Feira abastecida: produtos para São Joaquim chegam pelo ferry-boat

O transporte alternativo tem reflexo do preço: alguns produtos subiram de ontem para hoje cerca de 50%

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  • Rafaela Fleur

Publicado em 26 de maio de 2018 às 13:31

- Atualizado há um ano

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Com a dispensa vazia, João Carlos, 46, foi ao supermercado. Os preços altos, no entanto, levaram o técnico de telecomunicação a desistir das compras. Em busca de mercadorias mais em conta e com medo de ficar sem comida em casa por conta da greve doa caminhoneiros, decidiu ir à feira de São Joaquim , na manhã chuvas deste sábado (26). A decisão foi acertada. "Encontrei tudo o que queria, tá um pouco mais caro, mas o preço tá bom", declarou.

Assim como João Carlos, quem foi à feira de Sao Joaquim hoje  encontrou mercadorias. Segundo os comerciantes, o reabastecimento tem sido feito através de carros, que trazem produtos do interior, e ferry boats de cidades como Santo Amaro e São Francisco do Conde. O transporte alternativo tem reflexo do preço: alguns produtos subiram de ontem para hoje cerca de 50%

"Recebi mercadoria ontem e hoje,  a galera está vindo comprar, o movimento não tá tão forte como costuma ser, mas tá indo", relatou o vendedor de hortaliças Jailton Ferreira, 43, conhecido como Jota.    Marilvado tenta manter a vendas na feira de São Joaquim Foto: Rafaela Fleur/CORREIO O comerciante Marivaldo dos Santos, 47, também recebeu produtos hoje. "Ontem não tinha pimentão, hoje já tem. Chegou de ferry, cheguei aqui 3h pra poder pegar", comentou ele, que trabalha na feira há 39 anos. 

Apesar disso, o clima em São Joaquim é de preocupação. "Se a greve continuar vai acabar tudo, não vai ter carro pra trazer nada do interior, não vai ter caminhão, não vai ter mercadoria. Tá piorando, tá ficando mais caro", observa Jailton, que subiu o preço do alface de R$ 2 para R$ 3.

Gleison Campos, 39, também confessa estar preocupado. Ele, que trabalha há mais de 20 anos na feira, não recebe produtos desde a última quarta (23). "Nunca vi nada parecido, meus produtos estão terminando, não temos mais material e as vendas estão caindo. Se continuar assim vamos ficar todos com fome", desabafa ele, que comercializa bebidas.

Há quem discorde. A arquiteta Paula Campos, 24, apesar de preocupada, acredita que o pânico popular tem sido exagerado. "Muita gente está surtando sem necessidade, querendo comprar tudo de vez achando que vão passar sem fome, esvaziando os mercados e deixando os outros sem nada. Não precisa disso. A situação é séria mas as pessoas estão exagerando", comentou. 

ACOMPANHE EM TEMPO REAL A SITUAÇÃO DA GREVE DOS CAMINHONEIROS

Apoio a greve  Apesar da preocupação e dos medos, um ponto comum entre os entrevistados foi o apoio ao protesto dos caminhoneiros. "Tem que parar tudo mesmo, eles estão certos, não dá pra ficar do jeito que está. Alguém tinha que fazer algo, estou com eles", comentou o técnico de telecomunicação Manuelito Soares, que saiu de Castelo Branco para fazer compras na feira. 

O jornalista Carlos Alberto, 49, concorda. "Os produtos aqui estão um pouco mais caros, estou ficando sem carro desde quinta, mas acho o protesto válido. É um movimento forte, apoio e acho que todos deveriam fazer o mesmo".

Já o comerciante Jailton confessa que só não para as atividades por conta das dívidas. "Por mim tinha que ter greve geral, todo mundo parado sem trabalhar. Eu só não tenho coragem por causa das dívidas, mas vou acabar fazendo isso se a greve continuar", garantiu.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier