Feche as pernas, se sentar ao meu lado

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 10 de dezembro de 2018 às 10:43

- Atualizado há um ano

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Aconteceu de novo e toda vez eu tenho vontade de perguntar "tá parindo?" ou "tá borrado"?" ou "tá com alguma inflamação nos testículos?", mas acabo sendo mais infantil ainda. A verdade é que homem com as pernas arreganhadas, sentado ao meu lado, desperta a minha porção menos polida e acabo fazendo briguinha igual a que eu fazia com minha irmã, no banco de trás do carro, quando éramos crianças. Desta vez, na espera da clínica, o treino forçado foi do abdutor da coxa direita. Explico.

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Não me julgue (ou julgue e dane-se), mas, nessas situações, eu abro as minhas pernas também e empurro com a lateral do joelho até o cabra devolver os centímetros que me cabem, por fazerem parte da minha poltrona seja de avião, busão, metrô ou sala de espera. Mesmo movimento daquele aparelho de academia e a carga depende da resistência do babaca espalhado.

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No começo, o contato é sutil, apenas "dando a dica" de que aquilo não tá legal. Mas a coisa pode piorar. Já aconteceu de eu abrir tanto as pernas que acabei invadindo o espaço do outro, vencendo a disputinha constrangedora. Pelo elemento surpresa, claro. Deixei assim mesmo porque meu humor não estava dos melhores. Ele que se encolhesse, pelo menos uma vez. Fato é que, seja qual for a situação, não mudo de lugar nem a pau.

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Eu queria saber que diabo de mania é essa e já adianto uma regra infalível: quanto mais mal educado, chucro e desinteressante é o homem, mais ele precisa abrir as pernas na hora de sentar. Não sei qual mensagem querem transmitir, mas imagino que seja algo do tipo "o que tenho entre as pernas é tão imenso que precisa de muito espaço". O que torna tudo ainda mais patético. Considerando que o que pode ficar entre as pernas é o saco escrotal (e não o pênis, que eu saiba), outra coisa que tenho vontade de perguntar é "a papeira (ou caxumba, como queira) foi lá pra baixo?".

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Por antagonismo, já simpatizo de cara com homem que cruza as pernas. Parece que nem dói, inclusive. Acho chique, finérrimo, outro astral. Pra mim, um gesto simbólico de masculinidade mais sofisticadazinha, de que com aquele dá pra conversar. É outro nível, observe, e eu sou capaz de jurar que todos os homens que acho interessantes sabem, minimamente, encostar um joelhinho no outro, sem muita dificuldade.

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"Ai que assunto banal", você pode estar pensando. "Apenas um detalhe". Não é, nunca foi nem nunca será. Além do incômodo de sentar ao lado desses seres espaçosos e mal educados (e aí estão no mesmo nível da galera que ainda não descobriu fones de ouvido e impõe a todo mundo o próprio desgosto musical), observe que postura corporal é linguagem. Há vasta bibliografia, há interpretações aos milhares.

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A forma que nos movimentamos no mundo diz mais do que gostaríamos, mais do que falam as nossas palavras. E, quer saber? Eu vou arriscar. Além do "minha mala é grande", o que esses caras nos dizem, com suas pernas arreganhadas, é "mulher deve se encolher diante de macho". Quer ver que faz sentido? Repare como todos se organizam quando é um outro homem sentado ao lado.