Festa de Santa Bárbara leva multidão ao Pelourinho; veja galeria

Teve procissão, missa, caruru e muitos fiéis com histórias de bênçãos alcançadas

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  • Nilson Marinho

Publicado em 4 de dezembro de 2017 às 17:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Não é preciso ver para crer. Mas, nessas horas, o mais importante é estar frente a frente com ela, ainda mais quando a graça é alcançada. Num mar de fiéis vestidos de branco e vermelho, o que os mais fervorosos querem é agradecer aos pés de Santa Bárbara, nem que seja preciso se esforçar para abrir caminho - o que foi quase impossível com a quantidade de pessoas que se aglomeraram na manhã desta segunda-feira (4) no Largo do Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, para a missa campal em homenagem à santa.

E quem conseguiu chegar lá, não arredou o pé, mesmo com o calor forte e o empura-empura dos fiéis mais impacientes. A bibliotecária Glicéria Bárbara, 56 anos, ocupava os primeiros lugares, a pouco menos de 1,5 metro da imagem. Queria olhar, agradecer e tocar na santa, que, segundo ela, foi a responsável por livrá-la da morte após sofrer um atropelamento, fraturar oito costelas e ficar por três dias inconsciente no hospital.

O milagre, de acordo com ela, veio no terceiro dia, quando acordou e se deu conta de que estava viva. "Tive a sorte de nascer no dia dela (Santa Bárbara). Foi ela também que me ajudou a estar aqui. Claro, primeiro Deus, segundo Santa Bárbara. Foi como Jesus que ressuscitou no terceiro dia", compara Glicéria. 

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Em sinal de agradecimento por duas singelas graças, a dona de casa Maria de Lourdes Santos, 57, resolveu aparecer de pés descalços. As tais bênçãos são a recuperação de uma pequena torção no pé direito e a troca de turno do seu filho que, a propósito, é bombeiro - a santa é padroeira da corporação. "Ele trabalhava à noite e eu pedia a Deus para que mudassem o expediente. Deus e Santa Bárbara me ouviram e meu filho passou a trabalhar durante o dia", conta a senhorinha. 

Procissão O mesmo mar de gente bicolor - boa parte formada por fiéis candomblecistas, que foram reverenciar Iansã, no sincretismo - só desocupou o largo quando a imagem da santa deixou a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Atrás dela, a multidão seguiu pelas ruas do Pelourinho em direção à primeira parada: a sede do Corpo de Bombeiros, na Barroquinha.

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Até lá, é preciso bem mais que fé. É preciso, sobretudo, ter fôlego para completar o trajeto sob o sol a pino de quase 30°C. No meio do caminho, além de se refrescar com a água vendida pelos ambulantes, os mais sortudos petiscaram acarajés distribuídos por aqueles que se sentem na obrigação de retribuir uma conquista.

É o caso da assistente comercial Maiara Lopes, 32, que, após subir de cargo na empresa em que trabalha, passou a distribuir o quitute durante o cortejo religioso. "Fiz 300 acarajés para distribuir aqui. Há dois anos eu faço isso. No primeiro foi para agradecer pelo cargo; neste, não foi por nenhum pedido", explica Maiara. No calor de 30ºC, o jeito foi recorrer ao abanador da santa (Foto: Marina Silva/CORREIO)  Caruru Mas o acarajé é apenas para enganar o estômago porque é na próxima parada que é servido o prato principal da festa: o caruru distribuído pelo Corpo de Bombeiros Militar. Neste ano, de acordo com a assessoria de comunicação da corporação, foram usados em torno de 10 mil quiabos para o preparo de cerca de mil pratos. 

"Santa Bárbara é a protetora dos bombeiros e esse caruru é tradicional. Viemos com toda a força para recuperar essa tradição das festas populares da Bahia", explica o tenente coronel Adson Marquezine. Essa é a segunda edição do caruru, depois da sede dos bombeiros ficar fechada por cinco anos para reforma. 

Em um dos primeiros lugares de uma fila de quase dobrar quarteirão estava a dona de casa Irene Guimarães, 64, grata pelo almoço e pela casa nova que ganhou. "A santa me deu uma casa nova e ainda me ajudou a fazer uma cobertura linda. Tive que brigar muito com a minha família para conquistar", revela.  Baiana distribuía acarajés a quem participava de celebração (Foto: Marina Silva/CORREIO) Última parada A última parada do cortejo é no Mercado de Santa Bárbara na Baixa dos Sapateiros. Nessa altura da procissão, cansados, os fiéis que carregam o andor com a imagem da santa desaceleram o passo. Momento ideal para o seguidores se aproximarem da imagem, principalmente os enfermos e as crianças carregadas pelos pais.

Posicionada na esquina da Ladeira de Santana, em Nazaré, estava a aposentada Maria de Loudes, 74, à espera do cortejo. Com problemas de locomoção, acabou ficando para trás e, por alguns minutos, pensou em desistir de chegar até a santa.

Comovidos, alguns seguidores abriram caminho e pegaram a aposentada pelo braço, fazendo com que ela tocasse, mesmo que por alguns segundos, as flores que adornavam o andor. Um grande feito para alguém que tem fé.

"Estou muito feliz por isso, meu filho. Ela cuidou da minha filha que tem problemas mentais", resumiu Maria de Lourdes, que acabou desaparecendo no meio da multidão antes do término da caminhada, já por volta das 13h30.