Feira da Sé reunirá 80 artesãos de várias regiões do estado

Evento que estreia no dia 15 de setembro também vai proporcionar oficinas e interações entre público e artistas

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  • Vanessa Brunt

Publicado em 28 de agosto de 2018 às 20:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr./CORREIO

Desde criança, Bira Portugal corria pelas praias de Jaguaripe, em quase todas as manhãs, para jogar o seu barquinho de madeira na água. A diversão principal do menino virou o trabalho. Hoje, com 37 anos, ele cria, à mão, detalhe por detalhe dos seus barcos de madeira – de diversos tamanhos. "Foram anos e anos praticando e criando novas formas de fazer", conta. De todas as maquetes de Bira, as de saveiro são as favoritas do público no interior da Bahia, onde é conhecido pelas suas obras e solicitado para dar oficinas. Agora, Bira vem mostrar a sua arte na capital, assim como tantos artesãos e artistas do estado, que estão tendo a oportunidade pela primeira vez graças à Feira da Sé, marcada para acontecer no dia 15 de setembro, das 10h às 18h, na Praça da Sé, no Centro Histórico. Para ele, a feira, acima de tudo, vai ser a oportunidade de tirar as crianças das frentes das telas de celulares e computadores.“É a oportunidade de mostrar esse tipo de brinquedo e de diversão para esses pequenos que, hoje em dia, muitas vezes nem sabem direito o que é usar a criatividade em algo assim”, pontua o artesão Bira Portugal.Ainda que os novos tempos tenham gerado tais discussões sobre o quanto as crianças estão ficando muito entre quatro paredes, as feiras de artesanato têm ocupado o quarto lugar na preferência dos brasileiros quando o assunto é a atividade mais consumida fora de casa. Os dados são da pesquisa Cultura nas Capitais, lançada recentemente pelo JLeiva Cultura & Esporte em parceria com o Datafolha. Dessa vez, artesanato, moda, gastronomia, antiguidade, música e atrações infantis são somente alguns dos outros motes apresentados na nova feira, que vai acontecer mensalmente em Salvador, com 80 expositores.  A diretora executiva do Instituto ACM, Claudia Vaz, fez uma palestra na tarde desta terça-feira (28), no Teatro Sesc Pelourinho, para discutir sobre gestão de negócios com todos os envolvidos. Ela afirmou que o grande diferencial do projeto é a interatividade. “Temos a missão de valorizar a economia local, trazer lazer e entretenimento e dinamizar um espaço público tão importante como o Centro. Mas é, principalmente, sobre a troca. É sobre você chegar ali e lembrar que cada uma dessas pessoas tem uma história que pode ser incrível, assim como cada produto”, pontua. “Para além do econômico, a feira é sobre fazer laços humanos”, exclama. Bira Portugal cria réplicas de veleiros (Foto: Betto Jr./CORREIO) INTERATIVIDADE Todos os expositores vão guiar o público na criação dos seus próprios produtos ou, ao menos, vão explicar sobre o processo de produção daquilo que estão apresentando. Até as barracas do local foram pensadas de uma maneira mais aberta, para que os clientes possam interagir com mais facilidade. A Cooperativa Trançado de Maria é uma das que vai levar uma oficina completa para a feira. Com produção de bolsas de formatos inusitados, as senhoras, acima de 50 anos, vão ensinar tecelagem.“Elas são de Praia do Forte e nunca tiveram a oportunidade de sair de lá. Agora, com a feira, elas vão poder, além de tudo, passar conhecimento para o público”, pondera Cristiane Martinelli, representante da Cooperativa Trançado de Maria. “Elas fazem um trabalho pesado, desde a parte de buscar Piaçava na mata. São mulheres de muita história”, conta.No stand da Cooperativa, quem quiser fazer renda bordada vai poder aprender. Serão criados, ao vivo, artigos como jogo americano, centro de mesa e tapete durante o evento que conta com apoio do Sebrae, da Prefeitura Municipal de Salvador, do Sesc, Senac, da Rede Bahia e do Delta Parking.PARA RECICLAR DE CASAPara Carol Dantas, fotógrafa soteropolitana, a iniciativa vai ser o início de um novo movimento na cidade. “Na feira, temos muitos projetos de reciclagens, por exemplo. Isso pode ser o início de uma conscientização popular, já que o povo vai estar não somente comprando ou passeando, mas também aprendendo no evento”, disse, relembrando do trabalho de Samuel Cruz, colega que vai levar esculturas e outros produtos feitos através do reaproveitamento de jornais. Os vestidos de tampinha feitos pelo ex-pedreiro e estilista Joel Souza também estarão expostos, servindo de suporte para a fala de Carol.A gastronomia também está dentro do processo interativo. “Vamos ter até oficina de caipirinhas”, conta Claudia Vaz. “As comidas são artesanais também. Nada de muita química e nem de grandes máquinas envolvidas”, diz, ilustrando o caso de Rita Brandão, que vai levar cocadas, chocolates e sequilhos feitos à mão na sua fábrica, intitulada de Marrom Marfim.A fábrica de Rita, inclusive, fica ali, no próprio Pelourinho. Assim como Mary, conhecida pelo ‘Acarajé da Mary’ e Josemir Santos, que produz colares na região, ela mostra ansiedade para misturar seus feitos com o de novos colegas. “Vai ter mais gente agora. Sem dúvidas, vai ser um projeto que vai unir muitos turistas, principalmente por ser algo fixo e que pretende ser semanal depois. Nossos trabalhos vão ser mais vistos, reconhecidos... É algo muito bonito”, diz a moça, que fez a inscrição para a feira às pressas.As vagas para expositores já estão fechadas, mas ainda dá tempo para que os interessados em apresentar arte de rua (ou no palco principal) façam a sua inscrição. Quem desejar produzir algum espetáculo musical pelas ruas da feira, por exemplo, pode enviar um e-mail para: [email protected].

* Com supervisão da editora Ana Cristina Pereira