Famílias desalojadas após incêndio estão hospedadas em hotel de Valéria

Defesa Civil recomendou que sejam deixadas as casas próximas à fábrica de colchões que pegou fogo

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  • Nilson Marinho

Publicado em 20 de março de 2019 às 17:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

A dona de casa Aildes Vasconcelos, 57 anos, não teve a chance de pegar nada. Saiu apenas com a roupa do corpo. Por volta das 6h30 dessa terça-feira (19), um brigadista da fábrica de colchões da Ortobom batia em sua porta avisando que a empresa, que fica a poucos metros da sua residência, já estava sendo consumida pelo fogo.

Ao longo do dia, mesmo com os esforços do Corpo de Bombeiros, o fogo consumiu 60% da fábrica que fica no bairro de Valéria, em Salvador. Na manhã desta quarta-feira (20), eles ainda trabalhavam no rescaldo das chamas. 

Aildes faz parte das 20 famílias que tiveram que deixar os seus imóveis nas ruas Eurico Temporal e Marcelino Garrido, após a orientação da Defesa Civil de Salvador (Codesal). A preocupação era com as estruturas dos imóveis e com fumaça tóxica que se espalhava por toda a vizinhança. 

Ela, na companhia de vizinhos, passou a noite no Hotel Valéria, que fica no próprio bairro, na Rua Coronel José Rodolfo Pereira de Souza. Lá, ela fez check-in por volta das 20h, ao lado de um dos dois filhos e dois netos. Antes disso, ficou hospedada na casa de uma filha, que também mora no bairro. 

Em nota, a Ortobom informou que "está prestando toda assistência necessária às famílias e funcionários" e que "23 pessoas foram direcionadas para hotéis da região até que seja autorizado pela Defesa Civil o retorno para suas casas". Defesa Civil recomendou saída de famílias nas áreas mais próximas ao incêndio (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Hotel De acordo com um funcionário do Hotel Valéria, 21 dos 24 quartos foram ocupados por famílias. Em cada quarto, estão, em média, quatro pessoas. Todas as despesas estão sendo pagas pela Ortobom. Ao todo, 20 famílias tiveram que deixar suas residências."Foi horrível porque eu tive que sair correndo porque tenho problemas de saúde. Não enxergo direito e tenho diabetes e pressão alta. Quando a fumaça começou, saímos de casa. Deixei tudo lá, não deu para pegar nada. Recebi roupas doadas pela igreja", disse a dona de casa Aildes Vasconcelos, que mora há mais de 40 anos na Rua Marcelino Garrido. Segundo Expedito Filho, engenheiro do órgão, o perímetro ainda deve ficar isolado. Isso porque, informou, pela manhã, ainda existia material inflamável dentro da empresa, o que deixa o órgão e os bombeiros em alerta. "Temos que remover os escombros para poder combater o fogo, mas só podemos depois que o material, que está dentro de um tanque, for retirado. Por enquanto, a área ficará interditada", alertou.

Quem também está hospedado no Hotel Valéria é o auxiliar de produção da Ortobom Carlos Rodrigo Souza, 33. Ele fez check-in às 17h. Passado o susto, a preocupação agora é retornar à rotina. Ele trabalha na empresa há sete anos. "Os brigadistas chegaram batendo nas portas avisando a todos sobre o fogo. Fugi em direção ao bairro da Palestina. A empresa tem nos dado apoio, é uma empresa boa e acredito que não vamos ficar sem trabalho. Estamos esperando uma posição do nosso encarregado", comentou Carlos.Antes de serem levadas até o hotel, muitas famílias foram abrigadas no Centro de Evangelização da Sagrada Família (Cesf) da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Valéria e Palestina, que fica na Rua Eurico Temporal. De acordo com uma voluntária, a jovem aprendiz da fábrica, Inara Nascimento, 20, parte das famílias receberam atenção no centro. Outras preferiram procurar ajuda na casa de familiares.Todos deixaram o espaço às 17h dessa terça-feira (19).

Prejuízos Mesmo com a orientação da Codesal de deixar os locais próximos à área afetada pelo fogo, alguns moradores estiveram na manhã desta quarta (20) em suas casas para avaliar possíveis danos. O pedreiro Edcarlos Reis dos Santos, 20, dormia ao lado da mulher, um filho e um enteado na hora que as chamas começaram a consumir a fábrica. Ele perdeu uma geladeira, fogão e armário. Algumas pessoas voltaram ao local em busca de pertences (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) "Peguei as crianças e saí correndo. Não sei como vai ser para recuperar a minha geladeira, fogão e armário que ficaram completamente destruídos. As crianças ainda estão no hotel e querem voltar para casa. Já expliquei para eles que vamos ter que mudar de endereço", disse.

A cabeleireira Edinice Pio da Sé, 49 anos, também teve que deixar o imóvel, na companhia da filha de 22 anos, assim que o incêndio começou. Sua casa está localizada na lateral da Ortobom. Ela voltou na manhã desta quarta (20) para pegar documentos.

"Um funcionário da Ortobom saiu batendo nas casas, pedindo para que todos saíssem. Corri com minha filha, só com a roupa de dormir. Um susto muito grande porque a gente via as labaredas de longe", contou. 

Um pedaço do telhado metálico da fábrica, de cerca de 1,5 m, foi parar na sala da casa dela. Com o impacto, um notebook, que estava em uma mesinha, acabou quebrando. Um tonel também foi projetado para a entrada da residência. 

Incerteza O clima entre os funcionários e trabalhadores, que eram beneficiados com a instalação da fábrica no bairro, lamentam o ocorrido. Muitos acompanham o trabalho do Corpo de Bombeiros desde o início, na manhã de terça-feira (19). De acordo com um bombeiro, a equipe trabalha no combate a três focos de fogo em locais de difícil acesso. 

O microempresário Diego da Silva, 28, é filho do dono de um estacionamento que fica ao lado da fábrica. O local abrigava 16 caminhões de empresas terceirizadas responsáveis por fazer o transporte dos colchões. "Meu pai trabalha aqui há 37 anos. Vamos esperar a empresa avaliar os danos e nos dar um posicionamento. É uma empresa responsável que empregava muitas pessoas de forma direta e indiretamente", lamentou.

Como o estacionamento está localizado bem próximo à fábrica, os caminhoneiros tiveram que tirar os veículos às pressas. O motorista José Carlos Moreira tinha três caminhões estacionados no local. Ele utilizou um deles para quebrar o muro e abrir caminho para os outros veículos. Há 20 anos, ele trabalha como terceirizado para Ortobom.

"Por volta das 6h, um colega me ligou para avisar que era para retirar meus caminhões. Tive que dar duas rés para quebrar o muro e tirar os carros. Os bombeiros não queriam deixar, mas as labaredas estavam altas", relembrou. 

Os caminhões deles estão avaliados entre R$ 80 mil e R$ 100 mil. Todos sem seguro. "Seria o maior prejuízo se os meus caminhões fossem atingidos pelas chamas", completou.

Em nota, a Ortobom disse que "a empresa gera 491 empregos diretos em Salvador e a dedicação de seus colaboradores é de grande importância e todos os postos de trabalho serão mantidos". Disse ainda que "a companhia conta com o apoio de todos os funcionários para a retomada da operação da fábrica o mais rápido possível".

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier