Fechamento de espaços agrava velha carência de locais para shows em Salvador

Clube Fantoches, Bahia Café Hall e Parque da Cidade foram alguns dos locais que fecharam as portas

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  • Monique Lobo

Publicado em 6 de junho de 2015 às 10:38

- Atualizado há um ano

Que Salvador tem poucos espaços para a realização de eventos culturais, todo mundo sabe. Essa é uma reclamações recorrente em mesa de bar, fila de bilheteria e reuniões de amigos. Mas o problema se intensificou nos últimos tempos depois que alguns dos principais endereços onde eram realizados shows e espetáculos foram fechados. Se já existia um déficit, ele se tornou ainda maior.Concha Acústica do TCA fechou em dezembro de 2013 para início das obras de requalificação.(Foto: Divulgação/Secom)Primeiro foi a Concha Acústica do Teatro Castro Alves, que fechou em dezembro de 2013 para início da primeira etapa das obras de requalificação do complexo. Em junho de 2014, o Clube Fantoches foi embargado pela Superintendência Municipal de Controle e Ordenamento do Uso do Solo (Sucom) por falta de um plano de segurança e emergência, dentre outras coisas. Depois foi a vez do Parque da Cidade trancar os portões, em novembro do mesmo ano, após ordem de serviço assinada pelo prefeito, também para requalificação. Em abril desse ano, o Bahia Café Hall encerrou suas atividades para ser reintegrado ao estado, depois de cinco anos de briga judicial com seus antigos administradores. E no mês passado, foi a vez da Arena Fonte Nova, que enfrentou obstáculos judiciais para a realização de eventos não esportivos e teve que cancelar o projeto Som na Fonte, que reuniria oito atrações de peso da música brasileira. Em janeiro, a Arena já tinha passado pelo mesmo problema, devido a uma liminar que impedia a realização de shows até que fossem adotadas providências de isolamento acústico. Concha Acústica deve reabrir em agosto deste ano.(Foto: Divulgação/Secom)Queixas“Sempre foi difícil, mas esse é o pior momento pelo qual estamos passando. Em 31 anos de produção, nunca passei por coisa igual. Porque, coincidentemente, a Concha, um dos espaços principais da cidade, entrou em reforma; o Bahia Café Hall, que supria uma demanda, fechou; a outra opção que era o Clube Fantoches está com problemas... A gente hoje só tem teatro, mas eles não têm espaço para grandes shows e já têm sua própria demanda”, explica a produtora Irá Carvalho, da Íris Produção. Ela não está sozinha no coro dos insatisfeitos. Dalmo Peres, diretor da produtora Caderno 2, também lamenta a carência de locais para eventos culturais. “Eu acho que Salvador está bastante defasada nessa questão. No Nordeste, existem exemplos melhores em Recife e Fortaleza, por exemplo. E não era para ser assim, já que Salvador é uma cidade muito importante para o Nordeste”, diz.Para o maestro Ricardo Oliveira, diretor-fundador dos Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba), a deficiência fica ainda maior quando se fala do Subúrbio. “Salvador sempre esteve carente, mesmo com os espaços abertos que tem. Mas precisa de equipamentos culturais não só no Centro da cidade, como também na Suburbana, Plataforma”, avalia. Para ele, a criação desses espaços contribuiria, inclusive, com a diminuição da violência. “A falta de acesso à estética, à beleza, faz a pessoa perder suas referências”, pondera.

[[saiba_mais]]AdaptaçãoSe o cenário é negativo, é preciso buscar alternativas. Por isso, muitos produtores encontraram a saída em outros espaços. O antigo parque aquático Wet’n Wild se tornou uma das principais opções para grandes shows. Com capacidade para 20 mil pessoas, o local é hoje um dos destinos centrais das produções musicais que chegam à cidade. Outra possibilidade foi criar estruturas de shows em hotéis. O Gran Hotel Stella Maris, por exemplo, tem recebido grandes eventos. “Mas fica muito complicado para a receita cobrir o investimento. Porque tem que investir em estrutura, palco e, além disso, é preciso vender alguns pacotes de apartamentos da ala que fica próxima ao show e que não é comercializada para hóspedes”, esclarece Irá. Tem ainda quem tente achar locais similares, mas sem o mesmo suporte. O Parque Costa Azul se tornou a alternativa para o projeto Música no Parque, realizado há 12 anos no Parque da Cidade. Já Zelito Miranda levou o Forró no Parque - também realizado no local - , para o Pelourinho. “É a opção que se encaixa no momento. O nosso projeto não tem muita verba e o Parque Costa Azul já tem um palco, a Concha, vamos ter que complementar a estrutura. Se fôssemos para outro parque, por exemplo, seria complicado”, explica Dalmo, que realiza o Música no Parque.A possibilidade de reabertura de alguns dos espaços é o único alento para quem depende deles para o fomento de projetos culturais. “Em alguns casos, como o do Parque da Cidade, a gente sabe que é para o bem da população. Mas a população sofre de qualquer jeito porque essa carência aumenta. Mas, pelo menos nesse caso, o sofrimento tem data para terminar”, conclui Dalmo. 

Concha Acústica e Parque da Cidade devem reabrir em agosto

A luz no fim do túnel pode estar perto. Isso porque, tanto a Concha Acústica do TCA quanto o Parque da Cidade têm previsão de conclusão das suas reformas no segundo semestre. De acordo com Uelber Reis,  diretor de Áreas Verdes, Parques, Jardins Botânicos e Horto - órgão da Secretaria de Cidade Sustentável - a expectativa é que o Parque esteja pronto em agosto. “Vamos ter uma praça com uma das maiores pistas de skate do país, um circuito de slack line e praça de meditação. Vamos inaugurar brinquedos interativos nos parques infantis e estamos ampliando o anfiteatro”, enumera o gestor. Segundo ele, o Anfiteatro Dorival Caymmi dobrará sua capacidade de 1.500 para 3 mil pessoas.

Já o TCA encerra no segundo semestre a primeira etapa de requalificação, que compreende a modernização da Concha. De acordo com a assessoria do TCA, a reforma garantirá mais acessibilidade, novos camarins e backstage, novas estruturas de banheiros, bar, lanchonete e tecnologia de ponta nas áreas de sonorização, iluminação e cenografia. Gerido pela Secretaria de Cultura do Estado, o Bahia Café Hall, por sua vez, passa por estudos e avaliações de manutenção. A intenção do órgão é manter o caráter cultural. O diretor de Bens e Imóveis, da Secretaria da Administração do Estado da Bahia (Saeb), adianta que ainda no próximo semestre serão abertas pautas artísticas para o espaço. A Arena Fonte Nova também reabrirá as portas para espetáculos. Em nota, a arena multiuso garantiu que está autorizada a realizar eventos não esportivos, depois de conquistar uma decisão judicial com efeito suspensivo, concedida em 11 de maio pela desembargadora Dinalva Laranjeira Pimentel, da 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Bahia.

Orquestra Castro Alves inicia nova temporada do Música no ParqueHoje, às 17h, o projeto Música no Parque inicia nova temporada com concerto da Orquestra Castro Alves (OCA), segunda formação do Núcleo de Gestão e Formação do Neojiba, que realiza um concerto em homenagem ao Dia Mundial do Meio Ambiente. “O fato de ser em um parque já é muito representativo. A possibilidade de revigorar o espaço através da música é a grande homenagem. É um espaço aberto, verde, que será utilizado para o fomento da arte e do próprio parque, essa é a forma de celebrar o meio ambiente”, explica o maestro Ricardo Castro, que rege a orquestra. Formada por 80 bolsistas em estágio preliminar de capacitação, a orquestra apresenta, entre outros temas, a estreia de uma obra de Jamberê, compositor da Neojiba. Tem ainda a presença do primeiro trompetista da Orquestra Juvenil da Bahia, Helder Passinho Jr., como solista convidado.

O Parque Costa Azul vai sediar quatro apresentações do projeto: hoje e nos dias 13/6, 4/7 e 11/7. A nova temporada traz ainda outras novidades. A primeira é uma parceria com a Polícia Militar através do projeto Caravana Interativa, da 39ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM). A ação vai arrecadar donativos para comunidades carentes, vítimas das chuvas. “Vamos recolher alimentos não perecíveis, roupas, brinquedos. Enfim, todos os produtos que as pessoas possam dar uma nova utilidade. Essa parceria com a Polícia Militar é muito importante, porque além do contingente que eles vão disponibilizar para fazer a segurança do evento, vamos juntos ajudar outras pessoas”, revela Dalmo. O projeto também conta com uma feira de artesanato em parceria com a Associação de Artesãos da Bahia. Estandes vão ser montados para que os artesãos locais exponham e vendam seus trabalhos. Como em todas as edições, o  Música no Parque tem entrada gratuita. O projeto tem patrocínio da Oi e governo do estado, via Fazcultura.

MÚSICA NO PARQUEAtração  Orquestra Castro Alves Local Parque Costa Azul (Rua Adelaide Costa, s/n, Costa Azul).Dia  Hoje, às 17h. Entrada  Gratuito