Fernando Vita lança romance recheado de humor e erotismo

Escritor narra a vida de uma médica que reinventa a sua rotina sexual

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  • Roberto Midlej

Publicado em 2 de novembro de 2021 às 06:00

- Atualizado há 10 meses

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Muitos escritores poderiam se ofender se, numa resenha literária, seu trabalho fosse classificado com "descompromissado". Mas, para o baiano Fernando Vita, que é também jornalista, o adjetivo não lhe causa nenhuma rejeição. Ao contrário: logo no início da entrevista para falar sobre seu novo romance, ele mesmo trata de definir: "É uma leitura bem descompromissadinha".

É assim, sem falsos pudores, que ele se refere a Desirée, a Sexóloga Que Não Sabia Amar – Uma Hilariante História de Rufiões, Garanhões, Putanheiros, Sacanas e Mentirosos de Modo Geral. A aparente pompa do título passa longe da prosa de Vita, que é bem coloquial. Tanto que ele classifica sua obra como "romance de entretenimento", gênero literário referente a autores que não se preocupam muito com a forma, mas priorizam o conteúdo e o enredo.

A protagonista do livro, Desirée, muito "bem nascida", estudou nos melhores colégios da "Cidade da Bahia" (como Salvador era chamada pelo povo do interior) e é formada em medicina. Casou com um homem igualmente bem nascido e muito bonito. Ele, geógrafo, recebe a proposta de cuidar de uma mina de manganês na fictícia Todavia, cidade onde já se passavam os três livros mais recentes de Vita.

Desirée então muda-se com o marido e monta um consultório onde atenderá como clínica, com especialização em psicologia e sexologia. Ou seja, estava pronta para atender toda a demanda de uma freguesia numa pequena cidade de não mais que dez mil habitantes.   

Descobertas sexuais O problema é que a tal sexóloga vai descobrir que não sabe nada de sexo e, com os clientes, vai aprender muita coisa na teoria. E também na prática."Ela tem contato com os clientes e se dá conta de que não sabe nada sobre sexo. O que ela sabia era muito acadêmico. Ela descobre coisas que jamais imaginou nesse departamento. E se transformar como mulher e médica", diz o autor.E o que será do casamento dela? "Não vou 'spoilar'", brinca Vita.

A história se passa nos anos 1960, um período de muitas novidades, inclusive em relação a libertação sexual e de costumes. "Houve quebra de paradigmas nos costumes e nos moralismos. E teve o 1968, na França. A partir dali, o mundo deixou de ser a mesma coisa. A década teve também os Beatles, a minissaia...", observa o escritor.

Vita brinca com o teor picante do livro e faz uma analogia com outras obras: "Um amigo me perguntou se Desirée era um novo Kama Sutra [livro indiano sobre comportamento sexual, especialmente sobre posições sexuais]. Digo que é A Casa dos Budas Ditosos [livro de João Ubaldo Ribeiro] dos pobres, o Kama Sutra dos Desvalidos e O Analista de Bagé [de Luis Fernando Verissimo] dos coitadinhos".

Poeta Cachaceiro Alguns tipos criados por Vita parecem ter saído de um romance de Jorge Amado ou de um filme de Fellini. Entre os personagens favoritos do autor de Desirée, está o poeta parnasiano Correa de Melo, presente em todos os livros dele. É um grande tomador de cachaça e tem uma vida sexual "excêntrica", diz o autor. Se em outros romances, Correa de Melo se relacionava com prostitutas, agora ele é um poeta apaixonado.

Entre as personagens femininas, está a prostituta Maria 21. Como outros que estão em Desirée, inspira-se num personagem real."Ela ganhou esse nome porque num fim de semana, do sábado de manhã até o domingo à noite, ela atendeu 20 clientes e todos estavam satisfeitos. Quando estava terminando o domingo, ela deixou um esperando porque ia à missa. Foi, voltou e despachou o 21º"."Escrevo com foco em levar o entretenimento para o leitor no sentido mais lato da palavra 'entretenimento', desde meu primeiro romance. Não que meus livros não tenham umas pitadas sociológicas ou romanescas. Tem sim, mas no conjunto são romances de entretenimento".