados de fuzis, escopetas e pistolas, promoveram uma noite de terror e atiram contra um grupo de pessoas que estavam no entorno de um bar.  Entre os mortos está a catadora de material reciclável Márcia de Jesus, 42 anos. “Estamos todos abalados. Ficamos sabendo de tudo através de um vídeo que mostra a execução dela. As pessoas começaram a compartilhar e acabou chegando até nós”, contou uma amiga da família da vítima, na manhã desta segunda-feira (12), no Instituto Médico Legal (IML) Nina Rodrigues. Ela acompanhava a irmã da vítima, que preferiu não falar sobre o assunto. 

Vídeos do ataque foram feitos pelos próprios criminosos e espalhados nos grupos de WhatsApp. Um desses arquivos chegou até a família da catadora. “Aquilo foi muito chocante para a irmã dela. O mesmo cara que atira na cabeça, é o mesmo que filma. Isso é muito sangre frio”, declarou a amiga da família. Márcia era mãe de quatro filhos, que vivem sob os cuidados dessa amiga. “Passei a cuidar deles, porque ela não tinha condições alguma. Ela tinha uma vida muito sofrida”, declarou. A segunda vítima assassinada é um motorista de aplicativo de prenome Francklin, que morava na rua onde ocorreu o crime. Até o início desta tarde, os parentes não tinham ido ao IML para reconhecimento e liberação do corpo.

De acordo com os moradores da região onde tudo aconteceu, o tráfico de drogas na Rua Nova das Flores é controlado pela facção criminosa Bonde do Maluco (BDM), que vem sofrendo ataques dos rivais denominados de Comando da Paz (CP), que domina uma outra localidade do bairro. A ação, segundo conta quem mora por lá, foi comandada por um traficante identificado de Natan. Atualmente, a CP está fortalecida por se tornar célula - uma espécie de filiada, representante local - do Comando Vermelho (CV), uma das maiores organizações criminosas do país.  Responsável pela investigação do ataque, a Polícia Civil, a 2ª Delegacia de Homicídios (DH/Central) informou que uma apuração preliminar dos fatos indica que alguns criminosos chegaram ao bairro em dois veículos, e outros chegaram a pé, e começaram a atirar contra as vítimas, que estavam em frente a um bar. Pontuou ainda que outras pessoas que apenas estavam de passagem pelo local também foram atingidas. A placa e o modelo dos carros ainda estão sob investigação. 

Já a Polícia Militar, acionada para realizar os primeiros procedimentos, informou que oito pessoas foram baleadas, sendo que duas morreram. “Na noite de domingo (11), a 1ª Companhia Independente da PM foi acionada com a informação de que homens armados haviam efetuado disparos de arma de fogo contra um grupo de pessoas na Rua Nova das Flores. No total, oito pessoas ficaram feridas e duas delas não resistiram no local, sendo um homem e uma mulher”,  explicou por meio de nota. A PM informa ainda que os feridos foram levados para o Hospital Geral do Estado (HGE).  Rua onde ocorreu o ataque (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Ataque O CORREIO voltou ao local do crime na manhã desta segunda (12), mas poucas pessoas aceitaram falar sobre o assunto. Com medo de represália, um rapaz aceitou relatar o que aconteceu, com a condição de não ter sua identidade exposta. Ele conta que era por volta das 19h quando pouco mais de 20 pessoas bebiam na porta de um bar.

“O pessoal aqui sempre fez isso, era nosso point de diversão. As pessoas ficavam aqui sem problema algum, todo mundo que estava na hora estava só se divertindo. Tinha pais de família. O que aconteceu ontem jamais vou esquecer, foi terrível”, relatou.

O grupo contava com aproximadamente 40 bandidos, que usavam armas como fuzis e metralhadoras. “Eles chegaram atirando. Não queria saber se havia inocentes ou não. Queriam matar todo mundo. Foi um pânico, as pessoas correram para todos os lados. Quem não conseguiu se esconder, foi baleado”, contou outro morador.

Os corpos de Francklin e Márcia estavam próximos. Ele foi encontrado com várias marcas de tiro pelo corpo e ela com muitos tiros na região da cabeça. “Não sei por que eles fizeram isso. Ele era um trabalhador, morador antigo daqui. Vivia catando latinhas. Os dois não faziam mal a ninguém, principalmente Franckin, que ganhava o pão rodando aplicativo”, disse o morador.  Medo Áudios compartilhados no aplicativo WhatsApp mostram o desespero dos moradores. “ Quarenta homens invadiram aqui e balearam quatro pais de família. Estamos encurralados dentro de casa. Tem muito pai de família baleado sem motivo algum”, diz um homem em uma das gravações.  Em um segundo áudio, outro homem relata como escapou de ser morto. “Os caras apontaram para mim, mas saí correndo, pulando sobre o carro, vi o corpo de Franclink. Entrei na casa da vizinha” Numa terceira gravação, um motorista pede para ninguém entrar entrra no bairro. “Ninguém entra em Pernambués, viu? Tive que sair de ré. Os caras estão tudo de fuzis, atrás da rua dos motéis. Os caras deram ordem que ninguém vai entrar. Estão de fuzil, de 12 (escopeta)”, diz.  Após o ocorrido, a Polícia Militar informou que o policiamento está reforçado no bairro de Pernambués, com o efetivo das 1ª, 23ª e 47ª CIPMs, além do Batalhão de Choque e Rondesp Central. As equipes permanecerão no local para manter a ordem e a segurança da comunidade.